Script = https://s1.trrsf.com/update-1723493285/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Guilherme Mazieiro

Opinião: Caos na Venezuela obrigou Milei a engolir orgulho e recorrer a Lula

Quando a coisa é situação é séria, o bordão ‘viva la libertad, carajo’ é só uma tosquice populista.

2 ago 2024 - 11h11
Compartilhar
Exibir comentários
Embaixada da Argentina na Venezuela com bandeira do Brasil hasteada.
Embaixada da Argentina na Venezuela com bandeira do Brasil hasteada.
Foto: Reprodução

Para surpresa de ninguém, já virou meme a bandeira brasileira hasteada na embaixada da Argentina na Venezuela. A imagem incomum e surpreendente - que ilustra a Peneira Política de hoje - representa a atuação da diplomacia brasileira ante a crise que se aprofunda após as eleições venezuelanas. As novas cores verde-amarelo da embaixada argentina simbolizam a custódia que o Brasil faz das dependências e o trabalho de manutenção de bens, arquivos e interesses daquele país na Venezuela.

O corpo diplomático argentino, assim como o de outros seis países (Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai), foi expulso do país por Nicolás Maduro após questionarem o anúncio de reeleição do ditador. Restou ao falastrão presidente Javier Milei engolir o orgulho e xingamentos que faz a Lula e pedir socorro à diplomacia brasileira.

Logo ele, que há menos de um mês, esteve no Brasil para se encontrar com Jair Bolsonaro (PL) e ignorou a diplomacia e o presidente brasileiro. No agradecimento público que fez nesta quinta, 1º, não citou o nome de Lula. Mas deixou a lição de que quando a coisa é séria, o bordão ‘viva la libertad, carajo’ é só uma tosquice populista.

'A situação na Venezuela não tem nada de normal', avalia colunista de política do Terra:

Os Estados Unidos, com enorme interesse econômico na Venezuela - país com as maiores reservas de petróleo do mundo -, começaram a semana em um tom ameno que já se transformou em uma certeza de que a vitória das eleições foi do opositor Edmundo González. O Brasil adota a cautela.

No início da noite desta quinta, 1º de agosto, o governo brasileiro emitiu uma nota conjunta com México e Colômbia para reforçar a disposição que acompanham “com muita atenção o processo de escrutínio dos votos e fazemos um chamado às autoridades eleitorais da Venezuela para que avancem de forma expedita e divulguem publicamente os dados desagregados por mesa de votação”.

A nota segue afirmando que “as controvérsias sobre o processo eleitoral devem ser dirimidas pela via institucional. O princípio fundamental da soberania popular deve ser respeitado mediante a verificação imparcial dos resultados”, e pedindo cautela aos atores políticos e sociais para evitar a escalada de violência e manter a paz.

Um ponto importante do texto é o que reitera “nossa disposição para apoiar os esforços de diálogo”. A nota que parece não dizer muita coisa com esse tom “isentão”, na verdade tem um objetivo claro: acalmar os ânimos, evitar uma escalada da situação dentro da Venezuela e na região. A boa condução da política internacional se dá mais por esses meios do que no grito e na bomba.

Lula, que tinha feito uma fala desastrosa durante a semana, dizendo que não vê nada de “anormal” na Venezuela, consegue com esse posicionamento conjunto mostrar disposição ao diálogo e manter o Brasil como um ator importante na região. 

A política internacional tem esse ritmo diferente. Quem apostar em bravatas, vai colher fracassos. Já vivemos no Brasil uma situação semelhante à da Argentina. Mas aqui, sob a ignorância de Jair Bolsonaro, enfrentamos um cenário mais grave e tresloucado.

O país, não por acaso, caminhava para se tornar um pária (estar à margem) internacional. Lembram da imagem de Bolsonaro vagando isolado no encontro do G7? O então chanceler Ernesto Araújo preferia ver a política externa do Brasil sendo condenada por outras nações do que, nas suas palavras,  se aliar ao "cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e semicorruptos".

Bolsonaro chegou ao ponto de ameaçar belicamente os Estados Unidos em novembro de 2020. Se referindo ao então candidato Joe Biden (e atual presidente), disse que somente a diplomacia poderia ser insuficiente para contornar o embate sobre proteção da Amazônia: “quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão, não funciona. Não precisa nem usar pólvora, mas tem que saber que tem. Esse é o mundo”.

O cenário da Venezuela é incerto e a cada dia surgem novas falas, notas e decisões que podem mudar o rumo da história. Nesse contexto, um desafio se coloca para os atores regionais. Se Maduro apresentar as atas das eleições, será suficiente para o Brasil se convencer do resultado? E se não apresentar?

A percepção na diplomacia, por enquanto, é de se enfrentar um dia de cada vez.

Bom fim de semana!

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui, gratuitamente, e receba os próximos conteúdos.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade