Escritório aberto prejudica concentração e produtividade, constata estudo
Cientistas japoneses confirmam o que já se suspeitava: conversas paralelas em escritórios abertos são veneno para a concentração. Estudo mostra que elas perturbam até mais do que outros ruídos.Muitas pessoas já passaram por essa situação: um funcionário quer se concentrar em seu trabalho, mas, na mesa ao lado, dois colegas discutem animadamente sobre um novo projeto, e, para completar, um terceiro telefona há meia hora com um cliente importante, em alto e bom som. Quem se distrai com tudo isso é que está errado?
Não, afirma um estudo realizado recentemente no Japão. Os ruídos em segundo plano distraem o raciocínio, principalmente em se tratando de conversas relacionadas ao trabalho.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade Yamaguchi, no Japão, liderada por Takashiro Tamesue, coordenou um experimento cujos participantes realizavam testes de atenção em computadores enquanto se escutava no ambiente uma gravação, ou de vozes ou de ruídos semelhantes, mas sem sentido. A pesquisa mostrou que os participantes tiveram resultados piores ao serem expostos às conversas reais do que aos ruídos.
Ondas cerebrais alteradas
Segundo o pesquisador japonês, que apresentou seus resultados num encontro da Sociedade Acústica dos EUA em Honolulu, no Havaí, no início de novembro, "conversas no ambiente costumam atrapalhar o trabalho em empresas que mantêm escritórios abertos". O estudo sugere que o nível de ruído não é o único fator que impede a concentração do funcionário: depende também sobre que assunto se está conversando.
O bate-papo relacionado ao trabalho entre colegas atrapalha mais do que o barulho de uma autoestrada vindo do lado de fora, mesmo que ambos apresentem o mesmo volume. Até mesmo trabalhar num café barulhento, onde os clientes conversam sobre outros temas, pode ser mais produtivo do que num escritório coletivo.
Tamesue e seus colegas registraram num eletroencefalograma (EEG) as ondas cerebrais dos participantes do teste, enquanto seu nível de atenção era avaliado através de computadores. Quando os voluntários tinham que ouvir outras pessoas falando durante suas tarefas, dois sinais específicos eram muito mais baixos no EEG: o que representa a resposta cerebral a um estímulo, e o indicador de atenção seletiva. Segundo os pesquisadores, isso indica que a atenção seletiva e a memória estava prejudicada. Música, aliás, provocou o mesmo efeito.
Tamanduá no formigueiro
Muitos empregadores gostam de transformar as antigas salas para um ou dois funcionários em grandes escritórios coletivos, visando estimular a comunicação e a cooperação. No entanto a ciência tem repetidamente mostrado que esse tipo de local de trabalho não é uma boa solução. "Um escritório aberto é o lugar mais ideal para impedir o trabalho das pessoas", comentou o coach profissional Martin Wehrle no site Spiegel Online. "Escritórios abertos afetam a produtividade dos funcionários como um tamanduá num formigueiro."
Em 2000, o psicólogo Gary Evans, da Universidade Cornell, em Ithaca, nos EUA, e seus colegas encontraram níveis elevados de adrenalina, o hormônio do estresse, na urina de empregados que trabalham em grandes escritórios. Eles também eram menos motivados para realizar suas funções.
Pesquisadores dinamarqueses relataram em 2011 que empregados de escritórios abertos pedem licença médica com maior frequência. Ainda não se pôde determinar se tal se deve ao estresse ou ao fato de agentes patogênicos se espalharem mais facilmente nesses espaços.
Em 2008, Vinesh Oommen e seus colegas da Universidade de Queensland, Austrália, fizeram uma meta-análise a partir de dados científicos disponíveis sobre escritórios abertos, concluindo que seus funcionários "são confrontados com uma série de afecções, como perda de privacidade ou de identidade, desempenho fraco, numerosos problemas de saúde, sobrecarga sensorial e baixa satisfação profissional".
Muitos que exercem suas funções em grandes escritórios coletivos já registraram que não conseguem trabalhar tão bem. O recente estudo dos pesquisadores japoneses fornece uma explicação científica para essa sensação.