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Greves de caminhoneiros pelo mundo e seus efeitos

30 mai 2018 - 15h00
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Ao longo dos anos, motoristas de caminhões fizeram grandes manifestações em vários países, em geral motivados por altos preços de combustíveis. Mas há também um caso patrocinado pela CIA.Assim como no atual movimento dos caminhoneiros no Brasil, a elevação dos preços dos combustíveis esteve entre os principais motivos para greves históricas em países como Grécia e Colômbia. Mas houve também paralisações que levaram ao reconhecimento de sindicatos e ao estabelecimento de direitos trabalhistas, como nos EUA na época da Grande Depressão.

Salvador Allende foi primeiro presidente socialista-marxista eleito democraticamente na América Latina
Salvador Allende foi primeiro presidente socialista-marxista eleito democraticamente na América Latina
Foto: DW / Deutsche Welle

No Chile, no início dos anos 1970, o protesto se dirigiu contra uma possível estatização do setor. No entanto, soube-se posteriormente que esse movimento grevista de caminhoneiros e empregadores foi financiado pela agência de inteligência americana, a CIA, com o intuito de derrubar o presidente Salvador Allende.

Atualmente, os motoristas iranianos também protestam há alguns dias por salários mais altos e melhores condições de trabalho, sofrendo intimidações da Guarda Revolucionária e dos serviços de inteligência. Observando o histórico de algumas greves importantes, no geral elas têm em comum o mesmo pano de fundo: o mau desempenho da economia.

Minneapolis, EUA, 1934

Conhecida como "Teamsters' Strike", esta pode ter sido a primeira grande greve de caminhoneiros da história. Na época, os sindicatos estavam ganhando força na luta por aumentos de salários e melhores condições para os trabalhadores.

Mas os empregadores se recusavam a reconhecer o sindicato organizado por 3 mil motoristas de caminhões. Eles então entraram em greve, e o conflito se acirrou.

Quando a polícia e a Guarda Nacional foram chamadas para vigiar caminhões, a milícia local foi ativada. Para informar o público sobre os acontecimentos, os líderes da paralisação publicaram um jornal diário. Centenas de grevistas foram presos, e houve embates violentos por dois dias. A greve terminou em 25 de maio de 1934, quando o sindicato foi reconhecido, e suas reivindicações, atendidas.

Chile, 1972

Em outubro de 1972, caminhoneiros chilenos tiraram seus veículos das estradas para protestar contra a criação de uma autoridade nacional de caminhões, afirmando que isso poderia estatizar seus negócios. Outros profissionais manifestaram simpatia, e a paralisação se estendeu a varejistas, médicos, dentistas, taxistas e motoristas de ônibus. Houve vários dias de tumultos nas ruas de Santiago.

O governo impôs lei marcial e assumiu o controle de estações de rádio e TV. O então presidente, Salvador Allende, afirmou que alguns grevistas teriam cometido atos de sabotagem.

Em 1974, fontes de inteligência revelaram que a CIA financiara a greve de caminhoneiros e empregadores que abalou o Chile durante 26 dias, provocando crises trabalhistas no governo de Allende, morto durante o golpe militar de 1973.

EUA, 1974

No início dos anos 1970, o embargo dos países árabes elevou o preço do barril do petróleo em 200%. Em janeiro de 1974, a elevação dos preços do diesel levou a um movimento de caminhoneiros autônomos nos EUA, bloqueando estradas e impedindo caminhões de transportarem combustível. A greve contra o aumento dos preços terminou em fevereiro, com dois motoristas mortos e dezenas de feridos.

EUA, 1979

Em junho de 1979, uma greve de caminhoneiros autônomos paralisou boa parte do transporte de cargas nos EUA. A paralisação também foi marcada pela violência contra os empregados de companhias que não participaram do movimento, que era contra o aumento de preços de combustível e regulações federais e estaduais. Houve três mortes por tiro e dezenas de feridos por tijolos arremessados das estradas.

Na época, o líder da Associação dos Motoristas Autônomos, Mike Parkhurst, afirmou que se todos os motoristas parassem, não haveria violência. Durante 25 anos, ele editou a revista Overdrive, que lutava pelos direitos dos caminhoneiros e convocava as greves. Em 1980, o Congresso americano aprovou a Lei do Transporte Motorizado (Motor Carrier Act).

