Ex-informante do FBI é acusado de mentir sobre filho de Biden
Alegação de envolvimento de Joe e Hunter Biden em esquema de propina na Ucrânia, usada como base para o processo de impeachment aberto pelos republicanos contra o presidente dos EUA, foi fabricada, dizem promotores.Um ex-informante do FBI foi acusado de fabricar informações sobre um falso esquema de subornos multimilionários envolvendo o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, seu filho Hunter Biden e a empresa ucraniana de energia Burisma Holdings.
O suposto esquema é a peça central de um inquérito em andamento no Congresso americano, proposto por parlamentares do Partido Republicano, que visa o impeachment do presidente. A denúncia contra o ex-informante Alexander Smirnov veio à tona em pleno ano de eleições presidenciais nos EUA, quando Biden deverá concorrer à reeleição.
O procurador especial dos EUA David Weiss, que lidera as investigações sobre Hunter Biden, informou nesta quinta-feira (15/02) que Smirnov foi indiciado por um grande júri por mentir sobre as atividades dos Biden com a empresa ucraniana.
Em nota, Weiss afirmou que Smirnov, de 43 anos, teria feito declarações falsas e "criado registros falsos e fictícios" relacionados a uma investigação do FBI. O ex-informante foi preso na quarta-feira, logo após chegar ao país no aeroporto internacional de Las Vegas. Se condenado, ele poderá receber pena de até 25 anos de prisão.
Smirnov é acusado de mentir ao FBI em junho de 2020 ao relatar que executivos associados à empresa ucraniana pagaram a Hunter e Joe Biden 5 milhões de dólares cada em 2015 e 2016. O informante afirmara que um executivo da empresa teria contratado a "proteção" de Hunter Biden, por meio de seu pai, de "todos os tipos de problemas", segundo consta nos documentos judiciários.
Mentiras e narrativas falsas
Os promotores afirmam que Smirnov manteve negócios rotineiros com a Burisma apenas em 2017, após Joe Biden já ter deixado a vice-presidência durante o governo de Barack Obama e não ter mais influência sobre a política americana.
Smirnov "transformou seus contatos de negócios comuns e de rotina em 2017 posteriormente em alegações de suborno contra a Autoridade Pública 1 [o presidente da República], o presumível indicado por um dos dois maiores partidos políticos à Presidência", segundo consta no indiciamento. Ele fez as alegações de suborno depois de "expressar imparcialidade" contra Biden e sua candidatura.
O ex-informante repetiu algumas das alegações ao ser questionado por agentes do FBI em setembro de 2023, mas acabou modificando parte de seu relato. Segundo os promotores, no depoimento ele "criou uma nova narrativa falsa após dizer que se encontrou com autoridades russas".
O envolvimento de Hunter Biden com a Burisma foi usado pelo ex-presidente Donald Trump e seus aliados em uma série de acusações sem provas de que o democrata Joe Biden teria tentado de maneira ilegal ajudar a avançar os interesses comerciais de Hunter na Ucrânia. A Casa Branca nega as acusações.
Processo de impeachment esvaziado
O indiciamento tornado público nesta quinta-feira prejudica os esforços dos republicanos que vêm tentando incriminar o presidente, acusando-o de obter lucros ilegais com os negócios de seu filho na Ucrânia.
As acusações de Smirnov foram usadas como justificativa para levar o Congresso a investigar Biden e sua família e contribuíram para o início do processo de impeachment do presidente na Câmara dos Representantes, controlada pela oposição.
Em dezembro, parlamentares republicanos aprovaram a abertura formal do inquérito de impeachment de Biden. Alguns políticos da oposição expressaram suspeitas sobre membros da família do presidente ganhando milhões de dólares por profissões nas quais eles "não tinham experiência".
"Durante meses alertamos que os republicanos ergueram suas teorias da conspiração em torno de Hunter e sua família sobre mentiras ditas por pessoas com interesses políticos, não em fatos", afirmou em nota Abbe Lowell, advogado do filho do presidente.
O democrata Jamie Raskin, que integra a comissão da Câmara que investiga o caso, defendeu o fim do processo de impeachment. Ele afirma que as alegações dos republicanos contra Biden "sempre foram um tecido de mentiras construído sobre teorias conspiratórias".
Republicanos devem manter inquérito
Raskin pediu aos presidentes da Câmara, Mike Johnson, da comissão de inquérito, James Corner, e aos republicanos que "parem de promover esses absurdos e encerrem esse fracassado processo de impeachment".
Corner, porém, minimizou a relevância do depoimento do ex-informante, que inicialmente era considerado a figura central do processo. Ele disse que o inquérito do impeachment não está fundamentado nas conclusões do FBI, e que a base das investigações seria "um amplo registro de provas, incluindo extratos bancários e depoimentos de testemunhas".
O republicano assegurou que a comissão continuará os trabalhos até determinar se deve ou não pedir o impeachment do presidente.
Hunter Biden deverá comparecer perante a comissão da Câmara no final de fevereiro. Ele responde ainda a três acusações de compra e posse ilegal de armas.
Em junho do ano passado, o filho do presidente firmou um acordo com Departamento de Justiça do país para se declarar culpado de acusações envolvendo sonegação de impostos e admitir formalmente que comprou uma arma de fogo por meios ilegais.