Ministro diz que Brasil “se dá bem com Palestina e Israel” e isso facilitou repatriação
Mauro Vieira afirmou que se o país classificasse o Hamas como “terrorista”, poderia ter tido dificuldade na retirada de brasileiros
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que a operação de retirada de 1.135 brasileiros de Israel foi possível porque o Brasil “se dá bem com os dois lados, Israel e Palestina”. E que se o país adotasse uma postura para classificar o Hamas como “terrorista”, poderia ter tido dificuldade.
A avaliação do ministro do governo Lula (PT) que coordena a operação de repatriação foi feita em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado, nesta quarta, 18. Ele respondia aos questionamentos do senador Carlos Viana (Podemos-MG) sobre o Brasil não condenar o Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza, como organização terrorista.
“Nossa preocupação não foi em tomar posição política, porque o Brasil se dá e se dá bem com os dois lados, Israel e Palestina. E graças a isso conseguimos ter diálogo com os dois lados, um diálogo muito fluido para conseguir retirar os brasileiros”, disse o ministro Vieira.
“Se nós tivéssemos adotado uma posição desse tipo [de classificar o Hamas como terrorista], não teríamos a facilidade com que fomos tratados pelo lado palestino, por exemplo, poderia criar uma dificuldade”, disse Vieira, ressaltando que essa é a posição adotada pela diplomacia brasileira também em outros conflitos internacionais.
O chanceler disse que a diplomacia brasileira segue o entendimento da Organização das Nações Unidas (ONU), que não classifica o Hamas como grupo terrorista.
“Qualquer resolução que tivesse os termos que o senhor usou, considerando [o Hamas] uma organização terrorista, estaria contrário aos dispositivos da ONU e teria oposição e veto dos outros países”, afirmou o ministro em resposta a Viana sobre a votação que aconteceu no Conselho de Segurança.
O chanceler disse que a proposta do Brasil apresentada e votada no Conselho de Segurança nesta quarta foi debatida por três dias com os países membros buscando uma linguagem aceita por todos para alcançar o objetivo principal, de assistência humanitária aos palestinos. Na votação, apenas os Estados Unidos vetaram a proposta. Por serem membros permanentes do conselho, sua posição foi suficiente para derrubar o texto.
O senador Carlos Viana, que concorreu ao governo de Minas Gerais apoiado por Bolsonaro em 2022, defendeu "o fim do Hamas" e que a Faixa de Gaza passe a ser controlada pela ONU. O senador fez críticas à proposta apresentada pelo Brasil ao Conselho de Segurança, que segundo ele, seria um apoio político e diplomático ao Hamas.
O senador lembrou que Lula tratou o ataque do Hamas contra civis de Israel, no dia 7 de outubro, como "terrorista". Ele considerou que essa posição "é um passo", mas defende precisa de uma posição oficial do governo contra o Hamas.
Resgate de brasileiros
Desde a escalada do conflito entre o Hamas e Israel, o governo trabalha para repatriar brasileiros que estão na região. Segundo o Itamraty informou nesta quarta, o sexto voo da Força Aérea Brasileira (FAB) deve pousar no Rio de Janeiro com 219 passageiros, totalizando 1.135 brasileiros retirados de Israel.
A maior dificuldade está na retirada dos cerca de 30 brasileiros e familiares que estão na Faixa de Gaza. A região sofre um bloqueio e é alvo de milhares de bombardeios de Israel. A diplomacia busca entendimento junto a países vizinhos como Líbano e Egito para conseguir a abertura da fronteira e dar sequência à retirada.
Uma aeronave da Presidência pousou hoje no Egito para entregar uma carga de doação humanitária, com kits médicos e de medicamentos.