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Elon Musk se torna guru de uma revolução administrativa nas empresas de tecnologia

Por que o estilo cruel e impiedoso do proprietário do Twitter fez dele um herói para muitos chefes no Vale do Silício

26 dez 2022 - 05h10
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THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Pode parecer óbvio, para a maioria das pessoas de fora do Vale do Silício, que a aquisição do Twitter por Elon Musk foi um desastre absoluto.

Em menos de dois meses desde que assumiu, Musk demitiu mais da metade da equipe do Twitter, assustou muitos de seus principais anunciantes, fez (e desfez) uma série de mudanças imprudentes em seu programa de verificação, irritou reguladores e políticos com tuites erráticos e ofensivos, declarou uma guerra de curta duração contra a Apple, deu sinal verde para uma exposição bizarra de "Arquivos do Twitter", parou de pagar o aluguel dos escritórios do Twitter e acusou falsamente o ex-chefe de confiança e segurança da empresa de apoiar a pedofilia. Sua fortuna pessoal encolheu bilhões de dólares e ele foi vaiado em um show de Dave Chappelle.

A coisa não está, de forma alguma, indo bem para ele. E, no entanto, um grupo ainda está firmemente do lado de Musk: os chefes.

Nas últimas semanas, muitos executivos, fundadores e investidores de tecnologia expressaram sua admiração por Musk, mesmo enquanto o bilionário se debatia no Twitter.

Reed Hastings, CEO da Netflix, elogiou Musk em uma conferência DealBook do New York Times no final do mês passado, chamando-o de "a pessoa mais corajosa e criativa do planeta".

Gavin Baker, um investidor de private equity, afirmou recentemente que muitos executivos-chefes financiados por capital de risco foram "inspirados por Elon".

E vários sócios da Andreessen Horowitz, uma influente empresa de capital de risco, tuitaram elogios semelhantes ao estilo de gestão de Musk.

Alguns líderes de torcida de elite provavelmente estão sendo solidários à classe ou ao puro interesse financeiro. (A Andreessen Horowitz, por exemplo, investiu US$ 400 milhões na aquisição do Twitter por Musk.) E parte disso pode refletir a boa vontade que sobrou dos sucessos de Musk na Tesla e na SpaceX.

Mas, ao ligar para executivos de alto escalão e investidores influentes no Vale do Silício nas últimas semanas, fiquei surpreso com a quantidade de pessoas que torcem por Musk - mesmo que não admitam isso publicamente.

Os defensores de Musk apontam que o Twitter não entrou em colapso ou ficou offline, apesar de perder milhares de funcionários, como alguns críticos previram. Eles veem seu estilo severo de gerenciamento como um corretivo necessário e acreditam que ele será recompensado por cortar custos e impor leis.

As elites da tecnologia não apoiam Musk simplesmente porque gostam dele pessoalmente ou porque concordam com suas cruzadas políticas anti militância. (Embora algumas gostem e concordem.)

Em vez disso, elas o veem como o porta-estandarte de uma visão de mundo emergente que esperam alcançar de forma mais ampla no Vale do Silício.

O escritor John Ganz chamou essa visão de mundo de "bossism" ("chefismo" em tradução livre) - uma crença de que as pessoas que constroem e administram importantes empresas de tecnologia cederam muito poder a trabalhadores que acham que merecem tratamento especial, são preguiçosos e excessivamente militantes e eles precisam começar a recuperar esse poder.

Na narrativa de Ganz, os principais proponentes do "bossism" no Vale do Silício - incluindo Musk e os financistas Marc Andreessen e Peter Thiel - estão aproveitando a oportunidade para puxar a cultura da indústria de tecnologia fortemente para a direita, derrubando os trabalhadores esquerdistas e os simpatizantes desses trabalhadores enquanto restabelecem a si mesmos e a seus colegas chefes a seus devidos lugares no topo do totem.

