Em debate no RS, Tarso compara governos e Sartori ironiza
Os ataques, as ironias e a comparação entre governos marcaram todo o primeiro debate do segundo turno das eleições do Rio Grande do Sul, realizado na manhã desta quinta-feira. O governador Tarso Genro (PT), candidato à reeleição, manteve a estratégia adotada nos programas de TV e na Internet, de enumerar ações de seu governo e lembrar políticas desenvolvidas durante gestões em que o PMDB ou comandou ou participou de administrações do Estado. O candidato do PMDB ao governo, José Ivo Sartori, aparou os golpes com respostas mais genéricas, que apontam problemas ou afirmam ações, mas não os detalham. A estratégia vem sendo muito criticada pelos adversários, mas garantiu o passaporte do peemedebista para o segundo turno à frente do petista.
O confronto aconteceu na Rádio Gaúcha e durou uma hora e meia. Desde o começo, Tarso destacou o fato de Sartori ter sido líder do governo na Assembleia Legislativa na gestão de Antônio Britto (então PMDB, entre 1995 e 1999). Os gaúchos costumam associar a administração Britto às privatizações, a uma renegociação da dívida com a União que responde por parte do problema financeiro do Estado e à criação de um modelo caro de pedágios nas estradas. Sartori, por sua vez, lançou mão de comentários provocativos ou irônicos a respeito do comportamento do atual governador, falou que “tem gente que perdeu a eleição” e fez alusões à “falta de humildade” e à prática de “governar para um partido”.
Entre os temas discutidos, o do salário mínimo regional (que tem valor superior ao nacional) quase terminou em bate-boca. Tarso destacou que o vice de Sartori, o empresário José Paulo Cairoli (PSD), é contra o aumento dado, e perguntou se o peemedebista é contra também. “Na verdade, o governo do Estado não é indutor desse processo. Ele não é uma política pública, é uma negociação”, considerou Sartori. Em seguida, ciente de que sua afirmação havia aberto um flanco delicado, o peemedebista emendou: “nosso vice pode ter as posições que ele quiser, mas quem vai governar sou eu. Vou fazer do jeito que acho melhor". Tarso, contudo, já havia identificado a oportunidade: “temos aí uma divergência de princípio porque, para nós, o salário mínimo regional é uma política pública de desenvolvimento. Quando se aumenta a renda dos mais pobres, aumenta o consumo e o emprego. Fazemos políticas públicas para toda a sociedade”. Sartori não esperou o "ok" do mediador para a tréplica, e seguiu tentando minimizar a assertiva inicial. “Não há nenhuma divergência de fundo, nem de valor, nem de princípio. Existiram outros governadores que fizeram esse processo antes do senhor. Não é a última maravilha do mundo. Tenho certeza de que teremos um entendimento dentro do governo de continuar esse processo.”
A dívida do Estado também gerou afirmações duras. “Lá atrás, quando foi feita a negociação, foi com todos os Estados, não foi só com o RS. Era ruim para a União e também para o Estado a situação que ele vivia. Temos que trabalhar por um novo pacto federativo”, disse Sartori. “Esse acordo da dívida foi humilhante. O seu presidente e o seu governador fizeram um acordo ruinoso, que o senhor defendeu na Assembleia. Minha presidenta apresenta a solução. O senhor diz que tem a solução, quando, na verdade, o senhor patrocinou esse brutal acordo”, acusou Tarso.
Em outra questão polêmica, Tarso perguntou a Sartori qual modelo de pedágios ele defende. O peemedebista, que declarou apoio ao candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, defendeu o modelo do governo da presidente Dilma Rousseff (PT). “Aquilo que o governo federal fez é bom modelo. É adequado. Não tenho preconceito contra PPP”. Tarso, que contabiliza como "realização de governo" o fato de ter se negado a prorrogar os contratos de pedágios com as concessionárias privadas, substituindo-as por uma empresa pública e baixando as tarifas, insistiu na pergunta. Sartori afirmou que não vai reproduzir o que “foi feito lá atrás” e se comprometeu a manter o que foi “feito de bom” na atual gestão.
Mais um momento de tensão ocorreu quando o tema foi geração de emprego. Tarso lembrou a importância do Fundopem, um fundo que trata de incentivos fiscais. “O Fundopem começou no governo Simon (o senador peemedebista Pedro Simon, que foi governador entre 1987 e 1990), um dos governos do passado”, ironizou Sartori. “Nós reformamos o Fundopem, que era elitista, atrasado e segregador. Os governos do PMDB fizeram uma privatização selvagem da CRT e esquartejaram a CEEE. Pegaram o dinheiro, disseram que ia para um fundo de aposentadoria de servidores e depois botaram a mão nesses recursos”, respondeu Tarso. “Se o Tarso tivesse um pouco mais de humildade, reconheceria o que os outros fizeram. Eu vou respeitar o Tarso, porque afinal ele foi governador. Vai ser governador até o fim do ano”, provocou Sartori. “Pergunte para um jovem, um trabalhador, um prestador de serviço, o que serve um celular para ele. Até parece que ele desejaria que estivéssemos ainda no modelo antigo. Todo mundo sabe a barbaridade que era para buscar um telefone”, completou, referindo-se à privatização da CRT. “Tu não pode confundir humildade com falta de posição”, prosseguiu Tarso, já em outra pergunta. “Quando se responde com generalidades, tudo pode acontecer”.
Nas considerações finais, novo embate. “Eu represento aqui a presidenta Dilma e o presidente Lula. Eu não represento o Aécio, que nunca fez nada pelo Rio Grande”, destacou Tarso, que fez as considerações finais primeiro. Sartori, na sequência, rebateu: “vou manter tudo que está bom e não vou governar para um partido, mas para todos. Vou achar a minha posição. E quero agradecer ao PP, ao DEM, ao PRB, ao Solidariedade e ao PSDB, que se juntaram a nós”.
Na noite desta terça-feira os candidatos voltam a se enfrentar, em debate na TV Pampa. Os debates têm sido um capítulo a parte na disputa, já que Sartori confirmou participação em sete dos 13 propostos. A campanha peemedebista argumenta que a campanha do segundo turno é curta demais para tantos embates.