A Companhia Vale do Rio Doce decidiu alugar cerca de 40 grandes geradores de 1,7 MW cada para não ter de reduzir a produção nas suas principais atividades em função do racionamento de energia, disse o presidente da empresa nesta sexta-feira. ``A Vale não será atingida nas suas coronárias. Vamos manter as principais atividades sem necessidade de corte de produção'', disse Jório Dauster a jornalistas. Os geradores já estão sendo importados pela empresa e se assemelham a containers, explicou Dauster, que estimou em cerca de 40 milhões de dólares o gasto com o aluguel do equipamento. A iniciativa da Vale, na avaliação pessoal do presidente da companhia, deveria ser seguida pelo governo. ``Em algum momento (o governo) terá que estudar a possibilidade de comprar energia adicional, aquela que ele está obrigando a todos a poupar'', disse o empresário.
Ele informou que as atividades principais da companhia --mineração, pelotização e logística (portos e ferrovias)-- que não tem grande necessidade de consumo de energia, chamadas não eletrointensivas, correspondem a 91 por cento da receita total da Vale, que em 2000 foi de 5,6 bilhões de dólares.
Já os setores de alumínio e ferro-ligas --atividades que necessitam de muita energia ou eletrointensivas-- terão de ser submetidos a medidas que reduzam em 25 por cento o consumo de energia, conforme determinou o governo em seu plano de racionamento que entrou em vigor nesta sexta-feira para os setores industriais e de comércio.
No caso de ferro-ligas, a redução da produção em 25 por cento dará um prejuízo de 26 milhões de dólares em seis meses, período previsto para o plano de racionamento.
As plantas de ferro-ligas da Vale ficam na Bahia e em Minas Gerais e terão alguns fornos desligados para redução da produção. Com isso, a previsão é de que as vendas externas da empresa sejam menores. ``Vamos garantir o fornecimento para os clientes no Brasil e na América Latina, sobretudo na Argentina'', disse. Além disso, a Vale pretende mudar o ``mix'' na planta que opera na França, para atender clientes que não puderem ser atendidos pela produção brasileira.
``Não vamos precisar quebrar contratos, vamos produzir na França o que não der para produzir aqui'', informa.
No alumínio, para amenizar o impacto econômico, a Vale vai reduzir a produção de lingotes, que têm menor valor agregado, e ampliar a fabricação de produtos com maior valor.
A Vale tem duas fábricas de alumínio, a Albrás, localizada no norte do país e que a princípio não está sujeita a cortes de produção, e a Aluvale, no Rio de Janeiro, que contribuiu apenas com 0,63 por cento do lucro de mais de 2 bilhões de reais que a Vale obteve no ano passado.
A preocupação de Dauster no caso do alumínio, ``e de todos os produtores do setor'', segundo ele, é com o fato do governo estar tratando a indústria como uma coisa única. ``No caso do lingote de alumínio, que é uma commodity, é fácil substituir, fazer uma acomodação, mas os produtos de maior valor agregado teriam que ter um tratamento diferente'', disse Dauster.
Ele informou que os produtores estão tentando a redução da meta de economia de energia de 25 por cento para esta área.
Dauster admitiu, inclusive, que dependendo da continuidade da crise, seria possível a Vale estudar a suspensão das operações da Valesul. ``Dependendo da redução da produção, às vezes pode ser mais vantajoso fechar a Valesul'', disse. Ele também considera a transferência de parte da produção da Albrás, que não será afetada em um primeiro momento, para atender a demanda do sudeste, se for necessário. ``Mas acho que a demanda também vai cair, afinal, o vendedor de panela também vai ter que reduzir o consumo'', explica.
Dauster disse ainda, que a Vale não vai demitir nenhum funcionário por causa da crise energética, ``pelo menos nos próximos seis meses''. A Vale é a maior consumidora de energia do país, com 4,5 por cento do total produzido, ou 13,7 milhões de megawats, e produz apenas cerca de 100 megawatts, na usina de Igarapava, em Minas Gerais.
Os projetos para aumento de geração de energia em andamento somam 460 milhões de dólares e 1,2 mil megawatts, referentes à construção de seis hidrelétricas, sendo que apenas a usina de Porto Estrela, em Minas Gerais, de 112 megawatts, entrará em operação este ano.