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Guilherme Mazieiro

Opinião: Boulos tenta colar Nunes ao crime, que rebate falando em extremismo

Boulos insistiu em investigações contra o prefeito e denúncias de infiltração do PCC, Nunes resgatou posicionamentos antigos de Boulos.

25 out 2024 - 23h53
(atualizado em 26/10/2024 às 01h45)
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Nunes defende atuação de Bolsonaro na pandemia: 'A vacina que você tomou foi ele que mandou'.
Nunes defende atuação de Bolsonaro na pandemia: 'A vacina que você tomou foi ele que mandou'.
Foto: Reprodução

O último debate à eleição de São Paulo foi quente, com momentos de tensão cara a cara entre os candidatos Guilherme Boulos (Psol) e Ricardo Nunes (MDB). Na noite desta sexta, 25, na TV Globo, Boulos mostrou amplo domínio do palco e de fala. Nunes melhorou bastante, ainda que sem energia, se portou com mais energia, mesmo tropeçando nas palavras, foi mais bem preparado do que nos últimos debates. No palco, ambos circularem bem, usaram o espaço do estúdio e o mapa da cidade no chão para apontar promessas e feitos nas diferentes regiões.

Antes de entrarmos no debate, vou fazer uma breve contextualização. O atual prefeito lidera nas pesquisas de intenção de voto desde o fim do primeiro turno e, tomando isso por base, tem grandes chances de vencer. Nos últimos dias, Boulos oscilou para cima e Nunes para baixo, mostrando alguma movimentação no humor do eleitor. Por não ter um apoiador militante e muito apaixonado, ao longo da semana, Nunes pediu para seus eleitores irem às urnas. Na campanha, há dois temores, o impacto da abstenção e de não conseguir fidelizar o voto do eleitor de Pablo Marçal (PRTB). Afinal, o que vale mesmo é o voto registrado na urna, não só a intenção.

Boulos aposta no aumento dessa variação nas pesquisas, em virar votos de centro e na abstenção. Nesse contexto, saíram faíscas do debate.

Nunes começou com a voz trêmula. Melhorou ao longo do programa, mas a partir do terceiro bloco, quando o embate esquentou, voltou a mostrar alguma ansiedade. No quarto bloco, quando reclamava da proximidade de Boulos - que o rodeava e se aproximava dele constantemente - deu a deixa para o psolista falar:

"Eu sei que você tem medo de debate". O emedebista rebateu: "zero medo de você".

Na sequência, Boulos seguiu: "fico imaginando você em uma reunião com as empresas de ônibus, empreiteiras, a Enel. Se você não consegue ter uma postura firme em um debate, eu imagino defendendo a cidade".

No debate foram apresentadas propostas, as mesmas que todo mundo que acompanha as campanha já ouviu. Os ataques também foram o mesmo. Boulos retomando investigações contra a prefeitura, a gestão e sobre Nunes.

O primeiro bloco do debate girou em torno de dois temas que rivalizam direita e esquerda: privatização e segurança. Nunes insistiu em temas macro, com a votação sobre endurecimento de penas e saidinha. 

Boulos questionou alguns assuntos, como a fala de Nunes no debate anterior, da Record, sobre ver crianças brincando na Praça da Sé, às 11 horas da noite. No coração da capital, o local tem uma realidade bem diferente. Ainda que haja policiamento, a paisagem noturna é composta por moradores de rua abandonados à própria sorte e usuários de drogas vagando.

Boulos perdeu uma oportunidade de martelar um tema que está na vida do paulistano: furto de celular. Em regiões como a das avenidas Paulista e da rica Faria Lima (onde se concentram grandes investidores e gente de grana) não é incomum ver placas alertando sobre o risco de ter seu celular tomado.

O segundo bloco permitiu mais discussões sobre temas da cidade, focado em saúde. E esquentou no terceiro bloco com Boulos partindo para o ataque. Mais moderado do que no primeiro debate na Band, mas não menos incisivo.

Boulos fez perguntas diretas como: você não respondeu à Polícia Federal porque recebeu pagamentos que seriam da sua empresa em sua conta bancária pessoal? Nunes tentava mudar o assunto falando de vagas em creches e sobre uma detenção de Boulos em 2017 como integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.

Boulos tentou colar suspeitas de corrupção em Nunes, de má gestão, insistindo - de novo - no desafio de abrir o sigilo bancário para a população. O atual prefeito não respondeu.

Nunes apresentou obras e feitos de sua gestão. Mostrou mais firmeza do que estávamos acostumados a ver para se defender e tentou vincular assuntos nacionais e pautas do Psol em Boulos, como arcabouço fiscal, votações sobre endurecimento de penas e drogas no Congresso.

Interessante notar que os padrinhos políticos de Nunes, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Jair Bolsonaro (PL), e de Boulos, Lula (PT), pouco apareceram. Essa percepção já havia sido identificada pelo Real Time Big Data divulgada pelo Terra.

Boulos teve melhor desempenho, mas Nunes não ficou muito atrás. No entanto, mais importante do que o debate é a repercussão dele. O que o eleitor vai receber de informação, vai considerar e a decisão que vai fazer sobre seu voto. Descobriremos no próximo domingo, 27.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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