Principais aliados do PSB têm restrições a Marina no RS
PMDB e PSD argumentam que não podem aderir a Marina porque suas “causas” são outras
Entre aliados, as ressalvas a respeito da indicação de Marina Silva para substituir Eduardo Campos na chapa presidencial do PSB não se restringem a São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No Rio Grande do Sul, o PMDB, maior aliado do PSB na eleição estadual, está dividido em relação ao nome da ex-senadora. E o PSD, que também integra a coligação, tem fortes reservas a ela.
Apesar de admitirem que o PSB não tem outro nome do tamanho de Marina, deputados ou integrantes das direções estaduais do PMDB e do PSD argumentam que não podem aderir a Marina porque suas “causas” são outras e suas bases eleitorais são compostas ora por pequenos produtores, ora por empresários, ora por segmentos do agronegócio com posições que divergem, e muito, daquelas das ex-senadora.
No Rio Grande do Sul, o peemedebista José Ivo Sartori concorre ao governo tendo como vice José Paulo Cairoli (PSD). A base de Sartori é a serra gaúcha, onde a economia é calcada no setor industrial e na produção diversificada de pequenas propriedades rurais. Cairoli é empresário e pecuarista. O PSB ocupa a vaga para o Senado, com o nome do deputado federal e vice-presidente nacional do partido, Beto Albuquerque.
Até quarta-feira, a chapa encabeçada pelo PMDB apoiava Eduardo Campos na corrida para a presidência. Agora, a morte trágica e seus desdobramentos políticos reavivaram uma divisão que ocorre no PMDB gaúcho desde a indicação dos candidatos da chapa majoritária sobre quem apoiar formalmente na disputa para a presidência. Sartori e a executiva do partido estavam com Campos desde o início da campanha e a garantia de seu palanque para o ex-governador foi decisiva para que o PSB integrasse a coligação estadual.
Contudo, na prática, o diretório gaúcho vinha fazendo vistas grossas ao posicionamento de seus militantes, já que parte do partido se alinhou ao PMDB nacional e faz campanha aberta para a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), que tem Michel Temer (PMDB) como vice. E uma fatia menor começou a trabalhar discretamente pelo senador mineiro Aécio Neves (PSDB).
Morte de Campos aumenta divisão no PMDB
Agora, o PMDB admite que a situação é complexa porque o apoio da executiva, e até do próprio Sartori, estava muito vinculado ao perfil de Campos, enquanto que parte significativa dos peemedebistas não se identifica com Marina. Ela conta com o apoio incondicional do ícone do PMDB gaúcho: o senador Pedro Simon. Na quarta-feira, pouco depois de receber a confirmação da morte de Campos e ainda sob o choque da tragédia, Simon telefonou para Marina. Ouviu da ex-senadora palavras firmes em relação à necessidade de dar prosseguimento à luta pelos ideais defendidos pelo PSB na corrida presidencial.
Sempre ressalvando que a escolha cabe ao PSB, o senador considera que Marina é a mais indicada para assumir a tarefa em função de seu calibre político. “Você pode pegar alguém de qualquer lugar e, em menos de 60 dias, transformar em presidente? Seria uma grande proeza.” O senador também avalia que o vice de Marina deve vir do centro do País, de um dos grandes colégios eleitorais, a exemplo do que ocorre com as candidaturas de Dilma e Aécio. Desde antes da tragédia, o fato de tanto Campos como Marina terem suas bases eleitorais fora do Sudeste já vinha sendo apontado como um dos fatores que barravam o crescimento da chapa.
O vice-prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, que coordena a campanha de Sartori ao governo, e é discípulo de Simon, endossa a posição do senador. Melo argumenta que a aproximação com o PSB se deu em função de ideias e não de aspectos pessoais.
Mas entre as bancadas do partido a avaliação é outra. Marina não tem o apoio da bancada estadual, onde seis dos oito deputados do PMDB listam divergências ideológicas e defesa dos interesses de seus eleitores como motivos para não se engajarem em sua campanha.
Dos quatro deputados federais do PMDB gaúcho, nenhum concorda com a indicação de Marina para o lugar de Campos. Eliseu Padilha já trabalhava abertamente pela chapa Dilma/Temer. Darcísio Perondi e Osmar Terra asseguravam estar com Campos, mas sua aproximação com o PSDB é histórica no RS. Alceu Moreira, que tem posições a respeito das questões ambientais frontalmente opostas às de Marina, não admite fazer campanha para a ex-senadora e afirma que, caso ela seja a escolhida, sua tendência é aderir a Aécio.
Além dos posicionamentos políticos opostos, há entre os deputados quem avalie que Marina não tem mais a densidade eleitoral apresentada em 2010 porque, a partir das manifestações de 2013, o chamado voto de protesto teria se diluído entre diferentes legendas, a começar pelo Psol. O partido tem candidata à presidência da República, a ex-deputada federal Luciana Genro, cuja base eleitoral está justamente no Rio Grande do Sul.
Já o chamado voto evangélico, que Marina também capitaneou em 2010, agora, em parte, migraria para outro postulante a presidência, o Pastor Everaldo, do PSC.