Segundo debate entre Nunes e Boulos acontece ‘sem plateia’, com ataques pessoais e ‘efeito Marçal’ em revelação
Ao longo da noite, Ricardo Nunes apostou em taxar Guilherme Boulos de extremista, que o apontou como mentiroso
Em meio à crise de falta de luz em São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) se encontraram em debate antes do segundo turno das eleições pela Prefeitura de São Paulo
Em meio à crise da falta de luz em São Paulo e a oito dias do segundo turno das eleições pela Prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) se encontraram pela segunda vez em debate promovido por TV Record, Estadão e Rádio Eldorado neste sábado, 19. Ao longo da noite, em um confronto sem plateia, com alegações repetitivas, algumas acusações novas tiradas do passado e poucas propostas, Nunes apostou em taxar Boulos de “agressivo e extremista”. O psolista, por sua vez, relacionou por diversas vezes o atual prefeito ao perfil de mentiroso. Além disso, no pós-debate, Boulos frisou que “muita coisa ainda vai acontecer” e equipe de Nunes disse que “ele está andando muito com [Pablo] Marçal”, candidato do PRTB que disputou o primeiro turno do pleito.
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Os candidatos chegaram por volta de 20h30. Nunes foi o primeiro a entrar no estúdio da Record e, em coletiva à imprensa, esteve acompanhado de oito pessoas de sua campanha. Além disso, no púlpito, ficou ao lado do presidente do MDB nacional, Baleia Rossi; do vice de sua chapa, Mello Araújo; e do presidente do diretório municipal do partido em São Paulo, Enrico Misasi. Já Boulos esteve acompanhado apenas de um membro de sua equipe.
Cada um falou por cerca de cinco minutos com os jornalistas. Nunes argumentou que faltou nos últimos debates por estar “cuidando da cidade” e, pela primeira vez de muitas ao longo da noite, chamou Boulos de “extremista”. Mais cedo, em campanha na rua, ele já tinha chamado o psolista de "ditador", citando uma tentativa de Boulos de “tentar barrar” a publicação de uma pesquisa Datafolha.
Boulos foi questionado sobre o assunto antes do debate e o candidato afirmou que seus advogados já deram uma justificativa para a ação. "A nota da campanha também está devidamente explicada. Nesse debate hoje, eu espero que a gente possa ter as respostas das questões que ficaram sem resposta nos debates anteriores", complementou.
O debate teve início às 21 horas, mediado pelo jornalista Eduardo Ribeiro, da Record, e não teve uma grande plateia. A imprensa ficou em uma sala, os convidados de Nunes em um camarim e os de Boulos em outro. E no espaço em que o debate aconteceu, estavam apenas assessores dos candidatos. Também foi liberado acesso para um segurança de cada.
No estúdio, Boulos esteve acompanhado de seu marqueteiro Lula Guimarães, do coordenador de campanha Josué Rocha e de seu assessor, Ed Machado. Nunes esteve acompanhado de Duda Lima, marqueteiro de sua campanha que levou um soco de um assessor de Marçal nos bastidores de um debate do primeiro turno.
Ao longo do debate, Boulos seguiu batendo na tecla da “mentira”, frisando que o atual prefeito não responde às perguntas que ele faz e tentando, mais uma vez, emplacar o questionamento sobre a transparência das contas de Nunes. Nunes seguiu aproximando Boulos ao extremismo e tentando opor o candidato a pautas alinhadas à direita – como questões em torno da polícia militar, drogas e aborto.
A questão da Enel, concessionária de energia de São Paulo, foi um assunto que costurou o evento, assim como no debate anterior, promovido pela Band no último dia 14. Já o clima foi diferente. Dessa vez, não tentaram “arrancar risadas”, nem performaram algum tipo de abraço cômico. A noite teve pouca discussão em torno de propostas e, na contramão, muitos ataques. Sobre direitos de resposta, 8 pedidos foram feitos – 5 de Nunes e 3 de Boulos. Concedidos foram 5, sendo 3 de Nunes e 2 de Boulos.
No pós-debate, Boulos disse à imprensa que Nunes estava irritado durante o debate porque, segundo ele, sabe sobre informações que ele trará à tona até o dia 27. A reportagem do Terra questionou Nunes sobre a questão, no momento da coletiva do prefeito. Baleia Rossi e Enrico Misasi, que estavam novamente ao seu lado, riram da situação. Duda Lima, seu marqueteiro, disse enquanto saia do ambiente: “Ele está andando muito com o Marçal”.
Já Nunes, em sua resposta, disse ter uma “história absolutamente limpa”, uma “história de vida” e voltou a bola para Boulos, dizendo que “bateu o desespero nele”.
