Sem menção a Lula, Bolsonaro cita injustiça, fala sobre bloqueios e diz que seguirá Constituição
Presidente quebrou o silêncio e falou pela primeira vez após derrota para o petista nas eleições presidenciais
O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez um pronunciamento no Palácio da Alvorada, em Brasília, nesta terça-feira, 1º, após 44 horas de silêncio. Foi a primeira vez que o chefe do Executivo falou desde que perdeu a eleição para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último domingo, 30.
No discurso de dois minutos, Bolsonaro não admitiu a derrota, falou sobre os atos que bloqueiam vias pelo País, ressaltou que os valores da direita seguem sendo representados pelo Congresso Nacional e garantiu que seguirá a Constituição. Em nenhum momento, no entanto, citou Lula.
O presidente iniciou a fala agradecendo aos votos que recebeu. "Quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro", disse o presidente, que classificou os protestos em estradas e rodovias como fruto da "injustiça" e não perdeu a oportunidade de criticar a esquerda.
"Os atuais movimentos populares são fruto de indignidade e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicam a população, como invasão propriedade, destruição do patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir."
O presidente também destacou a força política da direita no Brasil. "A direita surgiu de verdade em nosso país. Nossa robusta representação no Congresso mostra a força dos nossos valores: Deus, pátria, família e liberdade. Formamos diversas lideranças pelo Brasil. Nosso sonho segue mais vivo do que nunca. Somos pela ordem e progresso", disse.
Bolsonaro novamente afirmou que sempre seguiu "as quatro linhas da Constituição", mas não esclareceu diretamente se irá respeitar o resultado das urnas.
"Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos a pandemia e consequências de uma guerra. Sempre fui rotulado como antidemocrático e, ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das 4 linhas Constituição", disse ele, que reafirmou o compromisso em seguir cumprindo a legislação. "Nunca falei em controlar ou censurar a mídia ou as redes sociais. Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição", completou ele.
"É uma honra ser líder de milhões de brasileiros que defendem a liberdade econômica, religiosa, de opinião, a honestidade, e as cores verde e amarelo da nossa bandeira", concluiu, sem responder perguntas dos jornalistas presentes.
O Terra apurou que, nos bastidores, Bolsonaro aparentava estar irritado e tinha o semblante abatido antes do discurso. Os filhos do presidente e aliados teriam contribuído para a elaboração do discurso.
Ciro Nogueira diz que dará início à transição
Após a discurso de Bolsonaro, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), afirmou que o governo dará início ao processo de transição, indicando que o chefe do Executivo irá aceitar o resultado das eleições, que deu vitória para Lula como próximo presidente do Brasil.
"O presidente Jair Messias Bolsonaro me autorizou. Quando formos provocados com base na lei, nós iniciaremos o processo de transição", afirmou, logo após o primeiro - e rápido - pronunciamento de Bolsonaro depois do pleito. Na ocasião, o presidente não admitiu a derrota.
Em uma fala também breve, Nogueira citou ainda a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, com quem já iniciou os diálogos.
"Segundo ela, em nome do presidente Lula, na quinta-feira será formalizado o nome do vice Geraldo Alckmin”, afirmou em referência à decisão do partido de nomear o vice como coordenador da equipe de transição de governo.
"Aguardaremos que isso seja formalizado para cumprir a lei do nosso País", completou.