Bové diz que combate contra transgênicos vai continuar
Quarta, 30 de janeiro de 2002, 15h52
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Ativista (esquerda) esteve com João Pedro Stédile, líder do MST (Foto Reuters)
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O ativista antiglobalização José Bové, porta-voz da Confederação de Agricultores franceses, disse, em entrevista hoje à AFP, que "os únicos combates perdidos são os que não se começam". Bové, que quase foi expulso do Brasil em 2001 por participar da invasão e destruição de uma lavoura de transgênicos no Rio Grande do Sul, está em Porto Alegre para a segunda edição do FSM.AFP - Que lições podemos tirar da situação da Argentina? José Bové - Há dois anos que várias pessoas alertam sobre a Argentina. Os dirigentes desse país fizeram tudo o que o Fundo Monetário Internacional (FMI) lhes pediu: privatizar, diminuir os serviços do Estado. Hoje é a bancarrota, a falência desse sistema. Agora existe uma brecha entre a população das ruas, também falida, e os que administraram o país. E o FMI não reconhece que é o responsável por esta crise! Alguns dizem que Argentina está nesta situação porque não pode exportar seus produtos por causa do protecionismo europeu: é incrível, é o modelo ideológico dominante que está em questão. AFP - O que se passou concretamente desde a primeira edição do Fórum Social Mundial? Bové - Os debates devem se refletir nas lutas e, no ano passado, tivemos uma grande discussão sobre as patentes. Também realizamos uma intervenção no G-8 (grupos dos países mais ricos) para dizer que a situação da saúde nos países do sul, em particular quanto à aids, não é sustentável e em Doha, na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), os governos reconheceram que a saúde deve ficar antes do mercado, permitindo a fabricação de medicamentos genéricos. Estamos aqui para fazer a união entre os dois, para tentar ganhar terreno, mas nosso objetivo não é ter todas as respostas. AFP -Quais são as principais frentes de oposição daqui para frente? Bové - Temos combates em curso. Por exemplo, a questão da taxa Tobin para os fluxos financeiros foi discutida na maioria dos países desenvolvidos. Quanto à agricultura e os organismos geneticamente modificados, os transgênicos, continuaremos o combate enquanto não houver uma legislação internacional. O movimento internacional de agricultores irá na próxima cúpula da Fundo das Nações Unidas para a Alimentação (FAO) para fazer o balanço dos danos causados desde a criação da OMC. AFP - E durante o Fórum Social deste ano? Bové - Durante o fórum está prevista uma marcha contra a criação de uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca) com a resistência dos países da América Latina. Este tipo de acordo é um laboratório que permite aos Estados Unidos colocarem as instituições internacionais diante do fato consumado, isto é, a impossibilidade de intervir num espaço de mercado dominado por eles. Os únicos combates perdidos são os que não se começam.
AFP
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