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Em meio a "cerco total", crise humanitária se agrava em Gaza

12 out 2023 - 10h16
(atualizado às 20h43)
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Autoridades palestinas alertam que população civil está à beira de "catástrofe humanitária". Retaliação de Israel ao Hamas cortou fornecimento de comida, água, combustível e energia. Deslocados passam de 420 mil.Em meio à escassez de suprimento vitais na Faixa de Gaza, a crise humanitária tem se escalado no enclave à medida que se intensificam os bombardeios israelenses à região, em retaliação ao devastador ataque terrorista cometido pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas no fim de semana.

Intensos ataques aéreos também miram infraestrutura crítica para a sobrevivência dos residentes
Intensos ataques aéreos também miram infraestrutura crítica para a sobrevivência dos residentes
Foto: DW / Deutsche Welle

Nesta quinta-feira (12/10), palestinos faziam fila em frente a padarias e mercados na tentativa de estocar comida, após passarem a noite cercados pelas ruínas de bairros pulverizados e sem luz, devido a um corte quase total de energia elétrica.

Após a ofensiva do Hamas no último sábado, o governo em Israel ordenou um "cerco total" à região, interrompendo todo o fornecimento de comida, água, combustível e energia para o enclave, espremido entre Israel, Egito e o Mar Mediterrâneo. Intensos ataques aéreos também miram infraestrutura crítica para a sobrevivência dos residentes.

Dois terços da eletricidade consumida em Gaza dependiam de fornecimento israelense. Com o corte, o enclave passou a depender exclusivamente de uma termelétrica local, que também ficou sem combustível na quarta-feira, segundo autoridades palestinas. Há temor de que o corte total de energia afete duramente os hospitais locais, já superlotados de feridos nos ataques aéreos.

Falando à rede Al Jazeera, o repórter Nedal Samir Hamdouna, baseado em Gaza, disse que as condições no enclave sitiado "se assemelham a um inferno". "Não tenho palavras para descrever como é terrível a situação aqui", disse.

Crise de energia e água

Nesta quinta, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) afirmou que o pouco combustível que ainda resta em Gaza para operar geradores deve acabar em algumas horas, afetando inclusive o funcionamento de hospitais.

"À medida que Gaza perde energia, os hospitais perdem energia, colocando em risco os recém-nascidos em incubadoras e pacientes idosos que recebem oxigênio. A diálise renal é interrompida e os raios X não podem ser feitos", disse Fabrizio Carboni, diretor regional do CICV. "Sem eletricidade, os hospitais correm o risco de se transformar em necrotérios."

Já a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) alertou para a crise hídrica na região. "Os abrigos estão superlotados e têm disponibilidade limitada de alimentos, itens não alimentares e água potável", disse o órgão em comunicado.

"Uma crise hídrica está iminente nos abrigos de emergência da UNRWA e ao longo da Faixa de Gaza devido à infraestrutura danificada, falta de eletricidade necessária para operar bombas e usinas de dessalinização e fornecimento limitado de água no mercado local", continua o texto. "O abastecimento de água não pode ser restabelecido devido ao bloqueio total da Faixa de Gaza pelas autoridades israelenses."

Mortos e deslocados

Organizações de ajuda internacional alertaram ainda que o número de mortos em Gaza pode aumentar ainda mais em meio ao cerco, que foi denunciado pela ONU como uma violação do direito humanitário internacional. Em apenas seis dias, o conflito entre o Hamas e Israel já deixou mais de 2,5 mil mortos de ambos os lados.

O número de pessoas deslocadas também aumentou cerca de 30% só nas últimas 24 horas. Segundo o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, 423.378 habitantes da Faixa de Gaza, que tem população de pouco mais de 2 milhões, estão em deslocamento.

Muitos se abrigam em escolas administradas por uma agência de ajuda humanitária das Nações Unidas, sendo que duas delas foram atingidas por ataques aéreos israelenses. Entre os alojados em escolas estão 13 brasileiros que aguardam retorno ao Brasil.

Apelos da ONU

O representante palestino na ONU, Riyad H. Mansour, fez um apelo pelo envio de ajuda humanitária aos palestinos no enclave, a fim de que se evite uma "catástrofe iminente".

"Continuaremos o contato com todos, incluindo o Conselho de Segurança, para que a comunidade internacional assuma sua responsabilidade, entre em cena e ponha fim a este ataque contra nosso povo. Mas mais importante, isso requer - é claro - o envio de assistência humanitária aos 2,3 milhões de palestinos que vivem na Faixa de Gaza. Tem que haver uma intervenção humanitária para evitar uma catástrofe iminente", disse Mansour.

Seguindo o mesmo tom, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez ainda um alerta sobre a escassez de suprimentos médicos na região.

"Precisamos de mais suprimentos para traumas. Precisamos de fluidos intravenosos, precisamos de curativos, precisamos de equipamento anestésico, precisamos de equipamento cirúrgico e todos os diferentes suprimentos, equipamentos, medicamentos que você possa precisar para lesões traumáticas graves", declarou Rick Brennan, diretor de Emergência do escritório regional da OMS no Mediterrâneo Oriental.

Mas à medida que prosseguem os esforços diplomáticos para abrir corredores humanitários aos moradores de Gaza, existe o receio de que, para muitos palestinos, a ajuda não chegue a tempo.

Ofensiva terrestre

Além do cerco, as Forças Armadas de Israel têm concentrado milhares de tropas nos arredores da Faixa de Gaza, indicando uma potencial invasão iminente por terra do território palestino.

O tenente-coronel Richard Hecht disse a repórteres nesta quinta-feira que as forças "estão se preparando para uma manobra terrestre, caso isso seja decidido".

O governo isralense está sob intensa pressão para derrotar o Hamas, que governa Gaza desde 2007. Israel convocou cerca de 360 mil reservistas e ameaçou com uma resposta sem precedentes à incursão sangrenta e abrangente do Hamas no fim de semana.

O Exército israelense afirma que mais de 1,2 mil pessoas, incluindo 189 soldados, foram mortas em Israel, um número impressionante que não se via desde a guerra de 1973 com o Egito e a Síria, que durou semanas.

As forças israelenses disseram que, no momento, têm como alvo os líderes militares e políticos do Hamas, a quem atribui a responsabilidade pelo ataque do fim de semana. Quatro rodadas anteriores de combates entre Israel e o Hamas entre 2008 e 2021 terminaram de forma inconclusiva, com o Hamas abatido, mas ainda no controle da região.

ek/md (Reuters, AP, DPA, ots)

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