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Gravataí: enchentes de maio tiveram impacto menor que cheias de 2023

Na maior tragédia climática do Estado, Gravataí sofreu menos que outras cidades da região metropolitana e serviu como ponto de ajuda humanitária

4 jul 2024 - 14h43
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A maior tragédia climática que já impactou o Rio Grande do Sul atingiu 478 dos seus 497 municípios. Gravataí foi uma das cidades afetadas, contudo sofreu consideravelmente menos que vizinhas da região metropolitana como São Leopoldo, Canoas e a capital Porto Alegre. No pior momento das cheias, mais de 615 mil pessoas deixaram suas casas em todo Estado. Em São Leopoldo 100 mil pessoas saíram de seus lares, mesmo número de Canoas.

Foto: Divulgação / Porto Alegre 24 horas

Na capital, mais de 127 mil foram atendidas em abrigos. No mesmo momento, Gravataí, ao lado, teve cerca de 2 mil pessoas desalojadas. Com menos impactos, Gravataí se reergueu com agilidade e se colocou à disposição para ajudar a Região Metropolitana. A Central de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa-RS), instalou suas operações provisoriamente no centro de distribuição da rede de farmácias São João em Gravataí; também na cidade o posto Santo Graal, às margens da Freeway, serviu como rodoviária improvisada para quem precisava ir até Florianópolis e acessar o aeroporto; a Cruz Vermelha e os conselhos federal e regional de enfermagem (Cofen e Coren/RS) também montaram base no município para atender vítimas da maior enchente da história. Mais de 1.700 pessoas de outros municípios ficaram em abrigoscriados na cidade.

Segundo o prefeito de Gravataí, Luiz Zaffalon, o município ter cumprido com a obrigação de estar em dia com ações de prevenção o colocou em posição de prestar ajuda.

"Estamos felizes, claro, por nossa cidade ter sido menos afetada, mas isso não é razão para celebrar e, sim, colocar Gravataí à disposição para ajudar o restante do estado e mostrar a

importância do investimento em ações de prevenção à tragédias climáticas", disse.

Os impactos das cheias em Gravataí foram amenizados porque a cidade aprendeu a lição depois de sofrer com um ciclone extratropical em junho de 2023. Na ocasião, o Rio Gravataí invadiu bairros como Vila Rica, Novo Mundo, Caça e Pesca, Mato Alto e Passo das Canoas. Cerca de 8 mil gravataienses tiveram que deixar suas casas. Abrigos foram abertos pela prefeitura em escolas, igrejas e também em Centros de Tradições Gaúchas. Em algumas casas, a água chegou a dois metros de altura.

Segundo o secretário do Meio Ambiente de Gravataí, Diego Moraes, após as cheias de junho, já foram investidos mais de R$ 15 milhões em ações, como o desassoreamento de arroios e de áreas do Rio Gravataí. Outra iniciativa foi dar andamento ao Plano Diretor de Drenagem e Manejo das Águas Pluviais (PDDrU), que havia sido requisitado pela prefeitura ainda em janeiro de 2023, antes da cheia. "Começamos a trabalhar com o enfrentamento da situação, mas também planejamento e com a criação do plano de drenagem", coloca.

O projeto do plano prevê um investimento total de mais de R$ 300 milhões, a modernização de toda a rede de drenagem da cidade e ações como o desassoreamento de arroios que chegam ao Rio Gravataí, além da readequação de pontes e pontilhões, delimitação das faixas de Áreas de Preservação Permanente (APPS), entre outras medidas.

Segundo o secretário de Obras Públicas de Gravataí, Guilherme Ósio Jerônimo, o desassoreamento já foi feito em mais de 20 quilômetros de trechos de arroios da cidade.

"Nós aprendemos a lição. Nas cheias de meio deste ano, bairros que antes ficavam isolados não estão mais; Casas onde a água entrou dois metros, agora entrou 20 centímetros", destaca.

Plano de Drenagem ajudará cidade e rio a conviverem melhor

Na língua Guarani, Gravataí significa "Rio dos Gravatás". Gravatá é uma plantacaracterística da região. O rio nasce no banhado que abrange as cidades de Santo Antônio da Patrulha, Glorinha, Cachoeirinha, Alvorada, Viamão e Gravataí. Mais do que dividir o mesmo nome, cidade e rio precisam aprender a conviver da melhor forma. A engenheira civil Deisy Maria Andrade Batista coordena o consórcio Concremat-Rhama, vencedor da licitação para a elaboração do Plano de Drenagem. Ela explica que o crescimento desordenado das cidades deixa evidente, a cada chuva, as carências de infraestrutura básica, o que gera os problemas de inundação. Ela destaca ainda que a ocupação das Áreas de Preservação Permanente (APPs) vêm contribuindo na degradação do ecossistema, com perda da biodiversidade e redução das áreas de escoamento natural das águas do Gravataí e seus arroios. Neste cenário, a convivência harmoniosa entre rio e cidade se torna urgente.

