A crise no setor energético foi a principal responsável por uma mudança qualitativa no cenário econômico e político do País, na avaliação do ex-secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), José Roberto Mendonça de Barros. "Antes da crise, o cenário era de perspectiva de crescimento a taxas de 4% em 2001 e 2002, queda nas taxas de desemprego e situação política favorável para que Fernando Henrique Cardoso fizesse um sucessor", afirmou. "O anúncio do plano de racionamento foi um choque. Não há paralelo do que aconteceu em maio em relação à deflação no consumo. E o cenário mudou não por causa da Argentina ou outros fatores internacionais, mas principalmente pela crise de energia".
De acordo com o economista, deve prevalecer em um primeiro momento um efeito deflacionário na economia brasileira. "A economia de energia das famílias se traduz em queda voluntária do padrão de vida. Os cortes das empresas no trabalho noturno como opção para alcançar a meta prevista no plano de racionamento se traduziram instantaneamente em diminuição na renda, por não contarem mais com o adicional noturno. Isso resulta em uma sobra de produtos e redução da pressão inflacionária", afirmou.
A expectativa do economista é de que o plano de racionamento prossiga até, pelo menos maio ou junho de 2002. "Só então poderá ser feita uma avaliação dos níveis dos reservatórios que indique se o racionamento pode ser suspenso". José Roberto Mendonça de Barros participou hoje de palestra sobre as perspectivas do setor externo brasileiro, promovida pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá, em São Paulo.