Declaração de Lula sobre aliança com Boulos é tirada de contexto para insinuar fraude nas urnas
Em comício na zona leste de SP, presidente falou da possibilidade de parceria entre o Governo Federal e a Prefeitura, caso Boulos vença
O que estão compartilhando: vídeo em que um homem afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria gravado áudio dizendo que a vitória do candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), é "irreversível". Na gravação, o autor se refere às urnas eletrônicas como "caixas pretas" e que elas poderiam ser fraudadas para garantir a vitória de Boulos na disputa.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O vídeo tira de contexto um trecho de uma declaração feita por Lula durante participação em comício do candidato Guilherme Boulos e da vice Marta Suplicy (PT). A íntegra da fala permite concluir que o presidente falava da parceria entre o governo federal e a prefeitura de SP no cenário hipotético de Boulos: "Se a gente fizer uma parceria (entre) a prefeitura de São Paulo e o governo federal, estejam certos meus companheiros e companheiras, que a vitória do Boulos é irreversível". O vídeo checado omite o início da frase para insinuar fraude nas urnas. Na mesma declaração, Lula reforçou seu compromisso em ajudar o psolista na campanha e pede que as pessoas votem nele.
Saiba mais: publicado no Instagram na terça-feira, 1º, o autor do vídeo verificado omite o início da declaração do presidente para sugerir fraude nas urnas eletrônicas. Ele diz: "Você vai ouvir um áudio desse cidadão dizendo que a vitória do Boulos é irreversível, isso nos faz pensar que a caixa preta, ou melhor, a caixa branca, tem alguma coisa". A caixa preta, citada pelo homem, é a urna eletrônica. Antes de afirmar que a vitória de Boulos seria irreversível, Lula explicou que isso se daria caso houvesse uma parceria entre a Prefeitura de São Paulo e o governo federal.
Diferentemente do que afirma o autor do vídeo, a declaração não foi gravada em áudio. Ela foi feita durante um comício em São Miguel Paulista, zona leste da capital, em agosto. Não há nenhuma menção a fraudar o resultado eleitoral.
Antes da declaração utilizada no boato, Lula pede aos presentes na plateia que conversem com conhecidos para converter votos para o candidato: "Não são apenas o Boulos e a Marta que são candidatos a prefeito e (vice-)prefeita. Vocês são candidatos a prefeito e vice. E precisam trabalhar com o vizinho da direita, da esquerda, da outra rua. Trabalhar no local de trabalho, no comércio. Em cada lugar que tiver uma pessoa, dizer: 'Companheiro, fique calmo. Vote no companheiro Boulos que ele vai melhorar a qualidade de vida das pessoas'. É assim que a gente tem que pensar política."
O momento pode ser conferido no vídeo de transmissão do evento. Assista abaixo (a partir de 46m15s):
Após a declaração, o presidente acrescentou que se dedicaria a apoiar a candidatura do psolista. "Quero dizer para o Boulos que o que eu puder fazer para você ganhar as eleições, eu vou fazer". Ele enfatizou seu compromisso em ajudar na campanha, sem fazer menção às urnas eletrônicas.
A urna eletrônica é utilizada no Brasil desde 1996 e, desde sua estreia, nunca foi comprovado nenhum caso de fraude no sistema. De acordo com um texto publicado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO), há várias etapas que verificam a integridade e segurança das urnas.
Conforme o Tribunal Superior Eleitoral, a Justiça Eleitoral oferece diversas possibilidades para que o eleitor possa auditar a urna eletrônica. Auditoria, segundo o tribunal, "é o exame sistemático que verifica se os softwares (programas de computador) estão implementados de acordo com as normas e os procedimentos legais. O objetivo principal é checar se eles estão funcionando normalmente".
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Uma das etapas em que o eleitor pode participar da auditoria das urnas é no Teste Público de Segurança da Urna (TPS). Especialistas em tecnologia da informação testam publicamente a segurança dos equipamentos e sugerem aperfeiçoamentos. Qualquer cidadão brasileiro maior de 18 anos pode participar do teste. O último TPS ocorreu entre os dias 27 de novembro e 2 de dezembro de 2023.
Para as eleições municipais que se aproximam do primeiro turno neste domingo, 6, mais de 250 pessoas atuarão como observadores nacionais. Segundo o TSE, cinco entidades foram credenciadas para desempenhar esse papel. Juntas, elas mobilizarão 259 observadores em 23 estados, além do Distrito Federal. Os estados do Amapá, Tocantins e Piauí não contarão com observadores nacionais. Além disso, instituições internacionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Parlamento do Mercosul (Parlasul) também acompanharão as eleições.