Entre os países com mais tatuados, Brasil é referência no estilo neo-asian
Com releitura futurista de desenhos tradicionais asiáticos, tatuador de São Paulo ganha destaque no exterior.
Uma das expressões mais antigas da humanidade, com registros que datam de 3 mil anos antes de Cristo, a tatuagem foi de adorno tribal a símbolo de criminalidade, até alcançar o posto atual de fenômeno popular, estampada na pele de celebridades e com adeptos no mundo inteiro. Os desenhos, antes determinados pelo local, cultura e crenças do tatuado, agora são influenciados por tendências que se espalham globalmente via redes sociais. "De tempos em tempos, algum elemento da cultura pop cai no gosto do público e vira moda nos estúdios de tattoo", comenta o tatuador Wallace Herrera, do Malk Custom Tattoo, em Sertãozinho, interior de São Paulo.
Segundo pesquisa do Instituto Alemão Dalia, de 2019, o Brasil ocupa a 9ª posição entre as nações onde mais as pessoas se tatuam, atrás de países como a Itália, com 48% da população, Suécia com 47%, e os Estados Unidos com 46% de pessoas tatuadas. De acordo com o Sebrae, o mercado de tatuagens cresce 25% ao ano no Brasil, com mais de 150 mil estúdios em todo país.
Especializado no estilo neo-asian, Wallace combina desenhos tradicionais japoneses com motivos futuristas, estilo capitaneado pelo ilustrador japonês Hajime Sorayama. "Embora a tatuagem ainda seja um tabu em alguns países asiáticos devido à sua associação com gangues, o Ocidente abraçou o legado cultural das tattoos de estilo Irezumi e a evolução desse look vem ganhando fãs no Brasil e no mundo", afirma o profissional, que teve seu trabalho destacado pela publicação especializada "Wa Modern 2020", do Japão, país que só no ano passado reconheceu a tatuagem como arte corporal, liberando profissionais da área de apresentar licença médica para atuar.
Se de um lado os japoneses levaram tempo para legalizar a arte da pele tatuada, por outro, a estética oriental é uma das mais populares em estúdios de tattoo no mundo inteiro, do kanji (alfabeto japonês) a imagens de gueixas, guerreiros, dragões e outros seres mitológicos da cultura oriental. Com o avanço do estilo no Ocidente, esses desenhos tradicionais ganharam releituras feitas para uma nova geração de tatuados, mais ligada em tecnologia, distopia e cultura pop.
Vem daí o sucesso de artistas como Sorayama. Suas pinturas precisas feitas com aerógrafo fundem ficção científica, erotismo pin-up e elementos tradicionais da cultura japonesa. A estética inspirou Hollywood e foi parar em filmes como "Ghost in the Shell", com Scarlett Johansson, e "Alita: Anjo de Combate". A moda também se rendeu a arte do japonês, que estampou a coleção masculina outono-inverno 2019 da Dior, com direito a muita flor de cerejeira e uma pin-up robô gigante na passarela.
Na pele, o estilo retrô-futurista asiático vem conquistando cada vez mais adeptos, especialmente entre o público feminino. "Por conta do traço fino e dos desenhos que misturam força e delicadeza, as mulheres procuram muito esse tipo de tattoo", afirma Wallace, que foi convidado a exibir seu trabalho na Califórnia na próxima Golden State Tattoo Convention, que acontece em setembro. "A influência japonesa em São Paulo, que tem uma grande comunidade imigrante do Japão, faz com que os tatuadores daqui se destaquem no estilo neo-asian, ainda não muito desenvolvido nos Estados Unidos", conta.
Website: http://sorayama.jp/