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Vice de Aécio, ex-guerrilheiro Aloysio é comprador de brigas

Hoje tucano, político chegou a participar de assaltos para arrecadar dinheiro para a Aliança Libertadora Nacional (ALN) e foi motorista e guarda-costa do líder Carlos Marighella

23 out 2014 - 08h00
(atualizado em 10/7/2018 às 18h49)
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Aos 69 anos, o senador Aloysio Nunes (PSDB), candidato à vice-presidência da República na chapa do mineiro Aécio Neves, também do PSDB, possui vasta carreira política e até mesmo um histórico de luta armada contra o Regime Militar na década de 1960. Paulista de São José do Rio Preto, o político parece destoar de outros membros de seu partido por ser considerado um verdadeiro “comprador de brigas”.

Aloysio se destaca por falar o que pensa e se diz “politicamente incorreto”. “Ele não segue essa linha (do politicamente correto). Ele pensa e fala. Esse é o estilo dele, diferentemente da maioria dos tucanos. Mas como vice vai ter que se controlar”, afirma o cientista político pela Universidade de Brasília David Fleischer. 

O comportamento do candidato em entrevista na Rede TV, exibida no domingo 19, é exemplo disso. Nela, a interlocutora pergunta sobre o nível da campanha eleitoral e a possibilidade de haver um “racha” no País após as eleições. “Eu acho que a tônica da divisão, ricos e pobres, Norte e Sul, nós e eles tem sido a da campanha do PT e é a tônica da campanha da presidente Dilma Rousseff. O tempo todo essa divisão de: eles, PT, são os bons, o resto é elite, o resto não se incomoda com o povo. Então essa linha de divisão é para o DNA do PT. O desejo de mudança é generalizado no Brasil. Acontece no Sul, Centro-Oeste e Nordeste. São correntes de opinião, não é o Sul contra o Norte e o Nordeste.

<p>Senador pelo PSDB, conquistou cerca de 30% dos votos em 2010</p>
Senador pelo PSDB, conquistou cerca de 30% dos votos em 2010
Foto: Bruno Santos / Terra

O tom agressivo foi adotado logo no primeiro questionamento. A mesma pergunta foi feita, em entrevista no mesmo dia, ao Michel Temer (PMDB), candidato a vice-presidente na chapa de Dilma, que falou em “harmonia” após o pleito do próximo domingo.

“Ele (Aloysio) tem opiniões mais fortes, por vezes as deixa muito claras, com um perfil mais incisivo. E compra brigas públicas por conta disso. É uma carreira mais ousada e deixa transparecer com maior clareza o que ele pensa”, diz o também cientista político Humberto Dantas.

Não só os discursos, mas também a maneira de falar, gesticulando, deixando transparecer emoções e dando risadas mostra o jeito de ser de Aloysio Nunes. “Me defino como um homem de esquerda no sentido que a desigualdade, injustiça e falta de oportunidade são algo intolerável. Sou radicalmente democrata. Até mesmo o chamado politicamente correto me horroriza”, disse o senador, na mesma entrevista, exibida novamente no domingo (19).

Segundo os cientistas, a expectativa de Aloysio como vice-presidente da República é de ter um político mais ativo, com capacidade para assumir responsabilidades, sendo comparado inclusive a José Alencar, vice de Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2010. “Uma possibilidade desse tipo é de interlocução boa com a ala paulista, porque é um homem muito ligado ao (José) Serra, tem um trânsito bom em São Paulo. Conseguiu isso, porque teve votação expressiva ao Senado”, avalia Dantas.

David Fleischer concorda com o companheiro de profissão e também lembra de Alencar ao falar do futuro de Aloysio, caso o candidato seja eleito. “Ele vai ter um papel importante de articulação com o Congresso. É um congressista antigo. Mas depende de como o Aécio vai organizar seu governo, ver quem vai ser chefe da Casa Civil, Fazenda, Planejamento. O vice pode ter esse papel”, afirma, destacando que Alencar também foi ministro da Defesa de Lula.

"Chega do PT no governo federal", grita senador em convenção:

“Alencar era um cara que falava dentro do governo Lula e mostrava seu posicionamento. Ele (Aloysio) pode ser esse cara, mas é menos provável que tenha grandes distanciamentos em termos de posição entre o Aécio e Aloysio”, completa Dantas.

