Opinião: A tática do centrão para entrar no governo Lula
Caso Lula (PT) atendesse a toda barganha, teria feito praticamente duas trocas de comando por semana. Soaria como crise.
Quase todo dia, manchetes com informações em off (quando as fontes pedem para não ser identificadas pelos jornalistas) noticiam que o “centrão mira tal e tal ministério”. É assim que os políticos testam a aceitação de suas ideias por outras autoridades e pressionam o Planalto por mais recursos e cargos em troca de apoio nas votações do governo.
A especulação via noticiário não é novidade na política brasileira. O que ocorre atualmente, é que os órfãos do orçamento secreto em vez de oferecerem propostas para integrar o governo, pressionam a qualquer custo. Fazem um movimento coordenado para inundar os jornais com diversos pedidos, se valendo de argumentos difusos e machistas para tentar derrubar autoridades e emplacar aliados que muitas vezes nem entendem do ministério que vão comandar.
A partir dos incansáveis pedidos feitos em “offs” pelo União Brasil, PP e Republicanos na imprensa, soubemos, que no último mês, o centrão pleiteou o controle dos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Esporte, Desenvolvimento Social, Saúde, mais a Caixa, Embratur, Correios e Funasa. Caso Lula (PT) atendesse a toda barganha, teria feito praticamente duas trocas de comando por semana. Soaria como crise.
Nos pedidos, a bancada dos insaciáveis, comandada por homens, justifica que eles ajudariam o governo caso tomassem o comando das pastas que estão nas mãos de mulheres como Saúde (Nísia Trindade), Caixa (Rita Serrano), Esportes (Ana Moser) e Turismo (Daniela Carneiro). Isso porque a substituição resolveria a “inabilidade” delas no trato político, já que “não entendem a dinâmica da liberação de emendas e recursos”, etc. É uma tentativa tosca de tentar vender machismo como se fosse um argumento razoável.
Essa estratégia do centrão rendeu muita emenda e trouxe vitórias nas pautas econômicas do governo. Mas por enquanto, apenas uma troca de ministério.
Nesta quinta, 13, Lula selou com o União Brasil a saída da ministra do Turismo para nomeação de Celso Sabino (União Brasil-PA), que nunca foi entusiasta do setor ou do tema. Note que o partido comanda outras duas pastas: Integração Nacional, com Waldez Goés, que apesar de ser do PDT foi indicado na cota do União Brasil; e Comunicações, com Juscelino Filho. Mas o alvo da bancada era Daniela Carneiro, que em abril alegou assédio por parte da cúpula do partido e pediu na Justiça a desfiliação.
Onde o espaço barganhado é ocupado por homens, os argumentos do centrão mudam e não buscam desmerecer o trabalho: “são petistas” e por isso é uma substituição menos dolorosa, como o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, e os presidentes da Embratur, Marcelo Freixo, e dos Correios, Fabiano Silva; ou “é alguém da cota de Lula”, como o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB).
Nas pastas que abrigam programas-chave do governo como Saúde (Mais Médicos) e Desenvolvimento Social (Bolsa Família), Lula pôs fim a qualquer esperança do centrão. Disse que Nísia fica até quando “eu quiser”; e que o Ministério do Desenvolvimento Social “é meu”.
A defesa deste último ministério foi feita nesta semana, em entrevista à Record TV, na qual Lula distribuiu recados: “não é o partido que quer vir para o governo que pede ministério, é o governo que oferece ministério”. Mais enfático, o presidente criticou os jornalistas, dizendo que por conta do recesso do Congresso, a imprensa coloca a “imaginação fértil para funcionar” e “todo dia cai alguém”.
Lula arrematou a entrevista dizendo que “[a mudança nos ministérios] só vai acontecer quando eu quiser. O conselho que dou é o seguinte: fique de olho no que vou fazer e só vou fazer depois de julho, quando o Congresso voltar a funcionar”. Ainda há jogo pela frente.
Foi mais na raça do que na técnica, mas o governo conseguiu suportar as caneladas e a pressão do centrão para chegar ao final do primeiro tempo de 2023 com alguma vantagem. Com o jogo paralisado, Lula botou a bola debaixo do braço e embarcará neste fim de semana para Bruxelas. O time seguirá com Nísia e Wellington Dias como titulares. Já as mudanças para o segundo tempo de 2023, só saberemos na volta do intervalo.
Bom fim de semana!
Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui e receba os próximos conteúdos.