Rio: vereadores assinam CPI do 'caso Bethlem' e vão ao MPF
Os vereadores do Rio de Janeiro aumentaram a pressão nesta terça-feira para que a Câmara Municipal instale uma CPI e investigue a gestão do ex-secretário do governo Eduardo Paes (PMDB) e deputado federal Rodrigo Bethlem (PMDB). Até o momento, nove parlamentares assinaram requerimento para abertura da comissão.
Paralelamente, eles irão nesta quarta-feira ao Ministério Público Federal (MPF) protocolar uma representação com pedido de abertura imediata de investigação. O grupo quer que a devassa abranja as assinaturas de contratos feitas pelo peemedebista nas três secretarias que comandou: Ordem Pública, Assistência Social (atualmente Desenvolvimento Social) e de Governo. Todas elas no governo Paes. Para conseguir aprovar a CPI, são necessárias 16 assinaturas.
Bethlem é suspeito de ter recebido verba de entidades quando ocupou a pasta do Desenvolvimento Social, em 2011. Ele também enfrenta a acusação de possuir uma conta na Suíça não declarada à Justiça Eleitoral. Todas as denúncias surgiram de várias gravações de conversas do deputado feitas por sua ex-mulher, Vanessa Felippe.
Na retomada do período legislativo, na tarde desta terça-feira, o clima na Câmara foi tenso e de muita negociação de bastidores. O pai de Vanessa, que é atual presidente da Casa, vereador Jorge Felippe (PMDB), não apareceu para comandar a sessão, alegando “questões pessoais” para se ausentar.
Do lado do governo, o vereador Professor Uoston (PMDB) foi um dos poucos a se posicionar e alegou, para tentar derrubar o pedido de CPI, que já foi elaborado um documento na semana passada, assinado por 22 vereadores, cobrando do Tribunal de Contas do Município (TCM) e da prefeitura informações sobre as investigações. O documento, encaminhado pelo próprio presidente Jorge Felippe, pede a “instalação de uma auditoria para apurar os contratos assinados e geridos pelo deputado federal Rodrigo Bethlem”.
‘Faltou fiscalização’
O argumento não convenceu os vereadores, que tentam, inclusive, usar esse artifício contra os governistas. “Por coerência, já que eles assinaram esse documento, eles também devem assinar o pedido de CPI. Há contratos de R$ 200 milhões que precisam ser investigados”, argumentou o vereador Reimont (PT).
Enquanto o número de assinaturas para a comissão não é alcançado, os vereadores vão ao MPF entregar a representação com pedido de investigação. “Faltou fiscalização. Vamos ao MPF mostrar a importância de se ter uma investigação”, declarou Paulo Pinheiro (Psol).
Também integrante do grupo pró-CPI, o vereador Eliomar Coelho (PSol) anunciou ainda que o grupo vai recorrer também à Polícia Federal, para que seja investigada a conta da na Suíça. Nas gravações divulgadas por Vanessa Felippe à revista Época, o próprio Bethlem confirma a abertura da conta. “Eu vejo aí um crime de responsabilidade. Vamos até o fim”, atacou Eliomar.
Em entrevista à imprensa, convocada após ter a certeza de que a sessão se encerraria sem o número mínimo de assinaturas, o grupo ainda lembrou que as empresas doadoras para a campanha de Rodrigo Bethlem a deputado federal nas eleições de 2010 também devem ser investigadas. Na semana passada, depois que o escândalo veio à tona, o parlamentar retirou sua candidatura à reeleição.
Para Renato Cinco (PSol), enquanto esteve no governo Paes, Bethlem foi o secretário mais importante do governo municipal, daí a importância das investigações. E ainda alertou ao Legislativo para uma espécie de mea culpa. “Desde sempre só vejo esta Casa se recusar a seu papel de fiscalizador. Isso fere nossa legitimidade”.
O grupo garantiu que irá procurar o presidente da Casa e pai de Vanessa Felippe, Jorge Felippe, para conversar sobre a importância da abertura da CPI. “Ele vai ser importantíssimo (para a abertura do processo de investigação)”, afirmou Reimont.
O Terra entrou em contato por celular com o líder do governo na Casa, vereador Luiz Antonio Guaraná (PMDB), para que ele respondesse às afirmações do grupo, de que está havendo manobra governista para que a CPI não seja criada, mas o vereador não retornou.