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Guilherme Mazieiro

Como fez André Mendonça, Dino recusa festa e irá à Igreja após posse no STF

Indicado por Lula traz a possibilidade de uma atuação e aproximação da esquerda junto a religiosos e, principalmente, evangélicos

22 fev 2024 - 10h44
(atualizado às 12h57)
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Flávio Dino em discurso na tribuna do Senado: 'Quem sabe, após a aposentadoria, eu possa aqui estar'
Flávio Dino em discurso na tribuna do Senado: 'Quem sabe, após a aposentadoria, eu possa aqui estar'
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado / Estadão

O novo ministro que tomará posse no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta, 22, Flávio Dino, optou por não participar das luxuosas festas que associações ligadas ao Direito bancam para paparicar os novos membros da corte e, em vez disso, irá a uma missa na Catedral Metropolitana de Brasília. Convites não faltaram, foram dezenas. Mas o primeiro compromisso de Dino seguirá o mesmo roteiro que foi feito pelo “terrivelmente evangélico”  e colega de toga, André Mendonça: a igreja.

O ex-ministro de Bolsonaro assumiu a cadeira no STF e partiu para celebrar um culto em Brasília promovido pela Assembleia de Deus em Madureira, instituição à qual o ministro é ligado. Na ocasião que uniu em um templo religioso um ato particular de fé e um evento público de um ministro, Mendonça foi anunciado como “pastor” e reforçou que o “Estado é laico”. O Estado no Brasil, de fato é laico, mas a atuação religiosa dentro dele é cada vez mais constante e intensa - veja como são explorados à exaustão temas da “pauta de costume” durante as campanhas eleitorais.

Dino, que é católico e sempre professou essa fé, vem dizendo que trocou a figura combativa político-partidária pelo perfil de juiz discreto. E recusar participação nas festas onde os seletos ingressos costumam custar acima de R$ 600 por pessoa ajuda a sustentar esse novo perfil.

Conforme foi se aproximando a indicação e a posse de Dino, a cada fala pública que fez, ele trouxe consigo mais citações bíblicas e exaltações a Deus. Com essas metáforas, além de quebrar a resistência de conservadores que temiam por um “comunista e radical”, afrouxou um pouco o personagem do “Dino lacrador e debochado”, que a oposição explora.

O campo religioso e conservador é, justamente, onde a esquerda tem mais dificuldade de inserção. A bancada da Bíblia, comandada em geral por evangélicos, faz uma oposição ferrenha à gestão Lula (PT) enfileirada na “trincheira de defesa dos princípios”, como relatei nesta entrevista.

A entrada de Dino no Supremo pode abrir um caminho para a esquerda avançar e se posicionar em discussões sobre costumes e temas de interesse dos religiosos sem decisões radicais, buscando entendimento entre diferentes visões de mundo e teses jurídicas. Isso porque, ainda que reforce o perfil conservador, Dino diverge de Mendonça em trajetória pública e convicções pessoais, com uma visão progressista, longe do reacionarismo. No médio e longo prazo as decisões e teses do novo ministro poderão familiarizar de maneira mais natural líderes religiosos e seus fiéis com líderes de esquerda e seus militantes.

O partido fundado por Lula em 1980 surgiu à base do novo sindicalismo com apoio de intelectuais e também de movimentos progressistas da Igreja Católica que lutavam contra a ditadura militar. Ainda que Dino tenha trilhado seu caminho político fora do PT (foi filiado ao PCdoB e PSB), ele viu de perto seu campo ideológico se afastar dos templos religiosos ao longo dos anos e sabe o custo desse distanciamento.

Pelo governo, Lula tenta a aproximação com o segmento religioso a partir de Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), evangélico. Não por acaso ele foi cotado para assumir o posto no STF. Lula preferiu Dino.

Ainda que normalmente sejam entendidos como grupos homogêneos e de atuação em bloco, há na Bancada da Bíblia, como em qualquer ambiente de poder, disputas, divergências e articulações para diferentes caminhos.

Flávio Dino sempre teve bom trânsito entre as mais diversas associações e grupos políticos e pode se tornar um ativo para a esquerda no trânsito e entendimento de pauta com os religiosos. Não por acaso é apontado no meio político como uma das novas lideranças da esquerda junto com Fernando Haddad (Fazenda).

A posse de Dino deve ter ao menos 900 convidados e autoridades no STF, que vão lotar o plenário para a sessão marcada para às 16h. Com os protocolos e discursos, é improvável que o evento termine e todos consigam tirar uma foto cumprimentando o novo ministro até às 19h, horário da missa. Assim, o tradicional ‘beija-mão’ deve continuar na Catedral, na outra ponta da Esplanada dos Ministérios, reforçando ainda mais o novo perfil de Dino.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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