Golpe, Swat e sunga: 5 polêmicas envolvendo o senador Marcos do Val, alvo da PF
O aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve envolvido em ao menos cinco controvérsias neste ano — da divulgação de um suposto plano de golpe de Estado ao compartilhamento de documentos secretos de inteligência.
O senador Marcos do Val (Podemos-ES), que foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) na tarde de quinta-feira (15/6), acumula uma série de polêmicas e falas controversas.
O inquérito, que não teve os detalhes oficialmente divulgados até a publicação desta reportagem, foi autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e envolveu mandados de busca e apreensão em Brasília e no Espírito Santo.
Segundo informações divulgadas pela imprensa, os agentes da PF levaram computadores, pen drives e o telefone celular do senador, que também deve prestar depoimento durante o processo de investigação.
Ao longo da noite de quinta-feira, Do Val deu uma série de entrevistas. Ao canal GloboNews, ele classificou a operação como "uma tentativa de intimidação" e uma "emboscada".
"Se fui incluído como um possível suspeito de ato antidemocrático, o ministro [Alexandre de Moraes] precisa ser também, porque ele que me pediu para ir a essa reunião", declarou ele.
O senador se refere a uma suposta reunião, que teria sido convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-deputado Daniel Silveira no final de 2022, na qual se pretendia organizar um golpe de Estado. Segundo a versão de Do Val, o ministro Moraes o orientou a participar do encontro para obter informações.
A seguir, você confere os detalhes deste e de outros episódios recentes em que o senador esteve envolvido em polêmicas.
1. Suposta reunião para golpe de Estado e promessa de renúncia
Em fevereiro deste ano, Do Val disse em uma transmissão ao vivo nas redes sociais que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou coagi-lo a participar de um golpe de Estado.
Em entrevista à revista Veja, o parlamentar detalhou que Bolsonaro o procurou em 9 de dezembro do ano passado propondo uma forma de tentar impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e se manter no poder.
A ideia de Bolsonaro, segundo contou o senador, era que Do Val gravasse uma conversa sua com Alexandre de Moraes, com o objetivo de descredibilizar o ministro. Isso seria o pretexto para executar o golpe.
"A ideia era que eu gravasse o ministro falando sobre as decisões dele, tentar fazer ele confidenciar que agia sem observar necessariamente a Constituição. Com essa gravação, o presidente iria derrubar a eleição, dizer que ela foi fraudada, prender o Alexandre de Moraes, impedir a posse do Lula e seguir presidente da República. Fiquei muito assustado com o que ouvi", contou à Veja.
O senador disse à revista que denunciou a proposta de golpe ao próprio Moraes.
"Não somos íntimos, mas temos um excelente relacionamento. Por isso e também por dever cívico e de consciência —, relatei a ele o que estava acontecendo. Era a coisa certa a ser feita", afirmou.
Em entrevistas posteriores, às emissoras GloboNews e CNN Brasil, Do Val mudou detalhes de sua versão, afirmando que o presidente apenas escutou a ideia, mas não o coagiu a participar. O plano teria sido apresentado, no encontro, pelo então deputado federal Daniel Silveira.
Ainda segundo o senador, Bolsonaro teria assentido com a cabeça e, ao final, dito apenas que esperaria por uma resposta de Do Val sobre sua possível participação.
Logo após a repercussão do episódio, Do Val anunciou que iria renunciar ao mandato de senador e se afastar de forma definitiva da vida política.
Poucas horas depois, porém, ele voltou atrás e disse que a decisão foi anunciada "num momento de muita raiva" após ter sido chamado de "traidor" nas redes sociais.
"Foi aquele desabafo. Quando você está nervoso, você fala coisas. Como em qualquer discussão de casal, depois você se arrepende do que fala. Nunca fui político. Quando você entra aqui, tem hora que a gente fica com vontade de ir embora. Foi um desabafo na minha rede social", disse durante uma entrevista coletiva.
2. Membro da SWAT
Do Val é fundador do Centro Avançado em Técnicas de Imobilização (Cati), uma empresa que oferece serviços de consultoria e treinamento para forças policiais e profissionais de segurança.
