A imprensa as chama de "viúvas heróicas" ou "mães de mártires", mas a realidade das mulheres palestinas é muito mais prática e sua participação na guerra, embora indireta, acaba sendo essencial. A militarização da Intifada e a violência do conflito situaram as mulheres em um segundo plano. Excetuando os casos recentes de mulheres-bombas palestinas, elas são praticamente invisíveis nesta guerra.
"A primeira Intifada (1987-1993) era um movimento popular que incluía todos os setores da sociedade: homens, mulheres e crianças. Hoje em dia, a situação mudou radicalmente e os civis desapareceram", explicou Amneh Badran, diretora do Centro de mulheres de Jerusalém Leste. "Sua participação na Intifada não se vê, mas as mulheres são sua coluna vertebral", assegura Badran, lembrando "o enorme peso suplementar" que suportam devido ao conflito.
Encarregadas de manter unidos os lares atingidos pela guerra, as mulheres assumem cada dia mais o papel de chefes-de-família em uma sociedade ainda muito patriarcal. Cada vez mais as mulheres têm de buscar trabalho, embora só representem 12% da população ativa. O setor terciário, onde trabalham na maioria das vezes, foi o mais afetado pelo conflito. Além disto, são as mulheres que passam horas ante os postos de controle israelenses para buscar medicamentos e comida.
"Chamo-as de sobreviventes fantásticas, mas seu papel não é reconhecido", diz Maha Abu Dayyeh, diretora de um centro de conselho e assistência legal na parte leste de Jerusalém. "Poucas palestinas se encaixam no estereótipo de mães de mártires ou viúvas heróicas", adianta. "Não acho que todas as mães aceitem tão serenamente a idéia de que seu filho vai ser um camicase", diz Amal Jrieshe, responsável por uma associação de trabalhadoras palestinas em Ramalá. "Não lutamos pelo shahid (martírio), mas sim por nossa libertação nacional e nosso futuro Estado", explica.
"Atualmente, a prioridade é o conflito e a Autoridade Palestina não se ocupa das questões sociais, mas acho que se deve lutar já para determinar o tipo de sociedade que teremos mais tarde", considera Jrieshe. "Como mulher, não quero viver em um Estado islâmico, quero um Estado democrático", acentuou.
Mas a hora das mulheres palestinas parece não ter chegado. "A dinâmica mudou no interior das famílias e algumas aproveitam para afirmar-se, para reivindicar. Mas é uma minoria", disse Itidal Al-Jarery, que se ocupa em Ramalá de um programa contra a violência doméstica, fenômeno que aumenta junto com a intensidade do conflito. "A violência repercute nas famílias. Além disso, alguns homens, desestabilizados pela destruição do equilíbrio tradicional, precisam reafirmar sua autoridade", disse esta jovem, segundo a qual a família palestina "se debate atualmente entre a tradição e o liberalismo".
AFP