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Consumidores fazem fila para comprar ferro a carvão

Sábado, 02 de junho de 2001, 08h59

A exemplo do verão, que todos os anos ganha uma musa, e do carnaval, que elege suas rainhas, o apagão não poderia deixar barato e já conseguiu uma vedete: o ferro a carvão. O produto desapareceu das lojas especializadas desde que o governo começou a impor metas de consumo de eletricidade à população. Nos antiquários da cidade, o ferro a carvão é considerado mais que raridade e, em algumas lojas, já existem até listas de espera.

Há comerciantes, entretanto, que enxergam um certo exagero por parte da população. Outros, não escondem a satisfação com o interesse dos consumidores em uma "novidade", que há bem pouco tempo era usada apenas para decoração. No Saara, o maior shopping a céu aberto do país, não era possível encontrar um único ferro a carvão na manhã de ontem. Na Casa Coelho, na Rua da Conceição, onde são vendidos fornos a lenha, churrasqueiras e objetos decorativos, a lista de espera tinha quinze nomes.

"O estoque de ferro a carvão acabou nas últimas duas semanas. Fizemos novo pedido, mas a fábrica não entregou até agora", explicou a gerente Maria Auxiliadora Mol, 49 anos, acrescentando que os clientes chegam a ficar decepcionados por não encontrar o produto. Segundo ela, o estoque de lampiões a querosene também se esgotou.

No momento, as lojas de antiguidades são a melhor alternativa para quem quer passar roupas sem gastar um único quilowatt de energia. Mesmo assim, vai ser preciso insistir muito. Localizada na Rua do Lavradio, a loja Empório 100, ainda expõe um ferro a carvão na vitrine. Mas a gerente, Rosana Vicente, 40 anos, não sabe ainda se vai vendê-lo.

"As pessoas estão um pouco piradas com esta história de racionamento. Saem comprando tudo e acabam dando munição para os especuladores. É por isso que não tem mais lâmpada fluorescente no mercado", critica. Aproveitando a onda do racionamento, o antiquário Plínio Fróes, vizinho de Rosana, está organizando para amanhã, na Rua do Lavradio, uma exposição de ferros a carvão, candeeiros, fogões a lenha e móveis antigos. "Este é um momento em que algumas destas peças voltaram a ter importância, ainda que por um curto período", justifica.

Nas fábricas, a procura pelo "novo" equipamento ainda não foi sentida. Segundo Adilson da Silva Oliveira, 49 anos, sócio-gerente da Fundição Sorinco Ltda., de Minas Gerais, não houve necessidade de aumentar a produção. "Mas se a demanda aumentar muito, estamos preparados", comemora.

O gerente de Marketing da Rhodia Poliamida América do Sul, de São Paulo, Luís Augusto Barbosa, 39 anos, lembra que a rusticidade do ferro a carvão pode danificar a roupa. "Como o acabamento dele é rústico, alguma ranhura poderá puxar os fios da roupa", observou.

Para evitar problemas, Luís Barbosa aconselha o usuário a seguir algumas recomendações. Uma delas é usar um tecido intermediário como proteção. "Além disso, é preciso pulverizar água antes de usar o ferro quente. Sem estes cuidados as roupas correm risco de ir para o lixo", concluiu. Já o estilista André Camacho, 23 anos, não aceita o ferro a carvão. "Não funciona nos tecidos de hoje", afirma.

Fonte : JB Online

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