'Genética do trauma': sofrer violência pode causar alterações no DNA? Entenda
Os traumas são frequentemente associados a eventos marcantes que impactam a saúde mental e emocional. No entanto, também podem ser vistos como experiências físicas, como acidentes ou pancadas. A questão que surge é se essas experiências podem ser transmitidas para gerações futuras. A epigenética sugere que eventos significativos podem alterar a maneira como nosso DNA é lido, influenciando a ativação ou inibição de genes.
Pesquisas em modelos animais e humanos buscam entender se traumas podem ser passados de geração em geração. Embora o código genético em si não mude, a forma como ele é expressado pode ser influenciada por fatores epigenéticos. Isso levanta a possibilidade de que experiências traumáticas deixem marcas que afetam descendentes.
Os traumas têm base genética?
Traumas podem surgir de diversas origens, desde eventos extremos até situações cotidianas. Eles não são apenas o resultado de experiências de quase morte ou violência, mas também podem ser desencadeados por eventos aparentemente simples, como uma fobia. Além disso, traumas podem ser transmitidos culturalmente, através de crenças e comportamentos.
Comportamentos ansiosos dos pais podem transmitir medos aos filhos. Por exemplo, um pai ou mãe que reage exageradamente a situações de perigo pode, inadvertidamente, criar gatilhos para traumas nos filhos. Isso sugere que, além de fatores genéticos, o ambiente e o comportamento desempenham papéis cruciais na transmissão de traumas.
Como o estresse afeta o DNA?
Estudos recentes com camundongos, publicados no Scientific Reports, mostraram que mães expostas a estímulos aversivos durante a gravidez podem transmitir medos a suas crias. Mesmo quando criados separados, os filhotes demonstraram aversão a certos estímulos, sugerindo uma base genética para os traumas. A metilação do DNA nos espermatozoides dos pais também contribui para essa herança.
Em humanos, pesquisas com refugiados sírios revelaram marcadores epigenéticos de trauma em várias gerações. Embora o código genético não mude, a expressão dos genes pode ser alterada por fatores ambientais, como o estresse. Isso indica que, embora o trauma em si não seja transmitido, a susceptibilidade a ele pode ser.
Os traumas podem ser totalmente compreendidos?
Ainda há muito a ser descoberto sobre a transmissão de traumas entre gerações. A pesquisa em humanos é complexa e requer amostras maiores e mais diversificadas. Além disso, fatores como tabagismo, doenças e condições sociais também influenciam a expressão genética e precisam ser considerados.
Embora haja evidências de que o estresse dos antepassados possa afetar a expressão genética, a ligação direta entre traumas e alterações epigenéticas ainda não está completamente estabelecida. Estudos futuros podem esclarecer como essas mudanças influenciam a predisposição para certas condições, como o envelhecimento precoce.
O que o futuro reserva para a pesquisa de traumas?
O campo da epigenética continua a evoluir, e novas descobertas podem oferecer insights sobre como os traumas afetam a saúde mental e física das gerações futuras. Enquanto isso, é importante considerar a complexidade dos fatores envolvidos, incluindo o ambiente e a cultura.
Compreender a herança dos traumas pode abrir caminho para intervenções mais eficazes e personalizadas. Até lá, a pesquisa continua a explorar as complexas interações entre genética, ambiente e comportamento na formação de traumas.