Ao fim da mesma entrevista para RedeTV, a jornalista da emissora elenca quatro personalidades da política (Lula, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Aécio Neves) e pede para Aloysio falar sobre elas. O candidato classifica Lula como um “prestidigitador (ilusionista, mágico), um encantador das multidões, um grande estadista". "Mas os postes que ele vem erguendo não vêm dando muita luz”, disse. Em relação à petista e adversária Dilma, o candidato afirmou que “está na hora de ela fazer outra coisa”. Ao tratar do seu lado, do PSDB, Aloysio caracteriza FHC como “um dos grandes estadistas desse País” e que Aécio “vai ser o próximo presidente da República”.

Carreira política

Aloysio Nunes foi presidente do tradicional Centro Acadêmico XI de Agosto, em 1964, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo. No período, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), que atuava de maneira clandestina. Lutando contra a ditadura pela Aliança Libertadora Nacional (ALN), organização liderada pelo guerrilheiro Carlos Marighella, adotou o pseudônimo Mateus e, por saber dirigir, atuava como motorista e guarda-costas de Marighella.

Para manter a luta armada, a ALN passou a fazer assaltos com o intuito de angariar fundos, e Aloysio chegou a participar de algumas ações, a exemplo da feita ao trem pagador, em agosto de 1968, na antiga estrada de ferro Santos-Jundiaí. O assalto, segundo relatos,  arrecadou US$ 21 mil. Mateus não foi pego pelo Regime Militar, mas assim como muitos companheiros de luta, foi para o exílio na França, onde permaneceu entre 1968 e 1979.

“Alguns traços são permanentes na minha vida política. Quando houve o golpe de 64 foi uma tragédia quase que pessoal. E, de repente, aquela placa de chumbo caiu na nossa cabeça. Fui para o PCB sem ler uma linha de Marx, porque achava que era uma estrutura que, pela sua organização clandestina, tinha condições de resistir à repressão. Foi mais por um movimento ético que político. Quando se entrou na discussão de luta armada ou pacífica, achei que tínhamos que partir para o enfrentamento. Revi esse ponto de vista. O comunismo acabou. Foi uma utopia libertária e se transformou numa ditadura. Vi na União Soviética e fui amadurecendo. Nunca reneguei o PCB. Foi uma grande escola”, afirmou Aloysio, em entrevista à RedeTV.

<p>Aloysio foi deputado estadual e federal e chegou a concorrer à prefeitura de São Paulo</p>
Aloysio foi deputado estadual e federal e chegou a concorrer à prefeitura de São Paulo
Foto: José Cruz / Agência Brasil

O cientista político Humberto não acredita que essa “mudança de lado” seja um problema e acredita que cada político passa por fases na vida. “Lembramos que a Dilma foi do PDT. São consequências da vida, da trajetória que pintou para a vida dele. Não é um problema. Ser comunista e hoje estar nesse ou naquele partido. Não existe um partido dos guerrilheiros. Era um instante que o País atravessava, um momento que justificava alguns pontos de vista. Problema seria se fosse guerrilheiro hoje”, analisa.

Além de advogado, o candidato à vice-presidência cursou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Na França, fez bacharelado em Economia Política e mestrado em Ciência Política pela Universidade de Paris, assumindo depois a cadeira de professor de Língua Portuguesa. Com a Lei de Anistia, Aloysio voltou ao Brasil em 1979 e deu continuidade à sua carreira política, deixando o PCB e filiando-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), de acordo com o site do político e informações do Tribunal Regional Eleitoral. 

Em 1982, alcançou o primeiro cargo eletivo como deputado estadual e, em 1990, foi eleito vice-governador de São Paulo ao lado de Luiz Antônio Fleury Filho. Dois anos depois concorreu à prefeitura de São Paulo, sendo derrotado em uma eleição polarizada entre Paulo Maluf e Eduardo Suplicy. Aloysio foi eleito deputado federal em 1995. Após dois anos, trocou o PMDB pelo PSDB. No governo Fernando Henrique Cardoso, assumiu dois ministérios: a Secretaria-Geral da Presidência e o da Justiça. Em 2010, o paulista foi eleito senador por São Paulo com cerca de 30% dos votos do Estado.

Fonte: Terra
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