Governador Eduardo Leite e apresentador se desentendem ao vivo; veja o vídeo
Leite acusou André Trigueiro de ter "falta de empatia" com o Rio Grande do Sul. Foi neste momento que o jornalista pediu a palavra e subiu o tom com o entrevistado.
O jornalista André Trigueiro e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, se desentenderam ao vivo durante entrevista veiculada na noite desta quarta-feira (6) pela GloboNews. O tema da conversa era a tragédia causada pelas fortes chuvas, consequência de um ciclone extratropical, que já vitimou mais de 30 pessoas no estado.
Logo no início do bate-papo, que depois se tornou um bate-boca, Leite afirmou que foi "surpreendido" pelo volume de chuvas, já que os modelos matemáticos não teriam previsto a intensidade das precipitações. O governador destacou, ainda, que está fazendo de tudo para salvar vidas.
Trigueiro, que há décadas cobre pautas relativas ao meio ambiente e às mudanças climáticas, acabou subindo o tom, destacando que o discurso de Leite é o mesmo utilizado por outros políticos em tragédias do tipo, chamando a atenção para o fato de que o trabalho de prevenção e de retardamento das mudanças climáticas, que envolvem políticas públicas ambientais, não é feito.
Visivelmente irritado, Leite, acusou o jornalista de ter "falta de empatia" com o Rio Grande do Sul. "Você quer colocar a culpa em mim porque eu falei sobre os modelos matemáticos que não apontaram a precipitação?", questionou o governador. Foi neste momento que Trigueiro pediu a palavra e subiu o tom com o entrevistado.
"Governador, para ficar bem claro, eu cubro esse assunto há 30 anos e a forma como exerço meu ofício não é exclusividade da pergunta que eu fiz ao senhor (…) Quando ocorre um evento dessa escala, dessa ordem de grandeza de tanta dor e sofrimento, é nosso dever fazer perguntas. É o meu ofício. A pergunta que eu lhe fiz não remete a apertar botões", disparou o jornalista.
Em meio às tentativas de Leite de interromper, Trigueiro prosseguiu:
"Só um pouquinho, só um pouquinho. Eu lhe ouvi, eu preciso dizer. Eu falei de cultura de prevenção, que não necessariamente se resolve apertando botão em quatro anos. É uma forma de tentar encarar o problema que não está, eu diria, dissociado de uma realidade absolutamente conhecida em que modelos matemáticos e previsão do tempo não resolve. Eu não estou culpando ninguém, estou lhe perguntando", pontuou.
"O senhor não deve se vitimizar! Deve responder", disparou ainda.
Veja a cena:
O bicho pegou entre André Trigueiro e Eduardo Leite na GloboNews. pic.twitter.com/hMXDqTZunM
— Lázaro Rosa (@lazarorosa25) September 7, 2023
MetSul contesta fala do governador
Em nota oficial, a MetSul Meteorologia desmentiu as declarações feitas por Eduardo Leite durante sua participação no programa da GloboNews, sobre as previsões meteorológicas após a passagem do ciclone que deixou 39 mortos no estado.
Confira a íntegra da nota da MetSul Meteorologia:
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, afirmou em entrevista ao programa Em Pauta, da GloboNews, na noite desta quarta-feira, que os modelos matemáticos de previsão do tempo de institutos meteorológicos não indicavam o volume de chuva que atingiu o estado nos últimos dias.
"Os modelos matemáticos previram as chuvas, em intensidade, mas não previram o volume de cerca de 300 milímetros nas diversas bacias hidrográficas da zona Norte do estado, da Região Noroeste, da Região Serrana, do Vale do Taquari - este que foi mais afetado", disse para o canal de notícias.
A declaração do governador, infelizmente, não procede. O momento no Rio Grande do Sul é de união de esforços de todos os gaúchos - e somos gaúchos - para apoiar e socorrer as vítimas da terrível catástrofe que se abateu sobre as comunidades do Vale do Taquari e do Norte do estado. Os esforços devem se concentrar nas pessoas e nas iniciativas para a retomada de um mínimo de normalidade.
O governador em sua fala, contudo, coloca em xeque o trabalho da Meteorologia e, por efeito, o nosso trabalho. Não era o nosso desejo emitir esta nota oficial neste momento de calamidade estadual, mas os esclarecimentos são devidos à sociedade gaúcha.
A MetSul Meteorologia foi o único ente de previsão do tempo a advertir para a possibilidade de volumes de chuva acima de 300 mm na Metade Norte gaúcha neste começo de setembro. Como em junho tinha sido o único a alertar para a chuva extrema de 350 mm no Litoral Norte no ciclone. Como em fevereiro último emitiu a única previsão de chuva de 500 mm a 700 mm no Litoral Norte de São Paulo, prognóstico que foi reputado como "impossível" por especialistas ouvidos na mídia.
Estas previsões foram baseadas na experiência dos nossos profissionais de até 40 anos no ramo meteorológico e nas nossas ferramentas de previsão do tempo em que a nossa empresa investiu nos últimos anos que incluem modelos próprios e os de maior índice de acerto do mundo, considerados "padrão ouro" na ciência meteorológica.
No dia 31 de agosto, cinco dias antes da catástrofe, a MetSul Meteorologia publicou alerta com o título: "Setembro começa com chuva extrema, onda de tempestades e enchentes". O aviso trazia projeção de modelo de 300 mm a 500 mm na Metade Norte e a nossa advertência de que poderia chover mais de 300 mm.
No dia seguinte, em 1º de setembro, 72 horas antes do desastre, novo alerta sob o título "Alerta: chuva virá com volumes excepcionais de até 300 mm a 500 mm". O texto dizia que "o cenário de precipitação para estes primeiros dez dias de setembro não tem precedentes nos últimos anos", acrescentava que "os acumulados de precipitação em algumas cidades gaúchas somente durante os primeiros dez dias do mês podem atingir praticamente a média histórica de chuva de toda a primavera" e enfatizava que "a situação foge ao convencional".
O alerta assinalava que "estatísticas históricas do Brasil e do exterior mostram que o excesso de chuva causa mais vítimas fatais que vento forte ou tempestades, assim chuva extrema é situação de elevado perigo". Destacava ainda: "bacias de maior risco são aquelas que cortam o Noroeste, o Norte, o Centro e o Nordeste do estado, o que inclui os rios que cortam os vales (Taquari, Caí, Sinos e Paranhana) assim como o Jacuí e o Uruguai". E advertia para enchentes repentinas com o aviso de potenciais acidentes fatais com veículos em correnteza, causa de algumas das lamentáveis mortes neste evento trágico.