Afronta de Musk ao STF estimula ódio em grupos e teses de Bolsonaro no poder
Comunidades no Telegram atacam Moraes e relacionam atuação de ministro à Gestapo, polícia nazista que perseguia opositores de Adolf Hitler
As afrontas do dono do X (antigo Twitter), Elon Musk, ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e à corte estimularam discursos de ódio, antissemita e teses fantasiosas em grupos de extrema direita. Entre domingo, 7, e a manhã desta segunda, 8, a coluna acompanhou manifestações em comunidades bolsonaristas e de extrema direita com acesso público no Telegram.
“Basta alguém com coragem suficiente para ligar os pontinhos. Um post inteligente, um Musk resolver responder. Aí a gente dá o troco pro judeu Barroso -> 'perdeu, mané'”, escreveu um participante no grupo “Selva & Aço”, que possuí 38,6 mil inscritos. A fala com teor antissemita foi comemorada com emojis de joinha e uma chama de fogo por mais de 100 membros.
Em postagens na rede X desde sábado, 6, o empresário acusou Moraes e o Judiciário brasileiro de promoverem “censura agressiva” e pedidos que “violam a lei brasileira”. Ele ameaçou não cumprir decisões do ministro e da corte que determinam o bloqueio e restrição de perfis que cometem crimes.
Após os ataques de Musk e ameaças de não cumprir decisões, Moraes determinou a abertura de inquérito contra o biolionário. No domingo, o blogueiro bolsonarista e foragido da Justiça, Allan do Santos, apareceu online na rede fazendo ataques a Moraes, em uma transmissão ao vivo para cerca de 10 mil pessoas. Santos foi proibido de acessar a rede por decisão do magistrado em 2021. O blogueiro vive nos Estados Unidos desde de 2020 e é uma das principais referências para o discurso bolsonarista.
O empresário se diz um defensor da liberade de expressão e seu interesse no Brasil vai além de uma defesa ideológica. Musk possui negócios no Brasil e interesse em concorrências públicas como no serviço de internet por satélite. O bilionário investe em diferentes áreas da tecnologia como o setor aeroespacial e de carros elétricos. Desde que assumiu o comando do Twitter, em 2022, o X perdeu 65% de valor.
Investigações da Polícia Federal sobre milícias digitais e tentativa de golpe de Estado consideram que as redes sociais, além de terem sido usadas para disseminar ódio e ataques a autoridades políticas, serviram de meio para golpistas articularem a tentativa de tomada do poder, culminando nos ataques de 8/1. O governo Lula (PT) defende a regulamentação de redes sociais, mas enfrenta resistência no Congresso e pelas chamadas "big techs", empresas de tecnologia responsáveis pela concentração de mercado e controle das redes sociais.
Grupos inflamados
No grupo “Selva Brasil Oficial”, com 22,3 mil inscritos, participantes comemoravam a atitude de Musk: “vai jogar tudo no ventilador”, “foi pra cima de vez”. Um dos usuários estimulou ataques ao ministro Alexandre de Moraes comentando um post que o comparava ao vilão de Harry Potter, Lord Voldemort: “Façam mais que ele adora ser ridicularizado”.
No grupo “Vista Pátria”, participantes comentaram uma postagem sobre o “enfrentamento” de Musk chamando Moraes de “cabeça de ovo” e “cabeça de piroca”. “Já mandou a Gestapo Federal pegar todos os Satélites do Elon Musk?”, questionou um membro em referência a polícia secreta nazista que monitorava e perseguia grupos e pessoas contrários ao regime de Adolf Hitler.
“Ninguém está comentando que o Teatro das Eleições de 2022 está por um fio de ser revelado e q (sic) Bolsonaro deve voltar ao poder antes de Trump”, escreveu um participante do grupo “Selva & Aço”. Bolsonaro, no entanto, está impedido de voltar ao poder pelas vias legais. O ex-presidente foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação por reunião convocada com embaixadores para criticar o sistema eleitoral em 2022.
Os grupos misturam postagens sobre textos bíblicos, convocação para o ato organizado por Bolsonaro para o dia 21 de abril, no Rio de Janeiro, e memes sobre política.
Em algumas postagens há referência ao “sinédrio”, uma assembleia de juízes judeus que constituía a corte e legislativo supremos da antiga Israel.