Na USP, Suplicy pede pressão sobre Dilma e canta Racionais
O senador e candidato à reeleição Eduardo Suplicy (PT-SP) participou na manhã desta segunda-feira de uma sabatina na Escola Politécnica da USP, em São Paulo. Durante cerca de duas horas, Suplicy respondeu a perguntas dos estudantes e também formulou questionamentos a eles, contou histórias (suas e de outros), pulou do palco para debater com uma estudante filiada ao PSTU que criticava suas propostas para distribuição de renda e, como já é sua marca registrada, atacou de rapper cantando uma música dos Racionais MC’s, com direito a onomatopeias de tiros, sirene de ambulância e latidos caninos. A sabatina foi uma parceria entre o Grêmio Politécnico da USP e o Terra.
O petista, que tenta seu quarto mandato no Senado, defendeu o governo Dilma Rousseff e usou boa parte do tempo para apresentar seu projeto Renda Básica de Cidadania (RBC) e pedir aos alunos da Poli (como é conhecida a escola de engenharia da USP) apoio para pressionar o governo federal a aplicá-lo. Já aprovada no Congresso e sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2004, a proposta de Suplicy prevê que todo brasileiro ou estrangeiro residente no País há no mínimo cinco anos tenha direito a uma renda mínima que iniciaria em R$ 80,00 mensais por pessoa e iria aumentando à medida que a nação se desenvolva.
A primeira vantagem do RBC sobre o Bolsa Família, dentre as várias que o parlamentar aponta, é que sua proposta é mais fácil de ser entendida e assimilada pela população. A explicação, segundo cronometragem feita por ele próprio, leva exatamente um minuto: “a partir de janeiro de 2017, todas as pessoas no Brasil, não importa sua origem, raça, sexo, idade e condição civil ou sócio-econômica, passaremos todos a ter o direito de receber uma renda que, para começar, será um pouco melhor que o Bolsa Família, digamos R$ 80 por mês, inclusive para os estrangeiros aqui residentes há cinco anos ou mais, a ninguém será negado. Agora vai ser R$ 80, um dia vai ser R$ 100, um dia R$ 500, um dia R$ 1 mil, mais e mais com o progresso do País, para todos”.
“Crescimento econômico razoável, não tão brilhante quanto gostaríamos”
Suplicy também defendeu o governo Dilma e apontou o que considera seus maiores acertos. “Tivemos um crescimento econômico razoável, não tão brilhante quanto gostaríamos, mas um crescimento combinado (com a diminuição da desigualdade). Em 1996, estávamos entre os três países mais desiguais do mundo. Em 2002, estávamos com o coeficiente de Gini (índice que mede a desigualdade de um país) em 0,59 pontos aproximadamente, e até 2012, o último que temos disponível, todos os anos esse índice foi baixando, chegando a 0,51”, argumentou, acrescentando que a taxa de desemprego atual, em torno de 6%, é a menor desde que o IBGE começou a levantar essas informações.
Para Suplicy, o governo Dilma também avançou no combate à corrupção. “No governo Fernando Henrique Cardoso tínhamos uma Procuradoria Geral da República que praticamente não levava adiante as investigações. Todos os procuradores-gerais indicados por Lula e Dilma foram incisivos em levar adiante as denúncias recebidas”, disse, citando o caso do mensalão, que levou dirigentes petistas à cadeia. “Também se aumentou enormemente a capacidade de investigar da Polícia Federal. A presidente Dilma tem tido por propósito não aceitar qualquer mal-feito no seu governo”, concluiu.
Petista votou em Serra para presidente da UNE
O senador petista lembrou dos tempos estudantis em que conviveu com José Serra (PSDB), seu principal adversário na disputa pelo Senado. Suplicy afirmou ter votado em Serra para presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) em 1963. Revelou também que em 1978, quando decidia se lançaria candidatura a deputado estadual ou federal pelo então MDB, atendeu a um pedido de José Serra, que concorreria a deputado federal e argumentou que ele e Suplicy tinham a mesma base partidária.
Mas o maior interesse de Suplicy parece mesmo ser falar no seu projeto de Renda Básica de Cidadania. São nesses momentos que ele se levanta, eleva o tom da voz, instiga a plateia. Por mais de uma vez ele sugeriu que os estudantes mandem cartas a Dilma dizendo que já está na hora de pôr em prática o projeto, e diz que ele mesmo já escreveu várias vezes à presidente.
Foi tratando deste tema que, após dizer que a instituição do programa pode afastar jovens da prostituição e do tráfico, pediu licença para cantar o rap Homem na Estrada, de autoria de seu amigo e líder dos Racionais MC’s, Mano Brown. A música começa com os seguintes versos, que o senador de 73 anos sacrificou no ritmo mas compensou na emoção: “Um homem na estrada recomeça sua vida / Sua finalidade: a sua liberdade / Que foi perdida, subtraída / E quer provar a si mesmo que realmente mudou / que se recuperou e quer viver em paz / Não olhar para trás, dizer ao crime: nunca mais / Pois sua infância não foi um mar de rosas, não / Na Febem, lembranças dolorosas, então”.