'Eu te amo': as palavras finais de Marielle à companheira são lembradas no julgamento
Vereadora Mônica Benício relembrou a última interação que teve antes do assassinato de Marielle Franco
No júri popular dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados pelo assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, a vereadora Mônica Benício (PSOL), ex-companheira da parlamentar, prestou um depoimento emocionado sobre a vida e a atuação política da ex-vereadora.
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O testemunho de Mônica trouxe à tona as lembranças dos últimos momentos que compartilhou com Marielle. Recordou que ambas estiveram juntas horas antes do crime, no gabinete da ex-vereadora, e que a última frase que ouviu de Marielle foi “eu te amo”.
Entre lágrimas, lamentou o futuro interrompido. “Quando a Marielle morreu, o que eu senti é que tinham tirado a nossa promessa do futuro". Ela revelou ainda que tinham planos de casar e celebrar essa união, mas que “tiraram isso da gente”.
Visivelmente abalada ao descrever quem foi Marielle, Mônica interrompeu o depoimento ao ser assistida pela equipe de advogados, mas logo retomou a fala.
Mônica relatou o início de seu relacionamento com a ex-vereadora, que começou quando ela tinha 18 anos, descrevendo uma trajetória de companheirismo e amizade que se estendeu por toda a vida delas. No relato, a Mônica relembrou o impacto da carreira política de Marielle, que, eleita com expressiva votação, representava as pautas das mulheres, dos negros, e das populações periféricas, conforme a viúva.
“Marielle era uma das pessoas mais companheiras que eu conheci, no sentido mais generoso e bonito que essa palavra pode ter. Ela estava feliz de ter o retorno do trabalho dela aparecendo e se entendendo naquele espaço.”
A viúva ainda destacou que Marielle, uma defensora ativa das pautas de moradia e justiça social, tinha a questão fundiária entre suas prioridades, o que, segundo ela, poderia estar ligado ao motivo do assassinato.
"Com toda certeza ela tinha a preocupação da defesa da cidade," afirmou Mônica. “Ela tinha uma arquiteta urbanista que estava no mandato dela para discutir a cidade de maneira interseccional. A gente pensa a cidade de muitas frentes. E como a Marielle defendia a questão da moradia de forma digna, da favela e periferia, isso era um debate.”
A vereadora ressaltou o impacto devastador da perda, confessando que enfrentou um período de profundo sofrimento, chegando a considerar o suicídio. Destacou a luta por justiça e criticou a impunidade, lembrando que Marielle se tornou um símbolo de resistência. “A verdadeira justiça seria Marielle e Anderson estarem vivos”, disse, mas, diante da irreversibilidade, afirmou que espera que a justiça formal seja cumprida, para que crimes como este não se repitam em uma sociedade democrática.