EUA investigam possível detenção de cidadão americano no Irã
Autoridades norte-americanas estão investigando a possível prisão de um jornalista americano-iraniano no Irã, segundo informações de sua antiga emissora e de organizações que defendem a liberdade de imprensa.
De acordo com a Radio Farda, filial iraniana da Radio Free Europe/Radio Liberty (RFE/RL), financiada pelos EUA, Reza Valizadeh teria sido detido em Teerã em setembro. A informação foi revelada por uma pessoa próxima à família do jornalista.
O governo iraniano ainda não reconheceu a detenção de Valizadeh, e a missão iraniana na Organização das Nações Unidas se recusou a comentar o caso. Em resposta a um pedido de informações da CNN, o Departamento de Estado dos EUA declarou nesta segunda-feira (4) que está "ciente de relatos de que um cidadão americano-iraniano foi preso no Irã". Representado pela Suíça no Irã, o Departamento de Estado está em contato com o governo iraniano para reunir mais informações sobre o caso.
A RFE/RL afirmou que não recebeu confirmação oficial sobre as acusações contra Valizadeh, que deixou a Rádio Farda em novembro de 2022, mas manifestou estar "profundamente preocupada com a prisão contínua, assédio e ameaças contra profissionais de mídia pelo regime iraniano".
Pressão para retorno ao Irã
Em publicações na plataforma X, feitas em fevereiro deste ano, Valizadeh relatou que sua família teria sido pressionada por autoridades iranianas para convencê-lo a retornar ao país. Em uma postagem posterior, em 13 de agosto, o jornalista declarou ter voltado a Teerã em 6 de março de 2024.
"Antes disso, eu tinha negociações pela metade com a Organização de Inteligência (do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica). Finalmente, retornei ao meu país após 14 anos, sob minha própria responsabilidade e sem uma carta de anistia, mesmo verbalmente", relatou Valizadeh em seu post.
Segundo a RFE/RL, não está claro em que circunstâncias Valizadeh escreveu essa publicação.
Um ex-colega de Valizadeh, que preferiu não se identificar por temer represálias, relatou ao Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), sediado em Nova York, que ele estaria preso na penitenciária de Evin, famosa por abrigar críticos do governo iraniano. A Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos, também sediada nos EUA e com foco em questões iranianas, afirma que Valizadeh está detido em Evin.
"As autoridades iranianas devem libertar imediatamente o jornalista Reza Valizadeh e retirar quaisquer acusações contra ele", afirmou Yeganeh Rezaian, coordenador interino do programa para o Oriente Médio e Norte da África do CPJ.
O Departamento de Estado dos EUA também alertou os cidadãos americanos sobre os riscos de viajar ao Irã. "Não posso dizer claramente aos meus compatriotas americanos o que já aparece no site do Departamento de Estado: 'Não viaje para o Irã, devido ao risco de sequestro e prisão e detenção arbitrárias de cidadãos americanos'. Simplificando: não vá para o Irã", disse o porta-voz.
A detenção do jornalista ocorre em um momento de tensões elevadas entre os Estados Unidos e o Irã, acentuadas por recentes declarações do líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que prometeu uma resposta "de quebrar os dentes" a Israel e aos Estados Unidos após ataques israelenses a bases iranianas.
O Irã é historicamente conhecido por usar cidadãos com dupla nacionalidade como moeda de troca em negociações diplomáticas com o Ocidente. Em 2023, o governo iraniano libertou cinco americanos que eram considerados "detidos injustamente" pelos EUA como parte de um acordo que incluiu o descongelamento de US$ 6 bilhões em fundos iranianos. Neste ano, o caso ganha uma dimensão ainda maior, à medida que o país relembra o 25º aniversário da crise dos reféns de 1979, quando 52 americanos foram mantidos em cativeiro por 444 dias.