Tecnologias vestíveis têm tudo para dominar o streetwear
Encontro global Transitions Academy mostrou que o streetwear é o futuro dos óculos e que os smartglasses querem ser o futuro dos smartphones
Muito se fala sobre tênis de performance com chips para captar dados mais precisos e roupas com sensores. No entanto, atualmente, o que se tem de mais concreto na moda com tecnologias vestíveis são os óculos. Está surgindo uma revolução visual no mundo. Os líderes que emergirão da Geração Z não usarão ternos. O conceito de traje executivo tradicional, presente no imaginário dos Boomers ou da Geração X, já está morrendo nesta era. O eyewear precisa acompanhar esse movimento significativo. E há apenas uma resposta para isso: o streetwear.
O game changer na difusão desse conceito são as novas lentes Transitions Gen S - apresentadas no evento global Transitions Academy em Orlando, Estados Unidos - que oferecem uma variação de cores, graus e proteções tão ampla que pode ser aplicada em qualquer tendência de armação do mercado, seja ela esportiva como as da Oakley ou mais clássica, como as da Ray-Ban.
As Gen S são as lentes com o escurecimento mais rápido na categoria das fotocromáticas, com um tempo total de escurecimento de 25 segundos, 10 segundos a menos que as lentes anteriores. Além disso, elas também voltam a ficar claras em apenas dois minutos (duas vezes mais rápido que antes), com uma adaptação automática muito mais inteligente e dinâmica. Agora, estão disponíveis em oito cores exclusivas - grey, sapphire, emerald, amethyst, amber, graphite green, brown - incluindo a ruby, uma super tendência do mundo fashion que pela primeira vez aparece em óculos de grau.
Para efeito de comparação com lentes normais, as Gen S têm recuperação da visão 39% mais rápida em caso de luz intensa, recuperação da visão 40% mais rápida durante o desvanecimento, que é quando a lente fica mais clara novamente, e 39,5% de melhoria da sensibilidade ao contraste durante o desvanecimento. São dados como esses que colocam o streetwear no caminho para tornar os óculos cada vez mais presentes no dia a dia e que posicionam os celulares no caminho de se transformarem em óculos.
Pelo menos é essa a visão de futuro que a Meta traça e que tem a Transitions e as marcas do grupo EssilorLuxottica como grandes aliadas. A base desse caminho vem toda da área da saúde, com a diminuição do tempo de tela e até uma melhora da qualidade visual ao longo da vida das pessoas.
Hoje, já existem comandos de voz pelo celular, claro, mas, via de regra, o celular precisa estar na mão e as pessoas estão olhando para ele. Com o Ray-Ban Meta, certos comandos já não exigem que se olhe para lugar algum, bastando apenas a ordem e as câmeras fazem as funções dos olhos. Na próxima geração do dispositivo, já com lentes inteligentes, os olhos serão ainda mais poupados, por mais paradoxal que isso possa parecer.
Segundo o optometrista Jay Rosenfeld, as lentes de óculos mais comuns hoje são indicadas para distâncias próximas de 40 centímetros e para luzes estáticas, o que não vivenciamos na prática, com celulares grudados no rosto e uma variedade gigantesca de intensidades de luzes que passam pela nossa retina. As Gen S, segundo ele, com o grau adicionado conseguem variar melhor a eficiência da distância e, mesmo sem o grau adicionado, filtram as luzes de uma forma mais precisa, gerando mais saúde para os olhos ao longo dos anos.
Portanto, chegou o momento em que as pessoas poderão usar óculos como acessórios fashion e como artigo de melhoria da saúde dos olhos, não mais porque realmente necessitam deles para enxergar. "Nossas ações focadas em estilo acabarão com o 'droga, tenho que usar óculos' para dar início ao 'eu amo usar meus óculos'. Os óculos já são e serão ainda mais uma forma de autoexpressão e de identidade de estilo, com a adoção cada vez maior de tendências do streetstyle e com muitas cores e formas diferentes", afirma Nina Esteves, gerente global de tendências da EssilorLuxottica. E os dois grandes focos dessa iniciativa agora são o Brasil e a Ásia.
"Desenvolvimentos futuros incluem sensibilidade à luz aprimorada, integração com dispositivos inteligentes e experiências personalizadas para o usuário. Lentes futuras serão mais adaptáveis a diferentes estilos de vida e se integrarão com dispositivos inteligentes, já que as lentes fotocromáticas estão prestes a se tornar uma plataforma para interação com os mundos físico e digital", avalia Jérôme Butez, vice-presidente global de marketing da Transitions.
Reality Labs está focado nos óculos
O grupo de dispositivos da Meta, o Reality Labs, que atualmente já é focado em óculos, como o Quest de realidade virtual, é o braço tecnológico da EssilorLuxottica na empreitada dos óculos inteligentes. O contrato de longa duração entre as empresas já resultou no Ray-Ban Meta, do projeto Supernova, e terá nos próximos meses o Supernova 2, derivado do Oakley Sphaera.
A partir de 2026, as marcas preparam a chegada do Hypernova, a segunda geração dos óculos com IA que terão uma tela na parte inferior da lente direita que mostrará aplicativos simples, notificações do smartphone e fotos capturadas. O preço deverá ser na casa dos mil dólares, um valor alto. Mas o uso desses óculos definirá os próximos passos dessa transformação prevista pelas empresas de que os smartphones sejam substituídos por smartglasses nas próximas décadas.
De acordo com Rocco Basilico, chefe do escritório de wearables e presidente da Oliver Peoples na EssilorLuxottica, os dispositivos vestíveis estão redefinindo a indústria óptica e o grande desafio é a miniaturização para incorporar tecnologias avançadas em designs de óculos atraentes e icônicos. "Equilibrar tecnologia avançada com designs bonitos é crucial e estamos conseguindo isso. A tecnologia das lentes Transitions Gen S também representa um grande avanço de inovação contínua, contrastando com indústrias que mostram progresso tecnológico mais lento. E com as capacidades atuais de IA já possibilitando recursos impressionantes como IA conversacional e acesso a informações em tempo real, a realidade aumentada vai progredir e a integração com óculos será cada vez maior".
A EssilorLuxottica também adquiriu recentemente uma startup francesa especializada em IA para aparelhos auditivos que trabalhará junto do novo braço de áudio inteligente do grupo, a Nuance Audio, para incorporar mais recursos de IA e funcionalidades nos óculos. "O objetivo é melhorar a escuta sem abordar necessariamente a perda auditiva, tornando a experiência mais amigável ao usuário, equilibrando tecnologia e estética em óculos de luxo", explica Stephano Genco, chefe global da Nuance Audio.
Isso se alinha com o tema abordado no Transitions Academy por Maristella Rizzo, gerente sênior global de marca do Ray-Ban Meta na EssilorLuxottica, de que a ficção científica traz primeiro as inovações que serão usadas no cotidiano porque elas vêm do imaginário popular mundial, uma força criativa imparável. O assistente pessoal Hal 9000 do filme "2001: Uma Odisseia no Espaço", de 1968, é o que a Alexa faz hoje, assim como o personagem La Forge, de Star Trek: A Nova Geração, em 1987, que era cego e usava um óculos inteligente para enxergar. O Ray-Ban Meta pode fazer algo parecido e usar um comando de voz para que a IA lhe diga, por exemplo, se a lata na geladeira é de Coca-Cola ou Pepsi. Um início, apenas, obviamente, mas que oferece infinitas possibilidades com o crescimento exponencial da tecnologia nas próximas décadas.
