O mistério que cercava a presença de membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na Capital surpreendeu até o seu representante no Fórum Social Mundial, Javier Cifuentes. Em entrevista a Zero Hora, ele negou que seja hóspede oficial do Palácio Piratini, mas afirmou que gostaria de se encontrar com o governador Olívio Dutra. O guerrilheiro se irritou ao ser perguntado sobre seu verdadeiro nome, que não revela. Cifuentes deixou o campus da PUCRS ao lado de sete pessoas e entrou num Monza bordô com um adesivo da campanha de Tarso Genro. Olivério Medina, antigo porta-voz das Farc no Brasil e que acompanhava Cifuentes, está proibido pela Polícia Federal de dar declarações públicas.
Por que a organização do evento manteve tanto mistério sobre a sua presença?
Javier Cifuentes – O mistério não é das Farc. A guerrilha não se esconde. Somos um partido em luta pelo poder. As Farc não são narcotraficantes. São um Estado dentro do Estado e, como tal, nos comportamos abertamente no Brasil e em qualquer parte do mundo.
O senhor teme ser preso pela polícia brasileira?
Não, porque cumprimos todos os requisitos legais e não intervimos em assuntos do país.
Quem os convidou para o Fórum?
A organização do Fórum.
Há outros integrantes das Farc em Porto Alegre?
Sou o único representante.
Quem está financiando sua viagem?
As próprias Farc.
O senhor terá audiência com o governador Olívio Dutra?
Não. Gostaria, mas não é possível em razão de tempo.
O que o senhor gostaria de conversar com o governador?
O fato de Porto Alegre ser a sede desse Fórum é um indicativo de que estamos diante de um governo progressista. Isso nos interessa.
As Farc trocam experiências com o Palácio Piratini?
Não temos esse tipo de contato.
As Farc têm relações diplomáticas com o Brasil?
Como não somos terroristas, os governos nos reconhecem como um Estado dentro do Estado.
Hernán Ramírez, membro das Farc que se encontrou com Olívio Dutra em 1999, não se deixou fotografar. O senhor parece não se preocupar em se expor.
São diferentes momentos. Agora, não há problema.
O senhor é hospede oficial do Palácio Piratini?
Não. Creio que mais adiante poderemos ser convidados. No momento não há condições para isso. Não temos o reconhecimento de direito.
Por que o senhor não revela o seu nome verdadeiro.
Estou legalmente no Brasil, não estou infringindo nenhuma lei.
Por que as Farc não retomam o diálogo com o governo?
As Farc congelaram o diálogo porque não aceitam que, diante da imprensa, o governo fale de paz e, na prática, assassine o povo colombiano. Quando pararem os assassinatos, falaremos de paz.
Que mensagem as Farc trazem ao Fórum?
Concordamos com seu ideal. Acreditamos que é possível um mundo melhor. Essa é a luta das Farc na Colômbia. Estamos presentes também para denunciar o Plano Colômbia e chamar a atenção para que a questão da Amazônia. Os brasileiros não devem permitir que os Estados Unidos se apropriem da Amazônia.