Para vencer eleição em SP, Nunes e Boulos terão que nacionalizar disputa e recorrer mais a Lula e Bolsonaro, dizem analistas
O atual prefeito e o candidato do PSOL venceram Pablo Marçal (PRTB), na corrida eleitoral mais acirrada da capital paulista
Passada a disputa do primeiro turno das eleições municipais, um novo pleito começa a partir desta segunda-feira, 7, nas cidades que terão segundo turno. 'Começa tudo de novo, é uma nova eleição', costumam dizer os analistas políticos. Em São Paulo, o embate será entre o atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que foram os dois melhores colocados na votação do domingo, 6.
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Para Isabela Kalil, antropóloga social e coordenadora da Pós-Graduação em Antropologia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), cada candidato terá um dilema específico.
"O dilema de Nunes é que se ele for muito para a direita, para mais próximo de [Jair] Bolsonaro e da extrema-direita, ele perde potenciais eleitores, perde a possibilidade de ter os eleitores da Tabata [Amaral]", pontuou Isabela na live especial de apuração do Terra, realizada na noite do domingo.
Na opinião da especialista, a situação é mais difícil para Nunes do que para Boulos. "Se Boulos tender mais para a esquerda, ele não perde tanto porque ele vai ter o apoio de Tabata, ele vai fazer esse contraponto do bolsonarismo", opinou.
Após a confirmação do segundo turno entre Nunes e Boulos, a também candidata à Prefeitura de São Paulo Tabata Amaral (PSB) declarou apoio ao deputado federal no segundo turno. Tabata teve mais de 605 mil votos nas eleições e ficou na 4ª colocação, atrás de Pablo Marçal (PRTB).
Apesar dessa possível "vantagem" de Boulos em relação a Nunes neste segundo turno, Isabela Kalil lembrou que "começa tudo de novo, zera, é uma nova eleição". "Pesquisas anteriores mostraram que, num eventual segundo turno entre Nunes e Boulos, Nunes tinha uma vantagem. Além disso, Nunes está com a máquina, Nunes é o prefeito. Então Boulos vai ter que correr mais que Nunes, vai ter que suar mais a camisa".
Previsão de debate mais nacionalizado
Para Guilherme Mazieiro, colunista de política do Terra, a eleição no segundo turno vai ser mais nacionalizada, contando com uma maior participação dos padrinhos políticos de Nunes, que é o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e de Boulos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"É a hora de Boulos chamar o padrinho, o cabo eleitoral, que é Lula, e Nunes tentar pressionar ainda mais o Bolsonaro para participar", disse Mazieiro.
Na noite do domingo, Bolsonaro afirmou que vai "entrar de cabeça" na campanha de Nunes contra Boulos. "Agora eu não tenho mais que esconder o jogo e trabalhar como eu trabalhei de maneira mais discreta. Agora é abrir o jogo. Vou entrar de cabeça", declarou.
Na opinião de Mazieiro, é provável que Boulos use justamente essa ligação entre Nunes e Bolsonaro a seu favor. "Tenho a sensação de que ele [Boulos] vai reforçar aquilo que ele fez no último debate, quando ele começou a fazer algum ataque e falar 'Olha, o Marçal e o Nunes são o bolsonarismo.' Eu estou fazendo uma aposta de que, neste segundo turno, Boulos vais insistir nisso, para colar no prefeito a rejeição que Bolsonaro tem na cidade de São Paulo".
Segundo turno sem Marçal
Pablo Marçal (PRTB) teve a 3º maior votação na disputa pela Prefeitura de São Paulo e, assim, ficou de fora do segundo turno. Sem ele no pleito, Isabela Kalil disse que a tendência é "ter um segundo turno mais republicano, que é o que se espera dos debates".
"Para o segundo turno, sem Marçal, sem esse fator que foi desestabilizador das campanhas, inclusive da direita, da extrema-direita, de Bolsonaro, a gente tende a voltar para uma normalidade", analisou Mazieiro.
"Eu imagino que vai ter ainda o clima bélico, mas os golpes acima da linha da cintura. Pelo perfil dos dois candidatos, dos dois partidos, das coligações, é muito difícil de imaginar um dando uma cadeirada no outro, um documento falso", projetou.