Filmes como "Divertida Mente" estão mudando a forma de fazer terapia
As produções da franquia oferecem aos pais uma nova perspectiva sobre como administrar a turbulência emocional dos filhos
Em 2012, Olivia Carter iniciou seu trabalho como orientadora escolar utilizando diversas estratégias para auxiliar seus alunos do ensino fundamental a entender e comunicar seus sentimentos. Conforme reportagem da Foha, essas estratégias incluíam desenhos, charadas, associação de cores e dramatização. No entanto, após o lançamento de "Divertida Mente" em 2015, ela encontrou uma ferramenta ainda mais eficiente. Ao simplesmente perguntar: "Quem viu o filme 'Divertida Mente'?", ela conseguia conduzir discussões profundas sobre emoções de maneira mais fácil.
O sucesso cinematográfico da Pixar, "Divertida Mente," aborda emoções essenciais como alegria e tristeza. A sequência, "Divertida Mente 2," lançada recentemente, foca na ansiedade. Educadores, conselheiros, terapeutas e cuidadores adotaram os dois filmes como ferramentas poderosas para ajudar as pessoas a se compreenderem melhor. A trama que gira em torno dos estados de espírito que operam um "painel de controle" na mente de uma garota chamada Riley tem sido considerada revolucionária por muitos especialistas.
Os filmes "Divertida Mente" oferecem aos pais uma nova perspectiva sobre como administrar a turbulência emocional dos filhos. David Langer, presidente do Conselho Americano de Psicologia Clínica Infantil e Adolescente e professor na Universidade Suffolk, em Boston, compartilha essa visão com a Folha. Ele utiliza os filmes regularmente como prática terapêutica, tanto com seus filhos quanto em seu trabalho profissional.
Segundo Langer, utilizar os personagens como prática terapêutica, "se tornou um recurso referencial". Os fantoches de dedo que reproduziam os personagens de "Divertida Mente" eram comuns quando seus filhos eram mais novos, e se revelaram uma forma lúdica de examinar a dinâmica familiar. "A arte de 'Divertida Mente' está, de fato, nos ajudando a entender nosso mundo interno", acrescentou.
O impacto do filme é evidente em diversos aspectos do ambiente escolar: desde murais temáticos em corredores até planos de aula baseados nos personagens e projetos de artesanato propostos por educadores. Além disso, a popular exposição itinerante "Emotions at Play," desenvolvida pelo Museu da Criança de Pittsburgh em conjunto com a Pixar, tem encantado visitantes ao redor do mundo desde 2021.
Por que "Divertida Mente 2" é tão impactante?
O segundo filme, "Divertida Mente 2," introduz novos sentimentos como Vergonha, Inveja e Tédio, que inundam o sistema de Riley, agora uma adolescente. A introdução de Ansiedade, uma nova personagem com a voz de Maya Hawke (dublada por Tatá Werneck no Brasil), renovou a percepção que Riley tem de si mesma. Este enfoque no sentimento de ansiedade, que se tornou uma crise entre os adolescentes, proporciona uma visão normalizadora e relacional sobre a experiência, algo que os jovens sentiam falta.
Pete Docter, diretor criativo da Pixar e diretor do primeiro "Divertida Mente," revelou recentemente em uma entrevista que o conceito original não tinha essa profundidade intencional. Ele e sua equipe criaram os personagens emocionais baseando-se, primeiramente, em experiências pessoais e, depois, em conversas com especialistas em saúde mental.
Como o filme auxilia no aprendizado socioemocional?
O sucesso da Pixar não apenas diverte, mas também educa. Muitos professores e conselheiros, como Carter, usam os filmes para tornar concretos certos conceitos abstratos. Eles utilizam as figuras de cada sentimento apresentado nos filmes para que os alunos possam identificar e expressar seus sentimentos de maneira clara. Isso é comparável ao impacto de séries icônicas como "Mister Rogers," "Vila Sésamo," e "Daniel Tigre."
Além disso, os filmes ajudam pais e filhos a iniciar conversas importantes sobre emoções. Lisa Damour, uma psicóloga adolescente, observa em entrevista à Folha, que "Divertida Mente" e sua sequência não vilanizam nenhum sentimento. Em vez disso, tratam as emoções desconfortáveis como parte integrante da saúde emocional. Essa visão holística facilita o gerenciamento de sentimentos em casa e em ambientes profissionais.
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