Veja 5 desafios a serem enfrentados pela presidente reeleita
Nos próximos quatro anos, a presidente reeleita Dilma Rousseff mais uma vez terá que lidar com uma infinidade de problemas e desafios que o Brasil enfrenta, fazendo o possível para minimizá-los e resolvê-los. Ao longo da campanha eleitoral e, principalmente, no segundo turno, ela e o candidato pelo PSDB Aécio Neves debateram a respeito de diversos assuntos. O Terra, com a ajuda de cientistas políticos, elencou os cinco maiores desafios que o eleito terá que encarar. Assuntos das mais variadas áreas como inflação e crescimento econômico, corrupção, governabilidade, saúde e gestão de programas sociais tiveram um destaque especial durante toda caminhada eleitoral, e são eles os desafios do novo presidente.
Inflação e crescimento econômico
O baixo crescimento econômico e a alta da inflação foi, talvez, o principal assunto debatido nas eleições. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação do País, atingiu em setembro, no acumulado em 12 meses, 6,75%, maior nível desde outubro de 2011, e tem se mantido acima do teto da meta do Banco Central, de 6,5%, desde agosto. No primeiro semestre deste ano, a economia entrou em recessão técnica, com o Produto Interno Bruto (PIB) contraindo 0,6% no segundo trimestre, após encolher 0,2% nos três primeiros meses do ano.
“A retomada do crescimento é um assunto mais sério do que a questão inflação. Ela está acima da meta, mas não é uma inflação descontrolada. Mas o mais grave é realmente a taxa de crescimento que é muito baixa, que produz a impossibilidade de você aprofundar as políticas sociais, manter o nível de emprego. Porém entendo que a inflação é uma questão sim. O governo vai ter que encontrar uma fórmula para conseguir baixar essa inflação sem comprometer ainda mais o crescimento. Vai ter que encontrar meio de incentivar o empresário a investir mais”, diz Claudio Couto, professor do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para o professor Milton Lahuerta, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), o futuro não será nada fácil na questão do crescimento econômico, já que o presidente terá que lidar com a crise energética. “Isso tudo se torna mais grave, porque vai ter um forte impacto no governo que é a necessidade de realinhar os preços da energia, como petróleo, álcool, diesel, principalmente da energia elétrica. Os preços estão administrados e estão defasados. As distribuidoras estão gastando muito mais do que recebendo. O governo não só dá dinheiro para essas empresas mas media um conjunto de empréstimos. Vai ter que ter reajuste e vai ter impacto na inflação”, afirma.
Corrupção
Em 2014, a corrupção não saiu da pauta eleitoral. Acusações por parte dos dois candidatos tomaram conta dos jornais e revistas, principalmente com os desvios de dinheiro envolvendo a estatal Petrobras e o PT e o esquema do Cartel do Metrô e trens em São Paulo, referente a membros do PSDB. Apesar das acusações, as investigações de ambos os casos ainda estão em curso e ninguém foi condenado.
De acordo com o cientista político Milton Lahuerta, da Universidade estadual Paulista (Unesp), o tema é um dos mais complexos. Para ele, os desafios envolvem mudanças institucionais, na cultura política.“De imediato, o que seria razoável para reduzir o tema é que os governantes tivessem maior zelo pelas instituições. (...) É um desafio que atormenta o imaginário da sociedade brasileira e por isso pode ser o maior, mas não o mais importante. Estamos vivendo uma espécie de moralidade elástica, mas, se tivermos a certeza de que não fomos descobertos, subornamos e aceitamos os pequenos subornos”, diz Lahuerta.
Governabilidade
Negociações com o Congresso Nacional são um grande desafio para os próximos anos. Há tempos uma eleição presidencial não foi tão disputada voto a voto. Apesar da polarização PT/PSDB, milhões de pessoas se mobilizaram e foram às ruas defender seu partido, evidenciando ainda mais o momento de “Brasil dividido”.
“Não vejo drama no que se refere a relação Congresso/presidente, mas penso que a campanha atual ganhou um contorno de ‘guerra santa’, instituindo uma ‘guerra civil’. Mas é totalmente artificial, deseducativo e que lamentavelmente há excesso dos dois lados. (...) Se o Aécio ganha vai haver vai haver proliferação de manifestações de rua e com atos que podem ser violentos. Se a Dilma ganha não vejo isso, mas se reproduzirá a lógica que agora é guerra e pau”, afirma Lahuerta, da Unesp.
O professor da FGV Claudio Couto não pensa da mesma maneira e acredita que haverá problemas nas relações com o Congresso. “Eu acho que o problema mais sério será o fato de o Congresso estar mais fragmentado, então será necessário negociar mais do que hoje. Tende a ficar mais difícil. O número de partidos aumentou e você vai ter que ter espaço para abrigar todo mundo no governo. Há também um âmbito de conflagração que foi construído no Brasil nos últimos anos e que é muito grande. A política é muito polarizada, de propagação de discurso de ódio por alguns setores da sociedade e de ilegitimação do adversário. Eu não vejo isso como uma preocupação de longo prazo, mas é um acirramento que pode se avolumar”, diz.
Saúde
Tema que gera bastante revolta e reclamação por parte da população, a saúde não deixou de estar nos debates e discussões entre os candidatos à presidência.
“É a área mais mal avaliada por parte da população. Claro que esse problema passa pelo volume de recursos, não é só o sistema. É preciso pensar em formas mais eficazes de gestão para que os recursos se tornem mais efetivos e a população possa ter acesso a um sistema de saúde que atende às suas necessidades e às suas expectativas. Mas sem uma reforma de gestão, acho muito difícil que isso ocorra”, diz Claudio Couto, da FGV.
Já para Lahuerta, o problema parte da qualidade do ensino nas faculdades de medicina. “Precisa sistemicamente trabalhar o tema, com a própria formação dos médicos. Como formar médicos com compromisso mais sólidos com a sociedade? Temos que formar melhores médicos. A medicina é necessária. Na formação tem que ter uma formação maior na dimensão social, investir em determinadas áreas do País, formar médicos com compromisso. É preciso um redesenho da área de saúde. O SUS tem que estar à altura das necessidades e expectativas da população”.
Gestão de programas sociais
A discussão sobre manutenção e mudança de programas sociais como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida, criados pelo PT, também foi pauta das eleições. Tucanos afirmaram ser os grandes idealizadores dos programas sociais, fato rebatido pelos petistas. A presidente Dilma, porém, reconhece que precisa aprimorar os programas, já que mais de 500 mil famílias extremamente pobres ainda precisam ser identificadas e inseridas no programa.
“O Bolsa Família avançou muito e tem um papel importante, mas é preciso que se transforme em política de Estado e não de governo, que tenha uma legislação definitiva, construção de uma renda mínima. Penso que esse seria o grande passo a ser dado. Em relação ao Minha Casa Minha Vida, foi um mecanismo de atacar de frente e estimular a própria indústria da construção civil. Economicamente, eles são importantes, geram emprego, dinamismo. Esses programas precisam ser aprimorados”, analisa Lahuerta, da Unesp.