Evento com prefeitos tem saia justa entre Tarso e Ana Amélia
Candidatos que despontam como favoritos na disputa pelo governo gaúcho ficaram constrangidos após cruzarem caminhos em evento
Os quatro candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto na corrida pelo governo do Rio Grande do Sul tiveram nesta quarta-feira uma oportunidade de apresentar as suas propostas para lideranças regionais gaúchas. Promovido pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), o 34º Congresso dos Municípios reuniu prefeitos de todo o Estado, e propiciou um momento de constrangimento entre os dois favoritos na disputa pelo Palácio Piratini, a senadora Ana Amélia Lemos (PP) e o atual governador e candidato à reeleição, Tarso Genro (PT).
Cada candidato tinha aproximadamente uma hora para responder a perguntas formuladas previamente por uma comissão da Famurs, abordando os temas saúde, segurança pública, educação, infraestrutura e desenvolvimento. A saia justa ocorreu justamente no intervalo entre a fala de Tarso Genro e a de Ana Amélia Lemos.
Com o objetivo de evitar cruzar o caminho de seu adversário, a senadora questionou a assessores por onde o governador passaria ao deixar o palco. Entretanto, Ana Amélia acabou sendo direcionada exatamente para a rota de Tarso, e o embaraço de ambos foi visível.
Além de Tarso e Ana Amélia, também foram convidados a apresentar as suas propostas José Ivo Sartori (PMDB) e Vieira da Cunha (PDT). Em seus discursos, os candidatos buscaram mostrar a prefeitos o seu comprometimento com as principais queixas regionais, como os altos investimentos de municípios na saúde pública e no transporte escolar.
“Como senadora municipalista já dei mostras claras do meu comprometimento com os municípios. (...) Sou autora de uma emenda que está me custando um preço político muito alto. A emenda à PEC 17, que obriga todos os municípios a ter um procurador municipal, com concurso, com salário equivalente ao de um desembargador. Qual é o município aqui que pode suportar um gasto dessa natureza?”, discursou Ana Amélia Lemos, interrompida por aplausos. Questionada sobre o pagamento do piso nacional dos professores, a senadora voltou a afirmar que não poderia se comprometer e cumprir “o mesmo erro” de Tarso. “Eu jamais vou prometer o que eu não posso cumprir, jamais. O governador atual, como ministro, assinou a lei. Como candidato, se comprometeu a pagar o piso. E ao assumir o governo, não cumpriu a palavra. Eu não posso cometer esse erro.”
Candidato à reeleição, Tarso Genro citou a criação da Secretaria do Gabinete dos Prefeitos e Relações Federativas como o principal exemplo de sua colaboração para fortalecer o diálogo com os municípios gaúchos. Em relação à segurança, afirmou que o aumento do efetivo não é a única solução para o combate à criminalidade, e elencou investimentos em sistemas de videomonitoramento como medidas capazes de contribuir para a queda nos índices de violência. “Quando nós chegamos ao governo, apenas 22% dos homicídios eram esclarecidos. Hoje, chegamos a um nível de 74% de homicídios esclarecidos no Estado. Nós fizemos uma ampla reestruturação de pessoal, melhorando estrutura, salários e equipamentos”, declarou.
José Ivo Sartori, por sua vez, se apoiou em uma série de exemplos, segundo ele, bem-sucedidos de sua gestão à frente da prefeitura de Caxias do Sul, para cativar a simpatia dos prefeitos gaúchos. Em relação à educação, pregou o diálogo com o magistério gaúcho como a melhor saída para valorizar a categoria, mas não respondeu se garantiria o pagamento do piso nacional dos professores. “Relação entre professor e governo, acho que até os professores também estão esgotados. Desde 1979 que nós percorremos esse caminho do enfrentamento. A relação conflituosa entre o Estado e os professores não ajuda o Rio Grande”, disse.
O Último a falar foi Vieira da Cunha, que rebateu o governador com dados do Mapa da Violência. “Porto Alegre é a capital mais violenta do Brasil. Tem hoje o dobro de homicídios do Rio de Janeiro. (...) Como é que Rio e São Paulo conseguiram diminuir os seus índices de criminalidade? Investindo pesado em inteligência e tecnologia. Isso (situação gaúcha) é o retrato da incompetência, da omissão”, atacou o deputado, que apontou, porém, a saúde como “o problema número um do Estado. “Isso quer dizer que o atendimento é deficiente. E se ele é deficiente, há que haver por parte dos três níveis de atuação de governo, um esforço conjunto para melhorar o atendimento à população. Todos nós sabemos que os recursos estão concentrados no governo federal. Nós sabemos que muitos municípios estão investindo em saúde bem mais do que a Constituição manda, e por quê? Porque a União e o Estado não fazem a sua parte.”