Alguns simpatizantes de Musk realmente veem as coisas em termos muito rígidos e politizados. O escritor e fundador de criptomoedas Antonio García Martínez, por exemplo, saudou a aquisição do Twitter por Musk como "uma revolta do capital empresarial" contra os "vigaristas do ESG" e "pessoas de cabelo colorido" que povoam empresas como o Twitter.

Mas enquanto alguns CEOs de tecnologia podem culpar uma célula adormecida de especialistas em estudos de gênero por seus problemas, muitos dos fãs de elite de Musk aderem a um tipo de chefe mais direto e no molde "faculdade de administração". Eles o admiram por gerir o Twitter com mão de ferro e fazer os movimentos que os executivos de tecnologia têm resistido por medo de afastar os trabalhadores - cortar empregos, eliminar benefícios, punir dissidentes internos, resistir aos esforços de diversidade e inclusão e forçar os funcionários a voltarem ao escritório.

Esses chefes acreditam que, na última década, uma indústria de tecnologia em expansão e uma escassez de talentos forçaram muitos CEOs a fazer concessões irracionais. Eles mimavam os trabalhadores com regalias como refeições luxuosas e kombucha. Eles concordaram com o uso de aplicativos de bate-papo no local de trabalho como o Slack, que nivelou as hierarquias do escritório e deu aos trabalhadores juniores uma maneira de desafiar diretamente a liderança. Eles se curvaram para ceder às demandas dos trabalhadores - workshops sobre diversidade, igualdade e inclusão, políticas flexíveis de trabalho remoto, dias de bem-estar na empresa - para mantê-los felizes e impedi-los de ir para um concorrente.

Então, Musk apareceu no Twitter e se recusou a fazer isso. Em vez de tentar cair na simpatia dos funcionários do Twitter, Musk demitiu muitos deles e desafiou os demais a pedir demissão - forçando-os a atestar que estariam sendo "extremamente duros" se quisessem manter seus empregos. Ele já havia feito isso antes em suas outras empresas. Mas no Twitter, ele fez tudo abertamente, usando sua conta no Twitter como um porrete para manter os trabalhadores na linha.

Os chefes podem não concordar com todos os movimentos de Musk, mas muitos deles acham que ele está certo de forma geral. As empresas de tecnologia estão inchadas e improdutivas. Os departamentos de RH foram longe demais em suas políticas. Os trabalhadores devem deixar de ser ativistas e se concentrar em fazer seu trabalho.

Musk não é o primeiro líder em tecnologia a divulgar essas opiniões. Empresas como Coinbase, Kraken e Basecamp tentaram limitar o ativismo dos funcionários nos últimos anos, com resultados discutíveis. (Mais recentemente, a Meta proibiu os trabalhadores de discutir tópicos "perturbadores" como aborto e direitos a armas em fóruns no local de trabalho.)

O que é diferente agora é o pano de fundo. Pela primeira vez em quase duas décadas, as pressões econômicas cortaram os lucros da indústria de tecnologia e as empresas que antes não poupavam despesas para manter os trabalhadores felizes estão com dificuldades e conduzindo demissões. Executivos com preços de ações em queda estão se declarando "CEOs em tempo de guerra", e trabalhadores que poderiam ter ameaçado trocar seus empregos por outros mais confortáveis um ano atrás agora estão se segurando para salvar suas vidas.

Tudo isso alterou a força dos trabalhadores para os chefes.

"Quando o mercado de trabalho se afrouxa, a atenção que a administração dá aos desejos dos funcionários - sejam regalias no local de trabalho ou melhores políticas de diversidade, igualdade e inclusão - pode diminuir, simplesmente porque eles têm menos necessidade de oferecer essas coisas para recrutar ou reter", disse Margaret O'Mara, uma professora de história da Universidade de Washington que escreveu sobre a cultura trabalhista do Vale do Silício.

Em outras palavras, Musk escolheu o momento certo para iniciar uma revolução administrativa. Agora, a pergunta é: quantos outros chefes o seguirão? /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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Estadão
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