Em sua biografia, ele afirma ser "criador das inovadoras técnicas de imobilizações táticas, hoje difundidas em várias unidades policiais ao redor do mundo".
Do Val também diz que atuou "como instrutor em imobilizações táticas, abordagens táticas, retirada de suspeitos em veículos e outros procedimentos táticos para unidades da Swat [Táticas e Armas Especiais, na sigla em inglês] de diversas cidades, e inclusive acompanhou algumas operações".
Ele ainda foi consultor das gravações do filme brasileiro Tropa de Elite, dirigido por José Padilha e Marcos Prado.
O senador sempre veste roupas e acessórios com a sigla "SWAT" — a imagem que usa no perfil do Twitter, por exemplo, é uma montagem dele próprio abrindo o paletó e a camisa social para mostrar um colete de operações militares por baixo.
A polêmica neste caso é o fato de não existir uma instituição formal chamada "SWAT" nos Estados Unidos.
Trata-se apenas de um nome que é usado para designar certos batalhões de operações especiais das forças de segurança de algumas cidades americanas específicas.
3. Embates com Dino e fotos de sunga
No dia 9 de maio, Do Val e o ministro da Justiça, Flávio Dino, protagonizaram uma cena que ganhou repercussão no noticiário e nas redes sociais.
Durante uma audiência da Comissão de Segurança Pública do Senado Federal, Do Val questionou as ações de Dino durante os ataques ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro.
"Estas construções mentais que o senhor faz, muito singulares, realmente não têm suporte nos fatos [...] É bom o senhor refletir sobre isso, porque eu sou senador da República, sou ministro de Estado, e estou disposto a enfrentar este debate em qualquer lugar", respondeu Dino.
O ministro continuou: "Não precisa o senhor ir para a porta do Ministério da Justiça fazer vídeo de internet, porque se o senhor é da SWAT, eu sou dos Vingadores. O senhor conhece Capitão América, Homem Aranha? Então, é assim que a gente faz o debate democrático."
Ao falar em Vingadores, Dino fez referência aos filmes da franquia de super-heróis da Marvel.
Semanas depois, no dia 1º de junho, Do Val fez uma publicação nas redes sociais em que comparou fotos de sunga de si mesmo e de Dino.
Na legenda, ele usou os termos "SWAT" e "Vingador" e também escreveu: "Cada um usa a arma que tem."
4. Divulgação de documentos da Abin
Na última segunda-feira (12/6), três dias antes da operação da PF, Do Val usou o Twitter para compartilhar trechos que seriam de relatórios sigilosos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Nas fotos divulgadas, há páginas impressas com trechos pintados na cor verde.
No texto que acompanha as imagens, o senador declarou que os documentos mostravam "a prevaricação dos ministros Flávio Dino, GDias [Gonçalves Dias, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o GSI], Alexandre de Moraes e do presidente Lula".
"Agora vocês vão entender o medo que o governo Lula estava e porque eles estavam tentando de tudo para não ter a CPMI [Comissão Parlamentar Mista de Inquérito]", escreveu.
Na postagem, ele se refere à CPMI dos Atos Antidemocráticos, que foi instalada no Congresso Nacional no final de maio e da qual ele próprio faz parte como parlamentar.
Segundo o portal G1, a divulgação desses documentos seria um dos motivos por trás da operação da PF realizada na quinta-feira.
5. Críticas ao STF
Do Val também é um crítico contumaz do Supremo Tribunal Federal e, em particular, do ministro Alexandre de Moraes.
Em uma de suas mais recentes postagens nas redes sociais, Do Val classificou as ações de Moraes como "anticonstitucionais" e disse que "cabe aos senadores fiscalizar, afastar e até fazer o impeachment de ministros do STF".
Ele declarou, inclusive, que iria convocar Moraes para depor na CPMI dos Atos Antidemocráticos.
Nas entrevistas dadas nas últimas horas, o senador também disse que as buscas e apreensões eram uma "audácia" e uma "retaliação" de Moraes por causa da convocação para que o ministro do STF desse um depoimento no Congresso Nacional.
Moraes não fez nenhum comentário público desde que a operação da PF veio à toda.