Ódio nos Bálcãs é um conflito social longe do fim
André Malinoski/Redação Terra
O conflito atual nos Bálcãs, em especial em Tetovo, a terceira maior cidade da Macedônia, era previsto em um sentido mais imediato. A opinião é do professor de História Contemporânea na UFRGS, do Paulo G. Fagundes Vizentini. A Otan apoiou guerrilheiros albaneses para a derrubada de Slobodan Milosevic do poder na Iugoslávia. O líder caiu, mas os rebeldes ficaram espalhados nos Bálcãs e armados. Agora, o Ocidente tenta frear o conflito na região, porque não existe um regime nem um inimigo.
A Iugoslávia era formada por federações no passado. Os sérvios estavam espalhados nestas áreas. Há cerca de dez anos, o processo de fragmentação da Iugoslávia ocorreu por causa da crise econômica, política e social, além da pressão dos vizinhos, como a Itália e a Alemanha. O motivo era a riqueza da Croácia e da Eslovênia. Restou uma espécie de tribalização política.
A região dos Bálcãs se tornou um foco da máfia e do crime, devido à pobreza, violência, fome que atingem a população, marcada pelas misturas étnicas. A possibilidade de uma nova formação federativa, como a URSS, é remota, como pensa o professor. Os estados são inviáveis e fragmentados. A própria Macedônia tem uma população total pouco maior do que Porto Alegre.
O conflito na Macedônia pode sofrer tréguas, mas está longe do fim. O exército macedônio vai revidar os ataques dos guerrilheiros albaneses. Ao mesmo tempo, a Otan deverá tentar bloquear o fluxo de armas aos guerrilheiros, porém não se terá grandes bombardeios. Não existe um exército regular na área. Os mesmos que atacaram a Iugoslávia, agora combatem na Macedônia.
Os Bálcãs representam o retorno de um pequeno nacionalismo. É a predominância dos crimes das grandes clãs nas repúblicas. A produção dos países da ex-Iugoslávia atualmente é apenas a metade do produzido há uma década. Tudo é uma luta política para surgir uma nova comunidade. E a luta tem a bandeira albanesa. Falta um projeto político, ideologia, um líder e um Estado, as pessoas estão perdidas nos Bálcãs. Se considera uma crise étnica, mas é um problema social.
Fonte: Paulo Vizentini (Professor Titular de História Contemporânea na UFRGS, além de Especialista em Integração Européia e Pós-Doutorado em Relações Internacionais pela London School of Economics)
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