Segundo debate
Esse é o segundo debate apenas com os dois candidatos à Prefeitura de São Paulo. Nunes deixou de ir a outros, como o evento promovido pelo jornal O Globo e pela rádio CBN, no último dia 10, que se transformou em uma sabatina com Boulos. O mesmo ocorreu com o debate organizado por RedeTV!, UOL e jornal Folha de S. Paulo, no dia 17, com Nunes cancelando sua participação de última hora – e, mais uma vez, o momento se tornou uma entrevista com Boulos;
Logo no início do segundo turno, Nunes chegou a se posicionar a favor de uma redução de debates nessa reta final da eleição – já que, segundo sua equipe, ele chegou a receber 12 convites. Sua sugestão foi reduzir para três. Boulos, desde então, tem usado isso como munição para criticar o atual prefeito, alegando que ele estaria fugindo dos debates.
No fim, o cenário de três debates no segundo turno pode se concretizar, visto que o próximo debate previsto é o promovido pela TV Globo, no dia 25 de outubro, às 22 horas. O encontro acontecerá faltando dois dias para o segundo turno, que é no domingo, 27.
Além de não comparecer em debates, Nunes também cancelou agendas de rua na última semana em meio ao apagão de São Paulo. Boulos chegou a cancelar encontros marcados nos dias de chuva, e, ao invés do que estava previsto, visitou regiões afetadas pelas chuvas e vendavais.
Depois disso, neste sábado, também por conta da chuva, Boulos cancelou a "Caminhada da virada com Boulos, Marta e Lula na Zona Sul" antes do debate. O encontro se transformou em uma live.
No primeiro turno, São Paulo performou um recorde em número de debates, com 11, superando os sete da disputa de 2012.
Neste sábado, ao menos quatro bairros da cidade de São Paulo estão sem energia elétrica neste sábado, 19, segundo a Enel. A concessionária informou que cerca de 2.400 funcionários estão mobilizados para atender as ocorrências.
Retorno à Record
No primeiro turno das eleições, o debate da Record aconteceu após episódios de agressões que marcaram a corrida eleitoral – como a cadeirada de Datena em Marçal, o soco do assessor de Marçal em um membro da equipe de Nunes e muitas trocas de agressões verbais. Em meio a isso, no fim de setembro, esse primeiro debate da Record teve regras rígidas como copos de plástico, cadeiras parafusadas e detector de metal.
Neste sábado, com o debate acontecendo apenas entre Nunes e Boulos, a rigidez de regras foi mantida. Foram proibidos gestos desrespeitosos, exibição de objetos, documentos ou itens que ajudassem na argumentação dos candidatos – o que levou os dois a, diversas vezes, pedirem para os eleitores “pesquisarem no Google” detalhes sobre assuntos citados.
Também foi proibido o uso de palavras grosseiras, vulgares ou obscenas contra o adversário e os candidatos também não puderam sair de seus lugares. A cada infração, o candidato perdia 30 segundos de suas considerações finais, podendo ser expulso em caso de reincidência. Isso não aconteceu.
Nunes lidera pesquisas
Novo levantamento do Datafolha, divulgado na quinta-feira, 17, mostra Ricardo Nunes (MDB) ainda liderando -- com 51% -- as intenções de voto do segundo turno das eleições para a Prefeitura de São Paulo. No levantamento, Guilherme Boulos (PSOL) aparece com 33%. Essa foi a primeira pesquisa do instituto após a crise do apagão ter atingido São Paulo.
Em comparação com a primeira pesquisa de segundo turno do Datafolha, divulgada no último dia 10, Nunes oscilou 4 pontos percentuais -- de 55% a 51% -- dentro do limite da margem de erro. Já Boulos se manteve com os mesmos 33%.
O apagão não afetou a rejeição de Nunes, que, inclusive, diminuiu. Agora, 35% dos eleitores responderam que não votariam de jeito algum no atual prefeito -- antes eram 37%. Já a rejeição de Boulos oscilou de 58% para 56%.
Além disso, 2% dos eleitores seguem indecisos em quem votar. Outros 14% apontam que irão votar em branco ou nulo.
Já na pesquisa Quaest, divulgada um dia antes, no dia 16, Nunes apareceu liderando com 45% e Boulos também registrou 33% das intenções de voto. Nesse caso, o percentual de intenções de voto neste segundo turno é de 19% para branco/nulo/não vai votar e 3% para indecisos.
Eleição acirrada
Na capital paulista, Nunes e Boulos avançaram para o segundo turno após uma disputa acirrada, marcada por polêmicas, agressões, laudo falso e recorde de debates, que deixou o candidato Pablo Marçal (PRTB) fora da corrida eleitoral por uma pequena margem de votos.
O resultado rumo ao segundo turno se deu com 99,52% das urnas apuradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), às 21h07 do último domingo, 6.
Com 100% das seções apuradas por volta de 22h, o candidato do MDB somou 29,48% (1.801.139) dos votos válidos, enquanto o do PSOL apareceu com 29,07% (1.776.127 votos). Marçal ficou na terceira colocação com 28,14% (1.719.274 votos) -- uma diferença de 56.853 votos para alcançar Boulos.