Endossos: Trump e Milei
Faltam apenas alguns dias para as eleições que afetarão a marcha mundial. No Oriente Médio, esperam para ver se Donald Trump ou Kamala Harris vencem para decidir como avançar no conflito militar entre Israel, parte dos seus vizinhos e o Irã. Na Europa e na Rússia esperam que o mesmo defina como continuar o conflito militar entre a Ucrânia e a Rússia. E na Argentina também se espera ver se o novo presidente dos Estados Unidos será Trump ou Harris para terminar de prever os cenários econômicos mais prováveis, não só o Governo e a oposição, mas as principais empresas a realizarem os seus negócios de 2025 e planos de investimento.
Ainda na semana anterior, o ex-editor do jornal The Washington Post, Martin Baron, esteve em Buenos Aires, com prestígio próprio por já ter ganhado o Prêmio Pulitzer pela investigação de casos de pedofilia eclesiástica que deu origem ao filme Spotlight. E em várias entrevistas que concedeu, disse ter encontrado muitas semelhanças entre Trump e Javier Milei: "Eles são esquisitos, odeiam a imprensa". Além disso, referiu-se às deficiências republicanas de ambos: "Eles são aspirantes a autocratas", embora economicamente sejam opostos, demonstrando indiretamente que a popularidade de Milei - tal como a de Trump - não reside inteiramente nas suas ideias econômicas, mas nas suas formas de propor soluções simples com energia e resolução combinadas com um estilo de comunicação brutalista.
Baron considera Trump uma séria ameaça à democracia: "Trump e Milei criticam constantemente a imprensa com a ideia de minar o seu papel numa democracia", e criticaram certos meios de comunicação que "fazem da polarização um modelo de negócio, porque "os tribunos políticos precisam".
Por sua vez, dono do The Washington Post desde 2013, quando comprou o jornal dos descendentes do fundador, Jeff Bezos, faz parte do clube dos novos superricos da economia digital e com a sua Amazon seria algo como o norte-americano Galperin, mas Bezos não tem a habitual posição libertária neste tipo de fortunas feitas em poucos anos e difere do igualmente bem sucedido e controverso dono da Tesla e dos SpaceX e X, Elon Musk, que salta feliz como um criança no palco onde Trump faz campanha, demonstrando o existência de múltiplas formas de inteligência e como alguém que é um génio na geração de riqueza não tem necessariamente de ser emocionalmente rico.
Mas face a estas eleições, Bezos comoveu todo o establishment jornalístico ao impedir, pela primeira vez em décadas, que o The Washington Post publicasse o tradicional endosso que era mais uma vez a favor de um candidato do Partido Democrata, desta vez promovendo o voto a favor. Kamala Harris, um endosso que também já foi escrito pelo chefe das páginas editoriais. E ao ouvir a notícia, Martin Baron chamou a decisão de "um ato de covardia".
O que Bezos fez contrasta extremamente com a posição do The Washington Post, também de sua propriedade, na primeira eleição de Donald Trump em 2016, quando no endosso o jornal escreveu: "O candidato do Partido Republicano, Donald Trump, é terrível, ele não se qualifica para ser candidato a presidente."
Já em 2016 houve vários jornais que se recusaram a apoiar, argumentando que os candidatos eram demasiado fracos (eram o próprio Trump e Hillary Clinton) e foram criticados pelos seus colegas alegando que, precisamente, nos momentos mais cinzentos e difíceis os jornais a obrigação de ter coragem para tomar decisões difíceis e arriscadas.
Outro escândalo semelhante ao do The Washington Post ocorreu há poucos dias com o maior jornal da Costa Oeste dos Estados Unidos. O dono do jornal Los Angeles Times também impediu a publicação do seu tradicional endosso, novamente a favor do democrata. Candidato do partido que motivou a renúncia da diretora das páginas editoriais, Mariel Garza. Ele disse à Columbia Journalism Review: "Estou renunciando porque quero deixar claro que não concordo com nosso silêncio. Em tempos perigosos, as pessoas honestas devem se levantar. É assim que eu estou."
Exceto no caso das publicações do site Perfil, na Argentina não há tradição de os jornais recomendarem explicitamente o voto a favor ou contra um candidato dependendo das circunstâncias do primeiro turno ou votação: no caso do PERFIL, a favor de Alfonsín e Lavagna, contra Menem, Néstor e Cristina Kirchner e Milei. Também não existe na Argentina a tradição de processar judicialmente o Poder Executivo, como também é costume nos Estados Unidos; Um dos muitos exemplos são os Pentagon Papers, que não teriam sido publicados se os jornais The New York Times e The Washington Post não tivessem apelado ao Supremo Tribunal de Justiça norte-americano para revogar a censura imposta pelo Presidente Nixon em 1972. PERFIL também segue a tradição norte-americana nesse sentido com notável sucesso diversas vezes, ultrapassando o limite da arbitrariedade e do abuso de poder por parte de diferentes governos e estabelecendo precedentes.
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