Gasolina ainda mais barata? Analistas veem espaço para mais redução no preço, com queda no petróleo
Desde meados de julho, litro do combustível nas refinarias da Petrobras já caiu 19,2%, chegando a R$ 3,28
RIO - Embora atendam as pressões do Planalto, as reduções de preços da gasolina anunciadas pela Petrobras estão respaldadas por critérios técnicos, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast. E, mais do que isso, há espaço para novas quedas no preço do insumo. O mesmo não acontece com o diesel, cujos preços da Petrobras estão acima da paridade internacional, mas têm pouca margem de manobra em função da alta volatilidade das cotações.
Segundo Pedro Shinzato, analista da divisão de óleo e gás da StoneX, a redução de 7%, ou R$ 0,25, no litro da gasolina na semana passada respeitou os preços de paridade internacional e poderia ter sido ainda maior. Em seus cálculos, o litro da gasolina em refinarias da Petrobras estava R$ 0,62 acima do preço de paridade de importação (PPI) e, após o reajuste, ainda ficou R$ 0,36 mais caro que o preço de referência. "Havia bom espaço para baixa na gasolina. Para se ter uma ideia, a cotação internacional da gasolina está abaixo do patamar pré-guerra da Ucrânia", diz Shinzato.
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A queda na semana passada foi a maior desde 21 abril de 2020 (8%) e a quarta redução desde meados de julho. Desde então, o preço da gasolina nas refinarias da Petrobras já caiu 19,2%, variando de R$ 4,06 em 19 de julho para R$ 3,28. Na conta não entra o corte no ICMS, que engorda ainda mais o rebatimento do preço ao consumidor final nas bombas.
A sequência de quatro reduções nos preços coincide com a chegada de Caio Paes de Andrade à presidência da Petrobras. As reduções foram facilitadas por quedas no preço internacional do petróleo, o que garante aderência ao PPI.
O presidente da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, vai na mesma linha e diz que os preços internacionais da gasolina têm recuado em linha com o barril de petróleo e estão mais resilientes, o que dá margem a reajustes da Petrobras. Nos cálculos da Abicom, sem considerar o impacto do reajuste, o preço médio da gasolina no País estava 12% ou R$ 0,36 acima da média dos preços internacionais. Com a queda de 7% , portanto, ainda restaria uma margem para novas quedas.
Volatilidade no diesel
No caso do diesel, que não foi reajustado, Shinzato afirma que o litro do insumo em refinarias da Petrobras estava na última quarta-feira cerca de R$ 0,48 acima do PPI. Isso indicaria espaço para redução, mas, segundo Shinzato, o mercado de diesel segue "extremamente volátil", não raro assistindo variações no preço do litro de R$ 0,30 para cima ou para baixo, o que impede previsão segura.
"Essa forte volatilidade é característica de um mercado internacional com balanço de oferta e demanda muito apertado", diz. Além da incerteza internacional, para Shinzato, o conservadorismo da Petrobras com relação ao diesel também é justificado pelo fato de a companhia ter praticado preços abaixo do PPI por longos períodos no início do ano. Agora, portanto, a Petrobras poderia buscar uma compensação para atingir um preço médio anual mais alinhado com o exterior.
Araújo lembra que a gasolina da Petrobras abastece entre 90% e 95% do mercado brasileiro, enquanto o diesel refinado pela estatal dá conta de algo entre 65% e 80% da demanda doméstica. Do ponto de vista de abastecimento, portanto, o represamento de preços pela Petrobras é mais grave no caso do diesel, frente na qual o País é mais dependente de importações, que só acontecem a contento quando se pode revender diesel importado a preços competitivos. Para a gasolina, além da segurança das importações, Araújo cita a necessidade de se praticar preços de paridade internacional para preservar a atratividade de outros combustíveis como o etanol.