EUA, 1983

O Motor Carrier Act desregulamentou parcialmente a indústria de caminhões, pondo fim ao controle de preços e rotas. Houve forte dessindicalização dos trabalhadores, pressionando salários e aumentando a competição. Em 1982, outra lei federal americana padronizou o peso e o tamanho dos veículos de carga nas autoestradas interestaduais, evitando problemas de controles nas fronteiras estaduais.

Em 1983, os motoristas autônomos iniciaram nova greve contra uma lei federal americana que aumentava impostos sobre gasolina e diesel, impondo também taxas sobre veículos pesados e maiores. Eles argumentavam que, devido ao mau estado da economia e à forte competição, eles não estariam em condições de repassar o aumento de custos de combustível e impostos.

A paralisação não foi apoiada pelas motoristas de empresas e por seu sindicato IBT (Irmandade Internacional de Caminhoneiros). Na época, os autônomos perfaziam cerca de um quarto dos caminhoneiros do país. A greve evoluiu para uma manifestação violenta, com um morto a bala e vários feridos. Depois de 11 dias, a greve terminou com a promessa de uma audiência no Congresso sobre os problemas dos caminhoneiros.

Grécia, 2010

Em julho de 2010, o governo grego empregou os militares para assegurar o fornecimento de combustível e o transporte de cargas depois que uma greve de proprietários de caminhões paralisou o país. Eles protestavam contra o projeto de lei que desregulamentava o número de licenças para caminhoneiros, antes limitado a 30 mil e a um custo de até 300 mil euros.

Além do emprego de caminhões-tanque militares para garantir o abastecimento, a polícia também vigiou o transporte de combustível até os postos. Grevistas apedrejaram caminhões, mas não houve feridos. Na época, o primeiro-ministro George Papandreou afirmou que, apesar da greve, a lei seria implementada, pois "quando há profissões fechadas, é claro que aumentam os custos de transportes e dos produtos."

Colômbia, 2016

Em junho e julho de 2016, governo de Juan Manuel Santos enfrentou a maior greve de caminhoneiros na história da Colômbia, que paralisou o país por 45 dias. Os profissionais exigiam redução dos preços de combustível e de pedágios, fretes melhores, segurança nas estradas e acesso à seguridade social. Eles também protestavam contra concorrência desleal de veículos de carga sem permissão.

A longa paralisação teve consequências para todos os setores, desde o aumento do preço de alimentos ao desabastecimento de produtos básicos e insumos para a indústria. A greve também provocou uma sensível redução das exportações de café arábica, aumentando o preço do produto no mercado internacional.

Para garantir o abastecimento, o governo empregou 50 mil militares para vigiar os comboios de caminhões com alimentos e combustível. Os embates entre manifestantes e policiais deixaram um morto, além de dezenas de feridos, presos e estradas bloqueadas.

A greve terminou com um acordo entre o governo e os sindicatos de caminhoneiros. Os caminhoneiros alcançaram uma atualização das tarifas de frete, um novo plano de aposentadoria e um programa para tirar de circulação caminhões velhos e obsoletos.

No entanto, o governo não cedeu na redução das tarifas de combustível e pedágios, uma das principais demandas dos motoristas de caminhões.

Irã, 2018

Mesmo transcorrendo num regime autoritário, como o da República Islâmica do Irã, a greve de caminhoneiros que se iniciou na semana passada já chega ao seu nono dia. Segundo o portal de notícias Euronews, em algumas cidades do país, os motoristas de ônibus também aderiram à paralisação.

O protesto se dirige contra os baixos salários e os altos custos para os caminhoneiros. Eles também exigem direitos sociais básicos. Depois de vários dias de greve, o governo ofereceu um aumento das tarifas de frete, mas os protestos continuam, com o apoio de agricultores, por exemplo na região de Isfahan.

Segundo o Euronews, além do aumento da gasolina, há escassez de combustíveis e longas filas nos postos. Citando vários relatos da mídia da oposição, o portal informou ainda que a Guarda Revolucionária e o serviço de inteligência têm tentado intimidar os grevistas, enviando mensagens de texto ou convocando-os para interrogatórios.

Com postos de fronteiras também bloqueados pelos protestos dos caminhoneiros, aparentemente há problemas com a importação e a exportação de mercadorias. Em meados de maio, motoristas de metrô em Teerã também entraram em greve por melhores salários.

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