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Estudo alerta que medicamentos de uso frequente podem oferecer riscos na terceira idade

O uso contínuo de certos medicamentos pode agravar quadros clínicos em idosos, e aumentar os custos para o paciente e para o sistema de saúde

28 nov 2024 - 06h48
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Você já parou para pensar que aquele remedinho que sempre ajudou a sanar a sua dor de cabeça pode se tornar um risco para o seu organismo com o passar dos anos?

Em um país como o Brasil, que apresentou um aumento de quase 57,5% no número de pessoas com mais de 65 anos nos últimos doze anos (Censo 2022 e onde espera-se que essa faixa etária represente 75,3 milhões de brasileiros até 2070, surge um novo desafio: preparar o sistema de saúde para o cuidado adequado com essa parcela da população.

Essa adequação inclui a avaliação dos riscos de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos (sigla MPI em português e PIM em inglês, de Potentially Inappropriate Medication). Trata-se de uma parcela da população com particularidades que não se aplicam a pacientes mais jovens. Os mais velhos têm mais doenças concomitantes, necessitam um maior uso de medicamentos e são mais vulneráveis a eventos adversos.

Muitas vezes, idosos gerenciam um ou mais problemas de saúde crônicos e que têm necessidades específicas, exigindo um olhar diferenciado. Nessas situações, o uso de certos medicamentos pode agravar um quadro clínico, por exemplo, e aumentar os custos para o paciente e o sistema de saúde.

Um estudo realizado recentemente pelo Núcleo de Medicina Avançada do Hospital Sírio-Libanês e publicado no Journal of the American Medical Directors Association (JAMDA) analisou cerca de 15 mil internações de pessoas com 60 anos ou mais. A análise foi feita com a ajuda de um sistema de suporte à decisão clínica integrado ao prontuário eletrônico dos pacientes que gera alertas sobre a segurança e o uso correto de medicamentos.

Nesta pesquisa, avaliamos os alertas relacionados a PIMs para idosos e sua associação com os riscos clínicos dos pacientes internados, destacando os impactos na saúde e na trajetória hospitalar. Os resultados apontaram que em 71,8% das internações houve pelo menos um alerta de uso de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos.

É possível que profissionais menos familiarizados com a saúde do idoso subestimem eventuais riscos e sejam mais resistentes a fazer uma revisão de medicamentos. A principal justificativa para manter os PIMs de alta criticidade na prescrição foi de que o paciente já fazia uso contínuo.

Um dos medicamentos mais citados no estudo foi o omeprazol, que é facilmente comprado nas farmácias e indicado para problemas gastrointestinais. No entanto, trata-se de um remédio que está associado ao aumento das chances de manifestar problemas cognitivos no futuro, provavelmente por interferir na absorção da vitamina B12 no estômago. Nos dias atuais, muita gente toma esse medicamento por conta própria, sem indicação clara.

Mais do que isso: em pacientes internados, a diminuição da acidez do estômago provocada pelo omeprazol pode aumentar a quantidade e a variedade de bactérias e elevar o risco de pneumonia por broncoaspiração quando a pessoa tem refluxo.

Podemos mencionar também o ciprofloxacino, um antibiótico prescrito para infecções bacterianas graves ou que não respondem bem a tratamentos convencionais. Nos idosos, no entanto, o medicamento pode causar efeitos colaterais como a confusão mental, especialmente em pessoas com idade avançada ou com histórico de problemas cognitivos. Esse tipo de reação pode surgir de forma abrupta, muitas vezes nas primeiras 24 horas após o início do uso, manifestando-se por meio de sintomas como desorientação, sonolência, agitação, confusão mental e alterações no ciclo do sono.

Este é um exemplo claro de que mesmo remédios comuns e de fácil acesso podem trazer grandes riscos à terceira idade e de que é preciso ter cuidado no momento de prescrição. Cada condição deve ser analisada individualmente para saber se há outro tipo de tratamento e entender se o benefício vale mais a pena do que o risco.

A ajuda das novas tecnologias

A vulnerabilidade da população acima de 65 anos a diversos medicamentos potencialmente inapropriados pode ser explicada por meio do conceito de reserva funcional. Essa reserva garante a condição adequada do organismo para enfrentar eventos adversos sem interferir no equilíbrio e antes de qualquer problema se manifestar.

A partir dos 30 anos, o corpo começa a perder, lentamente, parte dessa reserva - mesmo se considerarmos um envelhecimento saudável. É neste momento que algumas ações podem impor ao corpo consequências maiores do que quando o indivíduo era mais jovem. Aumenta, por exemplo, o risco de toxicidade por medicamentos, uma vez que a diminuição da reserva funcional pode impactar na quebra de alguns princípios ativos pelo fígado.

A medicina procura recursos para apoiá-la na tomada de decisão no momento da prescrição de medicamentos. Nesse aspecto, a tecnologia pode ser uma grande aliada. No Hospital Sírio-Libanês, uma ferramenta de IA (inteligência artificial) trabalha dentro de um repositório de informações sobre a segurança e os riscos de remédios, fazendo um cruzamento de dados que leva em consideração faixa etária e quadro clínico do paciente. Isso vem gerando alertas em tempo real no prontuário médico em que as prescrições são inseridas. Além dos alertas relacionados a PIMs, a ferramenta também avisa quando dois medicamentos podem não funcionar bem juntos.

O estudo realizado no Hospital Sírio-Libanês evidencia a necessidade dos sistemas de saúde se adaptarem e se modernizarem para melhor atenderem os idosos. A tecnologia para isso já está disponível. Agora, é necessário que outras áreas médicas, e não apenas a Geriatria, fiquem cada vez mais atentas à prescrição de medicamentos para essa parcela da sociedade.

The Conversation
The Conversation
Foto: The Conversation

Pedro Curiati não presta consultoria, trabalha, possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de seu cargo acadêmico.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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