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Guilherme Mazieiro

Opinião: Cadeirada de Datena em Marçal mostra que violência engaja nas redes

Xingamentos e agressões não vão resolver buraco na rua, hospital lotado e crime organizado no transporte público.

16 set 2024 - 01h22
(atualizado às 01h26)
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Datena dá cadeirada em Pablo Marçal durante debate.
Datena dá cadeirada em Pablo Marçal durante debate.
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A agressão física de Datena (PSDB) às provocações de Pablo Marçal (PRTB) foi o pior momento - até aqui - da campanha deste ano à prefeitura de São Paulo. O ex-coach é provocador e propaga um discurso violento desde o início da corrida, seja quando tenta culpar Tabata Amaral (PSB) pelo suicídio do pai, que era dependente químico, seja ao sugerir que Guilherme Boulos (Psol) é usuário de cocaína - uma fala sem fundamento.

O primeiro debate, em agosto, já mostrava o nível baixo das discussões entre os atuais postulantes à comandar a maior cidade do país. A qualidade piorou, e muito. Neste domingo, 15, presenciamos o ápice dessa escalada violenta.

A violência e a política se cruzam há milênios em guerras, golpes, assassinatos. Todo mundo já ouviu a fala “até tu, Brutus?”, que teria sido dita pelo imperador romano Júlio César quando era assassinado por um grupo de senadores.

Vídeo: assista ao momento em que Datena bate em Marçal durante debate da TV Cultura:

O Brasil é um país historicamente violento, principalmente com negros, indígenas, mulheres e pobres. E há pelo menos 10 anos, pulsa no país uma veia que normaliza a violência e o ódio como ferramentas políticas na política institucional: no Congresso, nas Câmaras de vereadores, etc. Ataques a adversários, jornalistas, países vizinhos ou parceiros comerciais se tornaram algo rotineiro.

O discurso de ódio dos últimos anos é uma tônica da extrema direita. Jair Bolsonaro (PL) e o gabinete do ódio amplificaram essa prática nos quatro anos de gestão que tiveram. Isso quem diz é a Polícia Federal, que investiga indícios de que o antigo governo tinha uma estrutura montada para atacar "inimigos" políticos nas redes sociais (destaquei em aspas para mostrar que, na lógica deles, quem diverge não é adversário e sim algo a ser combatido). Bolsonaro e os demais investigados negam o gabinete do ódio.

Mas o ódio e a violência extrapolam esse espectro político. O próprio Bolsonaro foi alvo de um atentado a facada que quase lhe tirou a vida, quando era candidato em 2018.

Assim é o caso de Datena. Ele se coloca como um nome de centro e, a princípio, avesso às práticas de ódio na política. Ele já tinha ameaçado agredir Marçal em outro encontro mas recuou. Hoje, provou que a violência está à flor da pele.

O caso deste domingo aconteceu justamente no debate mais rígido que tivemos. Foram estipuladas diversas regras para tentar minimizar as agressões e trocas de acusações e as lacrações em redes sociais. Como se viu, não funcionou. O programa até começou morno, mas saiu de controle.

O ex-apresentador de TV reagiu às provocações e ataques verbais de Marçal partindo para agressão física. Nada disso deixa o ato animalesco de Datena menos grave e condenável.

O condutor do debate, Leão Serva, interrompeu o programa e chamou os comerciais. No segundo seguinte, o assunto já tomava as redes sociais.

O debate voltou na TV. E seguiu com o tom agressivo de Guilherme Boulos (Psol) e Ricardo Nunes (MDB) trocando acusações e xingamentos. Tabata e Marina Helena (Novo), ao contrário, mantiveram a decência e o respeito.

Esse fato político novo na eleição - uma agressão física entre candidatos - vai ser explorado pelos postulantes, mesmo que seja em tom de condenação do ato. Ou seja, eleitor, a violência continuará rendendo engajamento político e likes em rede social. 

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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