Yasser Arafat, que escapou de mais de 50 atentados e muitas conspirações, vive suas horas mais difíceis. Enclausurado em seus escritórios em Ramalá, ele vê Israel ampliar sua ofensiva em resposta aos últimos ataques terroristas.
Aos 72 anos, Arafat, cujo nome em árabe - Yasser - significa "fácil" ou "sem problemas", já perdeu praticamente todos os símbolos do cargo para o qual foi escolhido pelos palestinos. Ele que representou seu povo em incontáveis encontros internacionais e diante de inúmeros governos, está hoje sob prisão domiciliar em um prédio semidestruido, sem luz nem água, e sob intenso cerco militar israelense. Mas a situação não é nova e o líder palestino já disse que pretende lutar.
O dirigente que, segundo seus assessores tem mais de "sete vidas", vem saindo vitorioso de todos os problemas que o destino pôs em sua frente. Primeiro foi a morte da mãe, Zahwa, quando tinha quatro anos. Já adolescente foi perseguido por sua atividade como dirigente estudantil, durante o curso de engenharia civil no Cairo.
Mais tarde combateu junto com o Exército egípcio na guerra do canal de Suez de 1956 e daí foi para o Kuwait onde trabalhou como empreiteiro até 1964. Arafat, que poderia ter ficado milionário durante esta etapa de sua vida, entretanto optou pela política. Uma de suas compensações pela escolha chegou em 1974, quando a Liga Árabe reconheceu a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que ele presidia, como "a única representante legítima do povo palestino".
Lutando pelo reconhecimento do Estado palestino, Arafat conseguiu vencer as adversidades quando tudo parecia estar acabado para ele. No final de agosto de 1982, por exemplo, ele - cujo nome de guerra é "Abu Amar" - e várias centenas de guerrilheiros tiveram que abandonar Beirute, onde tinham abrigo. A cidade havia sido cercada pelo Exército israelense que havia ocupado o Líbano, quando o hoje primeiro-ministro, Ariel Sharon, ostentava o cargo de ministro da Defesa.
O grupo ficou sem abrigo por pouco tempo. No dia 28 de agosto daquele ano o presidente tunisiano Zine al Abidín Ben Alí acolheu Arafat em Túnis. Durante seu exílio tunisiano, o Exército israelense bombardeou o quartel-general da central palestina e suas imediações causando mais de 60 mortos. Arafat e seus colaboradores conseguiram salvar-se. Outra vez que pôde escapar foi no dia 7 de abril de 1992, quando o avião em que viajava desapareceu no deserto da Líbia por causa de uma tempestade de areia. Três pessoas morreram, mas o líder palestino foi localizado no dia seguinte com pequenos ferimentos. Entretanto, no dia 1º de junho teve que ser operado na Jordânia para extrair um coágulo cerebral, conseqüência do acidente aéreo. Seguindo sua sina a operação foi um sucesso.
Para coroar esta história, depois de 12 anos de exílio no norte da África ele começou a colocar em prática a instalação do Estado palestino. No dia 11 de julho de 1994 ele se despediu de seus anfitriões tunisianos com honras de chefe de Estado a caminho da Autonômia palestina, que então englobava apenas Gaza e Jericó.
Agora, uma vez mais cercado, já avisou que só sairá livre ou "shahid", mártir.
Redação Terra/EFE