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Grupo alemão se desculpa por obra com "cinzas de vítimas" do Holocausto

5 dez 2019 - 12h15
(atualizado às 12h21)
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Coletivo de artistas diz que errou ao erguer instalação com terra retirada de regiões próximas a campos de extermínio nazistas. Monumento em Berlim foi alvo de críticas por violar tradição judaica de respeito aos mortos.O coletivo de artistas Centro de Beleza Política (Zentrum für Politische Schönheit - ZPS) pediu desculpas nesta quarta-feira (04/12) por uma instalação que supostamente contém amostras de solo com cinzas de vítimas do regime nazista.

A chamada "Coluna da Resistência" exibe terra retirada de áreas onde funcionaram campos de concentração
A chamada "Coluna da Resistência" exibe terra retirada de áreas onde funcionaram campos de concentração
Foto: DW / Deutsche Welle

A obra foi colocada na segunda-feira a alguns metros do prédio do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), em Berlim, como parte de uma campanha para alertar o partido conservador da chanceler federal Angela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), sobre os perigos de alianças com os populistas de direita da legenda Alternativa para a Alemanha (AfD).

"Gostaríamos de pedir desculpas sinceras aos afetados, parentes e sobreviventes, cujos sentimentos ferimos", escreveu o ZPS em comunicado publicado em seu site. "Cometemos um erro."

"Pedimos desculpas especialmente às instituições, associações e indivíduos judeus que consideram que, através de nossa obra, o respeito aos mortos conforme a lei religiosa judaica esteja sendo profanado ou tocado", completa o texto.

A obra recebeu uma enxurrada de críticas, inclusive das comunidades judaicas.

"Do ponto de vista judaico, a última campanha do Centro de Beleza Política é problemática porque viola a lei religiosa judaica de não perturbar os mortos", disse o presidente do Conselho Central de Judeus na Alemanha, Josef Schuster, em comunicado enviado à DW. Segundo ele, seria sensato o grupo consultar um rabino antes de coletar amostras de solo.

Num primeiro momento, o grupo tentou se defender das acusações de profanação de restos humanos argumentando que não havia sepulturas nas regiões onde as amostras foram encontradas.

Um evento planejado pelo ZPS para este sábado foi cancelado, mas o grupo não confirmou o destino do memorial nem das cinzas, dizendo no comunicado que gostaria de receber sugestões de como seria um local apropriado para os restos mortais humanos.

A chamada "Coluna da Resistência" consiste em um cilindro cinza parcialmente iluminado por dentro com uma luz laranja, possibilitando ao público observar a amostra de solo que está dentro da peça.

Testes laboratoriais comprovaram em 70% das amostras restos mortais de humanos. O grupo disse que passou dois anos cavando e testando o solo perto de regiões onde "os nazistas aperfeiçoaram e industrializaram o assassinato em massa".

As amostras foram recolhidas em 23 localidades na Alemanha, Polônia e Ucrânia, em regiões próximas a campos de extermínio nazistas, entre eles Auschwitz, Sobibor e Treblinka. As cinzas e restos mortais das vítimas costumavam ser espalhados pelos nazistas em florestas e rios perto desses locais.

O local onde foi erguida a instalação, entre a sede do Bundestag e a Chancelaria Federal, foi escolhido com intuito de posicionar a obra onde antigamente ficava a Casa de Ópera Kroll, onde os membros do Parlamento alemão deram ao ditador Adolf Hitler poder praticamente ilimitado em 1933.

O coletivo de artistas ZPS é conhecido por suas ações controversas. Para protestar contra a política de refugiados da União Europeia, em 2014, os ativistas roubaram cruzes de um memorial às vítimas do Muro de Berlim, divulgando posteriormente fotos de migrantes segurando-as, antes de devolvê-las ao lugar de origem.

Em 2017, o grupo construiu uma réplica do Memorial do Holocausto em Berlim em frente à casa de Björn Höcke, político da AfD, em Bornhagen, na Turíngia. No início daquele ano, o populista de direita havia classificado o memorial como "monumento da vergonha."

Enquanto ainda há debates sobre o futuro do governo de coalizão de Merkel, crescem as preocupações de que seu partido de centro-direita, a CDU, possa quebrar sua promessa e vir a colaborar com a AfD, que tem atualmente a terceira maior bancada do Parlamento alemão.

MD/afp/epd/dpa

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