Com avanço de investigações da PF e CPMI e sobre militares, comandantes se reúnem com Lula
Encontro, fora da agenda, aconteceu no sábado, 19, no Palácio da Alvorada. Investigações miram escândalo de joias e fraude em urnas
Em meio ao avanço das investigações da Polícia Federal (PF) e da CPMI do dia 8/1 que revelam indícios de crimes particados por militares no caso das joias e fraude às urnas, os três comandantes das Forças Armadas se reuniram com o presidente Lula (PT). A reunião aconteceu sábado, 19, no Palácio da Alvorada e não consta na agenda oficial de Lula, nem do ministro da Defesa, José Múcio, que também participou da conversa.
Uma fonte que esteve presente contou à coluna, na condição de anonimato, que o encontro serviu para os militares dizerem a Lula que "interessa às Forças que os fatos [investigados pela PF] sejam devidamente esclarecidos e a decorrente individualização das condutas" e que trabalham internamente para ajudar as investigações e punir investigados.
O apelo dos militares e Múcio tem um teor político, já que seria crime se Lula interferisse nas investigações da Polícia Federal. Internamente na PF, a determinação é para apuração rigorosa dos casos e se houver identificação de crimes praticados por militares não deve haver receio em prender os envovlidos, seja o criminoso um soldado ou um general.
Participaram, além de Lula e Múcio, os comandantes do Exército, general Tomás Paiva, da Marinha, almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro de ar, Marcelo Kanitz Damasceno. A informação foi publicada inicialmente pelo jornal O Globo e confirmada pela coluna.
Segundo o relato desta fonte, a reunião se deu de maneira "inteiramente informal" e Lula "reiterou a confiança nas Forças", além da disposição em viabilizar investimentos no Ministério da Defesa.
Entre os auxiliares de Lula não há consenso sobre o tratamento que deve ser dado às Forças Armadas. Alguns ministros próximos ao presidente defendem uma atuação mais enérgica de isolamento dos militares. Lula, no entanto, adotou um tom conciliador e evita confronto com os militares.
Investigações sobre militares
Na semana passada, as Forças Armadas ganharam os holofotes com as revelações da PF sobre negociação de joias envolvendo o tenente-coronel da ativa Mauro Cid, seu pai, general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, e outros militares de alta patente.
Além disso, vieram a público as falas do hacker Walter Delgatti. Ele disse à CPMI que seguiu orientações de Jair Bolsonaro (PL) e trabalhou junto com o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, para levantar dúvidas infundadas sobre as urnas perante o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O depoimento mudou o panorama da investigação, que pela primeira vez passou a considerar o avanço sobre a cúpula militar.
"A ideia do ministro [general do Exército Paulo Sérgio Nogueira] era que eu mostrasse que não é segura, que é vulnerável a urna. O relatório foi feito nesse sentido, de não comprovar a lisura. [Comprovar] a fragilidade”, disse Delgatti.
Desde os atos golpistas do dia 8 de janeiro, a PF se debruça sobre diferentes investigações que levam a envolvimento de militares que vão desde os acampamentos que abrigaram golpistas em frente aos quartéis até a atuação operacional em meio à quebradeira. Uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes deu força para que as investigações avancem aos militares, que possuem um sistema de Justiça Militar, dissociado da justiça civil.
O Palácio do Planalto e o Minsitério da Defesa foram questionados pela coluna sobre o motivo do encontro não constar na agenda oficial e detalhes do que foi discutido. Se houver manifestação, a reportagem será atualizada.