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Era de incertezas: os riscos e desafios econômicos do novo governo Trump

Vitória do republicano poderá conferir aos EUA a capacidade de exportar efeitos de suas políticas monetárias como medidas expansionistas para sustentar a sua economia

6 nov 2024 - 13h52
(atualizado às 14h04)
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O processo político dos Estados Unidos (EUA) tem grande impacto na economia global devido à sua importância comercial e financeira, além do privilégio de emitir a principal moeda internacional. Os EUA detêm a maior economia do mundo, com PIB estimado em US$ 28,78 trilhões (FMI). Nesse cenário, a vitória de Donald Trump nas eleições representa uma fonte de incerteza econômica para o mundo.

Esse status permite ao país influenciar a liquidez e o financiamento globais pelo dólar, a principal moeda de transação mundial. Esse papel de liderança confere aos EUA a capacidade de exportar os efeitos de suas políticas monetárias — como a recente adoção de medidas altamente expansionistas para sustentar a economia após a pandemia.

O dólar é amplamente visto como ativo seguro, e títulos do Tesouro americano são considerados dos mais confiáveis, atraindo capital internacional mesmo em períodos de juros baixos. Metade dos títulos de dívida internacional e empréstimos transfronteiriços emitidos em mercados offshore são em dólar.

O domínio comercial do dólar é expressivo: entre 1999 e 2019, a moeda representou 96% das faturas comerciais nas Américas, 74% na Ásia-Pacífico e 79% no mundo (FMI). Esse uso sublinha a influência direta das decisões econômicas dos EUA sobre outras economias, especialmente países emergentes que dependem de financiamento em dólar e são mais vulneráveis às flutuações da moeda americana.

Em 2023, o comércio de bens entre Brasil e EUA totalizou US$ 75 bilhões, consolidando os EUA como o segundo principal destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China. As exportações brasileiras para os EUA somaram US$ 36,9 bilhões, com destaque para produtos da indústria de transformação, como siderurgia, metalurgia e aeronaves.

As importações brasileiras de produtos norte-americanos representaram 15,8% das importações do país, posicionando os EUA como o terceiro maior fornecedor de bens ao Brasil. Além disso, a relação bilateral se estende aos setores de serviços e investimentos, evidenciando a diversidade dos laços econômicos entre as duas nações.

O Brasil recebeu US$ 10 bilhões em investimentos diretos dos EUA em 2023, acumulando US$ 91,9 bilhões na última década, com um estoque de US$ 229 bilhões até 2022. Esses investimentos se concentram em setores como financeiro, petróleo e gás, serviços de TI e manufatura, gerando cerca de 92 mil empregos.

Na campanha presidencial de 2024, tanto Trump quanto Harris defenderam uma ação mais intervencionista na política econômica dos EUA, refletindo uma tendência observada nas economias desenvolvidas, que rejeitaram políticas liberalizantes em favor de maior intervenção fiscal e monetária, além de medidas protecionistas no comércio internacional.

As guerras na Ucrânia e em Israel possuem uma dimensão econômica significativa. O ex-presidente Joe Biden justificou o apoio militar a esses países como meio de impulsionar a indústria bélica dos EUA, setor com forte efeito multiplicador na economia americana. Esse contexto contribui para uma atmosfera onde o intervencionismo passa a ter mais protagonismo nas discussões de política econômica.

Trump propôs cortes de impostos e incentivos fiscais, incluindo a manutenção da Lei de Cortes de Impostos e Empregos, redução da taxa de imposto corporativo de 21% para 15%, e o fim da tributação sobre gorjetas.

Em comparação com Kamala Harris, as propostas fiscais de Trump priorizam o crescimento econômico e a autonomia energética dos EUA, com menor foco na desigualdade.

Caso a oferta de bens e serviços nos EUA não acompanhe a demanda, existe o risco de aumento da inflação, especialmente em um contexto de baixo desemprego. No comércio internacional, Trump prometeu intensificar o protecionismo, com tarifas de importação de até 20% sobre produtos estrangeiros, incluindo europeus, e de até 60% sobre produtos chineses. Essa política poderia ampliar as tensões comerciais com a China e estimular o país asiático a fortalecer laços com adversários dos EUA, como Rússia e Irã.

Trump também pretende expandir a produção de combustíveis fósseis, revertendo incentivos a fontes de energia limpa, em busca de autossuficiência energética e menor dependência externa. Esse enfoque pode afetar a oferta global de energia e impactar mercados internacionais.

A abordagem imprevisível de Trump amplia as incertezas e pode trazer riscos à economia global. Caso os EUA enfrentem inflação de demanda, o Federal Reserve poderia aumentar as taxas de juros, levando a uma saída de capitais de economias emergentes, que sofreriam com a depreciação de suas moedas e complicações na importação de insumos essenciais.

O estilo agressivo de Trump em negociações políticas, embora populista, representa um risco à estabilidade econômica global. O ambiente de incertezas pode afetar aliados e parceiros comerciais dos EUA, que precisam lidar com volatilidade e possíveis impactos em relações comerciais e financeiras.

Apesar de certa estabilidade na política econômica dos EUA, a eleição de Trump em um cenário global instável cria grandes incertezas para parceiros comerciais. Ainda assim, o Brasil pode encontrar oportunidades em setores estratégicos, aproveitando possíveis reconfigurações econômicas para se destacar no cenário internacional.

The Conversation
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Foto: The Conversation

Euzébio de Sousa não presta consultoria, trabalha, possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de seu cargo acadêmico.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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