Associação Yanomami diz que governo não dialogou com indígenas e teve ações frustradas
Nota pública foi divulgada nesta sábado, 20, data que marca 1 ano do decreto de emergência sanitária editado pelo presidente Lula (PT)
A Hutukara Associação Yanomami, uma das mais representativa do povo Yanomami, divulgou uma nota pública considerando “falhas” as ações do governo Lula (PT) junto aos indígenas e reclamando da falta de diálogo. O documento foi divulgado neste sábado, 20, data que marca um ano do decreto editado pelo presidente Lula (PT) para adotar medidas emergenciais sobre a crise humanitária dos Yanomamis.
“O governo federal não dialogou com as lideranças para saber qual melhor plano a ser trabalhado para salvar o nosso povo dessa tragédia, por isso as ações do primeiro ano foram frustradas”, diz a nota.
Na segunda, 15, em entrevista à coluna, o vice-presidente da associação, Dário Kopenawa, disse que a nova proposta do governo de criar uma Casa de Governo ao custo de R$ 1,2 bilhão não vai resolver a morte, a desnutrição, casos de malária e demais problemas da população Yanomami.
A nota da associação deste sábado rebate o posicionamento que a Casa Civil havia dado à coluna em relação às críticas de Dário Kopenawa.
Ao Terra, a Casa Civil havia dito, na segunda, 16, que “o diálogo com todos os setores da sociedade é valor inegociável para o Governo Federal e não seria diferente neste momento em que todos os esforços são empenhados para sanar a crise que afeta os povos yanomami”.
Segundo a Casa Civil, as associações indígenas “tiveram oportunidade de apresentar suas manifestações no Fórum de Lideranças da Terra Indígena Yanomami, realizado no mês de julho de 2023, em que o governo esteve presente e tem utilizado como instrumento balizador dos planos elaborados no território”.
A associação Hutukara rebateu a posição da Casa Civil.
“A HAY [Hutukara Associação Yanomami] vem esclarecer que em nenhum momento durante a realização do Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana, ocorrido em julho do ano passado, na região de Maturacá, houve alguma pactuação entre as lideranças e o governo federal sobre qualquer tipo de Plano de Ações direcionado a crise humanitária na TIY e as lideranças somente tomaram conhecimento da existência dessa nova ação de estrutura permanente em Roraima para coordenar as ações e serviços públicos direcionados a nós, povos da Terra Yanomami, por meio da imprensa”.
Na nota, a Hutukara reclama da falta de apoio para conseguir autorização para sobrevoos na Terra Indígena Yanomami. Ainda critica falas feitas nesta semana pela ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, sobre a dificuldade de combater a crise.
A Casa Civil foi procurada por e-mail na manhã deste sábado e ainda não semanifestou sobre a nota. Caso se posicione, o conteúdo será atualizado.
Crise humanitária
Um grupo de ministros esteve na terra Yanomami há duas semanas por determinação do presidente Lula. Estiveram na comitiva os ministros dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida; do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva; e dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. Eles desembarcaram em Boa Vista e seguiram para Auaris, no território demarcado. Após a visita, um deles relatou à coluna que a situação dos indígenas está "muito ruim", ainda que tenha melhorado em relação ao ano passado.
Segundo dados do Ministério da Saúde, no ano passado foram notificadas 308 mortes no território. O número é cerca de 10% menor do que em 2022, sob gestão de Jair Bolsonaro (PL), quando foram registrados 343 óbitos.
Os dados da pasta indicam que em 2023, foram realizados ao menos 21 mil atendimentos de saúde aos indígenas encontrados em grave situação de abandono, foram enviadas 4,3 milhões de unidades de medicamentos e insumos, e aplicadas 52.659 doses de vacinas. De acordo com o Ministério da Saúde, ao longo do ano passado, 416 crianças Yanomamis diagnosticadas com desnutrição grave ou moderada foram recuperadas. Atualmente, 960 profissionais de saúde atuam no território, número, que segundo a pasta, é 40% superior ao efetivo de 2022.
Veja íntegra da nota da associação Hutukara: