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RJ: com receio de chacota, transexual desiste de candidatura

Renata Tenório, que concorreria a uma vaga de deputada estadual pelo Rio de Janeiro, devidamente autorizada pelo TRE-RJ na cota feminina do PSB, diz que atendeu pedido da mãe e que desistirá do pleito

6 ago 2014 - 18h50
(atualizado às 19h00)
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<p>Aos 40 anos de idade, Renata Tenório preferiu seguir o conselho da mãe pela primeira vez na vida</p>
Aos 40 anos de idade, Renata Tenório preferiu seguir o conselho da mãe pela primeira vez na vida
Foto: Daniel Ramalho / Terra

Cinco dias depois de uma decisão inédita do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) permitir que a transexual Renata Guedes Neto concorresse na cota feminina do PSB a uma vaga para deputada estadual, o telefone da produtora cultural e atriz tocou na manhã desta quarta-feira. Era sua mãe, com um pedido para a filha desistir de sua candidatura à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

"Meus pais sempre foram contra essa minha candidatura", disse ela, em entrevista ao Terra, confirmando a informação de que, a exemplo do que já fez o deputado federal Rodrigo Bethlem, irá solicitar ao TRE-RJ que sua candidatura não seja mais homologada. "Ela tem muito receio de que eu vire motivo de chacota", complementou.

Aos 40 anos de idade, e há um ano filiada ao PSB, Renata Tenório, o nome que ela escolheu para a sua candidatura, preferiu seguir o conselho da mãe pela primeira vez na vida. "É um cuidado que minha família quer que eu tenha", explicou."Não quero que minha mãe passe mal com algumas notícias, não vai ser legal para a saúde dela. Minha vó não está com saúde boa. Então, prefiro esperar", afirmou, dizendo que passará os próximos dois anos estudando para tentar, com uma candidatura mais madura, uma vaga para vereadora do Rio em 2016.

"Se dentro do meu partido isso (preconceito) já acontece, imagina meus opositores", relatou ainda com exclusividade Renata. Ela contou que algumas deputadas do partido repercutiram negativamente a desistência dela após ela divulgar em sua página no Facebook. Simplesmente pelo fato de que "algumas candidatas a deputada comentaram que o partido fez tudo por mim e agora eu largo mão. Não é bem assim. É uma decisão pessoal, não tem nada a ver com o partido, do qual eu continuo filiada".

<p>"Se dentro do meu partido isso (preconceito) já acontece, imagina meus opositores", disse ela</p>
"Se dentro do meu partido isso (preconceito) já acontece, imagina meus opositores", disse ela
Foto: Daniel Ramalho / Terra

"O partido não me fez favor. O meu gênero que foi exposto mais uma vez. E eu nunca me pronunciei para isso. Eu não dependo de bater no ombro para ser eleita", completou ainda. Natural de Recife, capital pernambucana, a produtora cultural está no Rio de Janeiro há 20 anos e escolheu os socialistas justamente por sua identificação com Eduardo Campos, governador e patrono da legenda.

Mas após passar quatro anos em São Paulo, "onde me prostituí, usei drogas e fiquei quatro anos sem falar com os meus pais", ela resolveu seguir o pedido de alguém que quer preservar a imagem da filha, destaque no noticiário geral da última sexta-feira após a decisão inédita de inserir a trans na cota feminina do PSB.

"Eu nunca segui os conselhos da minha mãe. E esse é o primeiro que eu tenho que seguir. Todas as vezes que eu não segui os conselhos da minha mãe eu me ferrei", disse, citando o período difícil que passou na capital paulista. "Ela já pressentia em outras situações da minha vida. Minha mãe é uma pessoa muito experiente. Ela quer a 'síndrome da Ana Paula Arósio' para mim", brincou, sobre o fato da atriz ter optado por um período de reclusão. "Imagina, eu sofro preconceito até de gays e lésbicas, imagina o resto."

Dois anos após fazer a cirurgia de mudança de sexo, "mas sempre fui criada como menina, os meninos me tiravam para dançar", ela se orgulha do fato de que "eu não dependo de macho nenhum, são os meus pais que me ajudam". E ainda critica o fato de que Romário, candidato a senador pelo PSB, e Marina Silva, vice de Eduardo Campos na chapa socialista, sequer terem comentado a notícia na última sexta-feira. "Romário é que nem caviar, nunca vi, só ouvi falar." "Resumindo, não quero ser mais um Kléber Bam Bam, ou Diego Alemão", finalizou, sobre os ex-BBBs que tentaram se eleger a cargos públicos. "Sou mais eu."

<p>"Não quero ser mais um Kléber Bam Bam, ou Diego Alemão", resumiu, sobre os ex-BBBs que tentaram se eleger a cargos públicos. "Sou mais eu"</p>
"Não quero ser mais um Kléber Bam Bam, ou Diego Alemão", resumiu, sobre os ex-BBBs que tentaram se eleger a cargos públicos. "Sou mais eu"
Foto: Daniel Ramalho / Terra

Renata Tenório ainda não comunicou oficialmente o partido de sua desistência. "Vou falar primeiro com meu advogado", explicou. Consultado pelo Terra, o TRE-RJ disse em nota que "a cota de gênero é analisada no julgamento dos Demonstrativos de Regularidade dos Atos Partidários (DRAP), como ocorreu no dia 1ª com o PSB. Os candidatos têm o direito de desistir da candidatura e, por isso, não há, em tese, consequência deste ato na aprovação do Drap".

Desta forma, a candidatura de Renata, que ajudou o partido a cumprir a cota de 30% de mulheres na disputa por cargos, não sofre qualquer tipo de problema. O PSB-RJ também foi consultado pela reportagem e disse também em nota que "sempre deu total apoio a candidatura", e que ainda não foi comunicado sobre a desistência da transexual. E que irá consultar o diretório a fim de saber se os socialistas do Rio irão repor a vaga ou ter qualquer tipo de problema com essa desistência.

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Fonte: Terra
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