Maratona de 150 reuniões madrugada adentro e fisioterapia, a rotina do relator da reforma tributária
Senador Eduardo Braga (MDB-AM) flexibilizou o texto para conseguir maioria no Senado; pelo seu gabinete passaram mais de 1,3 mil pessoas
Projetos complexos como a reforma tributária exigem muitas horas trabalhadas, reuniões e negociações políticas. Assim é com a reforma tributária, tema que há 30 anos é discutido no Brasil e está em votação no Senado nesta semana. Veja aqui mudanças no texto.
O relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC), senador Eduardo Braga (MDB-AM), desde agosto, tem a função de organizar o texto aprovado na Câmara para apresentá-lo à votação dos senadores. Para chegar a um texto de consenso e conseguir mais apoio do que rejeição à proposta, participou de cerca de 150 reuniões no seu gabinete.
Se considerados eventos públicos, foram dezenas de entrevistas pelos corredores do Congresso, nove audiências na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e duas no plenário. Segundo o balanço feito pela sua assessoria, nesses 120 dias, sua equipe de gabinete recebeu cerca de 1,3 mil pessoas de diferentes setores e segmentos da sociedade que pediram para ajustar, tirar ou manter partes do texto.
O início do trabalho pela reforma teve um pequeno acidente de percurso. Com cerca de 15 dias na função de relator, machucou o joelho ao desembarcar pelas escadas de um avião em São Paulo, onde falaria à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A torção necessitaria de cirurgia, mas para evitar um repouso forçado, passou a fazer sessões semanais de fisioterapia e seguir nas agendas com dores, contando com ajuda familiar da esposa e primeira suplente, Sandra Braga, para cumprir agendas das 8h à meia-noite. Ao longo desses meses, foi às agendas usando cadeira de rodas, bengala e mais recentemente sem ajuda de tecnologia assistiva.
O assunto que muda a estrutura tributária do país leva à Brasília todo tipo de interesse. Passaram pelo gabinete do senador - e também dos ministros do governo e da oposição - lobistas dos mais diversos setores: de igrejas a montadoras multinacionais, das diferentes áreas da indústria ao comércio informal e turismo, de pequenos a grandes produtores rurais, além de prefeitos e governadores.
Foram apresentadas 802 emendas, propostas para alteração de trechos do texto. O relator acatou, total ou parcialmente, 247 delas.
Para aprovação
Na noite desta segunda-feira, 6, às vésperas de levar o texto para votação na CCJ do Senado, o senador se reuniu com o presidente Lula (PT). O encontro marcado às pressas e, inicialmente, fora da agenda do presidente começou às 19h30 e se estendeu por quase três horas. Lula, Braga, líderes aliados ao Planalto e os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) discutiram pontos para avançar com a PEC que é uma das pautas mais importantes do primeiro ano dessa gestão petista.
O ajuste político é de interesse do governo, mesmo que para isso flexibilize o texto e abra mão de manter os vetos do marco temporal das terras indígenas, como ponderou o líder do governo, senador Jaques Wagner (PT-BA), após a reunião. E o cuidado com o Senado é maior, pois foi dali que saiu um recado para o Planalto de que a base não era tão sólida como se imaginava.
Braga deixou o Palácio por volta das 22h30, e se reuniu com seus assessores no Senado até por volta de 1h. Os assessores só conseguiram ir embora mais tarde, quando finalizaram ajustes técnicos e da escrita da proposta, por volta das 4h.
O relato de assessores de Braga é de que parte desse trabalho se dá sob comando de mulheres. Sua equipe é comandada por mulheres, da chefia de gabinete, às assessorias legislativas de comunicação e orçamento.
Na tarde desta terça, 7, o resultado deste trabalho teve maioria para ser aprovado na CCJ. Falta a aprovação da PEC no plenário da Casa, junto aos 81 senadores.