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Ex-ditador tunisiano Ben Ali morre aos 83 anos

19 set 2019 - 15h17
(atualizado em 20/9/2019 às 19h05)
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Antigo autocrata da Tunísia que comandou o país por 23 anos vivia no exílio, após a sua queda na esteira dos primeiros protestos que desencadearam a Primavera Árabe de 2011.O antigo ditador da Tunísia Zine El Abidine Ben Ali morreu nesta quinta-feira (19/09) aos 83 anos. Ele vivia na Arábia Saudita desde 2011, quando foi deposto na chamada Revolução de Jasmim, a série de protestos contra seu governo que acabou desencadeando a Primavera Árabe no mesmo ano.

Sob Ben Ali, a Tunísia cresceu economicamente, mas também foi palco de uma ditadura feroz e corrupta
Sob Ben Ali, a Tunísia cresceu economicamente, mas também foi palco de uma ditadura feroz e corrupta
Foto: DW / Deutsche Welle

Segundo um advogado da família do ex-ditador Ben Ali estava hospitalizado há três meses e morreu de câncer. Ele comandou a Tunísia de 1987 ao início de 2011, tendo tomado o poder ao liderar um golpe contra seu antecessor, o idoso ex-ditador Habib Bourguiba, que foi declarado incapacitado por uma junta médica. À época, servia como primeiro-ministro de Bourguiba, e acabou se tornando o segundo líder da Tunísia após a independência do país da França em 1956.

Nas duas décadas seguintes à tomada do poder por Ben Ali, a Tunísia registrou um crescimento econômico substancial. com o incentivo da indústria têxtil e do turismo. Mas o período também foi marcado perseguição política, abuso de direitos humanos, supressão da liberdade de imprensa e pela corrupção do clã do presidente. O governo do país era denunciado regularmente em relatórios de organizações como Human Rights Watch e Repórteres sem Fronteiras como uma ditadura brutal.

Ben Ali também fraudava eleições regularmente. Em 1999, foi reeleito num pleito encenado com 99,4% dos votos. No final de 2010, apesar do crescimento econômico das últimas décadas, parte da população ainda vivia na pobreza e o desemprego era especialmente alto entre os jovens.

Enquanto isso, o clã de Ben Ali e seus aliados enriquecia saqueando os cofres públicos e cobrando propina de empresas estrangeiras que desejavam fazer negócios no país. A segunda esposa do ditador, Leila Trabelsi, chegou a ser apelidada "Imelda Marcos do mundo árabe" pela imprensa do exterior, em referência à antiga primeira-dama filipina conhecida pela corrupção e extravagância com sapatos. Os filhos do ditador também não ficavam atrás no comportamento perdulário e eram conhecidos por esbanjar altas somas com festas.

Mas o estilo de vida suntuoso da família do então ditador, a repressão e a distribuição desigual da riqueza do país viriam a cobrar seu preço no fim de 2010. Tudo começou quando, em dezembro, um quitandeiro se imolou em frente a uma repartição pública da cidade de Sidi Bouzid, após uma fiscal apreender seus produtos.

O episódio foi o gatilho para uma série de protestos das camadas mais marginalizadas da sociedade tunisiana. Mas o movimento logo se espalhou pela classe média e vários grupos profissionais, como advogados, que estavam fartos do regime autoritário de Ben Ali.

A reação inicial do regime foi brutal: manifestantes foram reprimidos, universidades, fechadas, e foi imposto um estado de emergência. Mas os protestos continuaram. Ben Ali ainda fez uma última tentativa de acalmar os manifestantes em 14 de janeiro de 2011 anunciando que pretendia convocar eleições em seis meses. Também não foi suficiente.

Ele acabou fugindo do país com sua família no mesmo dia com ajuda do governo líbio, à época comandado pelo ditador Muammar Gaddafi. Sua primeira parada foi em Malta, mas ele logo seguiu para a Arábia Saudita após o governo francês negar-lhe entrada no país.

Em 2012, o agora o ex-ditador chegou a ser condenado in absentia a 35 anos de prisão por um tribunal tunisiano por crimes de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro. Um tribunal militar também o condenou à prisão perpétua por homicídio doloso e tentativa de homicídio.

A queda de Ben Ali não teve apenas consequências na Tunísia. Também em janeiro de 2011, sua queda inspirou ondas de protestos que passaram a sacudir o Egito, Iêmen, Síria e Líbia. Outros ditadores como o líbio Muammar Gaddafi e o egípcio Hosni Mubarak acabaram sendo derrubados.

De todos esses países, a Tunísia foi o único que conseguiu fazer uma transição pacífica para a democracia. Em meados de setembro, o país foi palco da segunda eleição presidencial desde a queda da ditadura de Ben Ali, que ocorreu sem incidentes.

De acordo com o advogado da família do ex-ditador, Ben Ali será enterrado na Arábia Saudita, "segundo sua última vontade", descartando a possibilidade de um sepultamento em Túnis.

JPS/ots

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