"O objetivo final do Plano é que a cidade possa conviver harmonicamente com o seu rio, este verdadeiro patrimônio ambiental que a percorre de ponta a ponta. É muito mais do

que diminuir os alagamentos e recuperar as áreas de drenagem. É devolver à bacia do Gravataí os seus pulmões e seu sistema circulatório", diz Deisy.

O PDDrU é a primeira etapa de um trabalho minucioso de análise e elaboração de propostas de medidas - estruturais e não estruturais - que serão transformadas em ações. A engenheira explica que a decisão política e a disponibilização de recursos do município para elaboração do plano foram passos fundamentais para que Gravataí tenha hoje uma gestão mais eficiente do seu sistema de drenagem. Contudo, as ações não são apenas imediatas. O PDDrU prevê iniciativas para os próximos 20 anos.

"E não serão somente obras, mas também legislações e tomadas de decisão sobre o controle de cheias e as APPs, além da montagem de uma estrutura administrativa robusta capaz de executar as ações previstas", explica Deisy.

O Plano contém 10 fases. Já foram realizadas as duas primeiras - Plano de Trabalho e Plano de Mobilização e Comunicação Social - e está agora na fase de Levantamento de Informações Básicas. "O planejamento é o primeiro passo. O desafio é executar o que for proposto no curto, médio e longo prazos", coloca a engenheira. As ações seguintes do plano são Avaliação Hidrológica-hidráulica dos Cenários; Indicação de Faixas e Áreas de Preservação; a criação de Programas de Controle de Cheias; criação de Cadernos Temáticos; realização de um Programa Municipal de Drenagem e Manejo das Águas Pluviais; confecção de um Manual de Drenagem e Manejo das Águas Pluviais e a Consolidação e Relatório Final e Banco de Dados.

Plano prevê a participação da comunidade

Na rua Amapá, bairro Passo dos Ferreiros, a casa do construtor civil Cláudio Luis da Silva, de 58 anos, foi atingida nas duas enchentes - a de junho de 2023 e na de maio de 2024. Na primeira delas, as águas que transbordaram do arroio Demétrio, que passa próximo ao local, entraram cerca de dois metros de altura na residência. "No dia, eu estava com meus três netos e tivemos que sair de barco pois a água subiu muito rápido. Eu perdi tudo", recorda.

Em maio deste ano, mais uma vez, Cláudio foi atingido. Desta vez com menos intensidade, mas ainda com volume suficiente para que ele deixasse a casa novamente. "Não chegou nem perto da do ano passado, desta vez a água veio abaixo da altura da janela", conta. Para Cláudio, a principal diferença entre as duas cheias, foi o desassoreamento do arroio. "Aqui onde eu moro foi feita limpeza no arroio Demétrio e foi de grande diferença, pois, em relação ao ano passado, o volume de chuva foi mais que o dobro", relata.

O problema de Claudio ainda não terminou, mas ele sente que os primeiros passos estão sendo dados para que, na próxima cheia, sua casa não seja atingida. "Vejo melhorias no preparo da cidade, com alertas, com fiscalização da guarda municipal nos dias de chuva, com auxílio da defesa civil e bombeiros. Minha opinião é que devem continuar com a limpeza tanto do arroio Demétrio quanto do rio Gravataí para buscar uma solução definitiva para essas enchentes", enfatiza.

A solução definitiva para as enchentes, tão desejada por Claudio, é também o objetivo do Plano Diretor de Drenagem e Manejo das Águas Pluviais (PDDrU). Para elaboração de seus próximos, a participação de Claudio e da comunidade é vital, pois estão previstas a realização de seminários e consultas públicas.

O papel dos gravataienses, no entanto, vai além da participação no planejamento das ações. "O plano é como um pacto entre a administração pública e a sociedade. Entre as obrigações da comunidade é preciso estar a participação na coleta seletiva, a mudança de hábitos quanto à disposição de lixo em vias públicas, a ligação domiciliar à rede de esgoto cloacal e principalmente a não ocupação de áreas de risco, que serão definidas pelo Plano", aponta a engenheira Deisy Maria Andrade Batista.

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